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Sindicato pede boicote à aplicação da avaliação bimestral de alunos da rede estadual do Rio

Felipe Martins

Do UOL, no Rio de Janeiro

27/06/2012 06h00

O Sepe–RJ (Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação) convoca para hoje e amanhã paralisação dos professores da rede estadual. O objetivo é o boicote ao Saerjinho, exame bimestral de avaliação dos estudantes dos últimos ciclos dos ensinos Fundamental e Médio.  Para a Seeduc (Secretaria Estadual de Educação), as provas são fundamentais para diagnosticar e corrigir problemas nas escolas. Para o sindicato, o Saerjinho reduz o ensino a um sistema empresarial de produção.

O Saerj (Sistema de Avaliação da Educação do Estado do Rio de Janeiro) começou a ser aplicado em 2008.  Segundo a Secretaria estadual de Educação, tem por função avaliar o desempenho dos alunos e monitorar a qualidade do ensino de cada escola da rede pública. Cerca de 350 mil alunos devem fazer as provas de português, matemática e ciências no ensino fundamental. No ensino médio, são feitas provas de química, física e biologia. Além das provas bimestrais do Saerjinho, os alunos fazem anualmente em novembro o Saerj, exame anual para a medição do que aprenderam ao longo de todo o período letivo.

Para a coordenadora do Sepe-RJ, Vera Nepomuceno, o Saerj/Saerjinho estabelece um sistema produtivista nas escolas, não levando em conta a formação anterior de cada aluno e a realidade particular de cada escola. “O professor perdeu autonomia, passou a ser um mero executor da política da Secretaria Estadual de Educação. Uma verdadeira avaliação é feita com o professor em sala de aula discutindo o currículo com os alunos, avaliando o grau em que estes alunos estão. O Saerj é elaborado por fundações externas que não estão em contato com a realidade desses estudantes. São provas que vem de fora para dentro, não respeitam o conhecimento aprendido pelo aluno no período”, disse.

A falta de professores na rede estadual é outro problema apontado pela coordenadora do Sepe.  Segundo Nepomuceno, Alunos de escolas que ficaram sem professores de português, matemática ou até das duas disciplinas são avaliados de igual forma com alunos que não passaram pelo problema. “Nós conhecemos vários casos. Estudantes que ficam três, quatro meses sem aulas das disciplinas. Como esses alunos vão estar preparados para fazer uma prova em igual condição com os demais alunos da rede? Não tem como”, declarou.

Ao defender o Saerj, a Secretaria de Educação explica que as metas de avaliação são calculadas por escola, não havendo uma única meta para todas. Ainda segundo a Seeduc, no Saerj, no final do ano, professores, diretores e alunos preenchem questionários em que podem informar quais fatores interferiram na aprendizagem. A secretaria explica que as provas permitem a avaliação diagnóstica que permite aos professores aprimorarem suas ações pedagógicas. Por fim, a Seeduc diz que as provas são formuladas pela UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora).

“O Senhor Risolia [Wilson Risolia, secretário estadual de Educação] precisa fazer uma licenciatura para saber o que é uma avaliação diagnóstica. Avaliação diagnóstica o professor faz no início do ano para avaliar o aluno e montar o programa. Se fosse diagnóstica, seria feita em fevereiro. O Saerj é uma fraude vinda de uma secretaria autoritária que impõe um modelo empresarial, uma metodologia ditatorial que não combina com educação. Escola não é fábrica”, atacou Nepomuceno.

“Adestrados”

A Secretaria Estadual de Educação defende o Saerj/Saerjinho como forma de avaliação do desempenho de cada aluno da rede. Entretanto, para a coordenadora do Sepe, a avaliação criada pela Seeduc permite no máximo uma "fotografia do momento”. Vera Nepomuceno argumenta que os professores ficaram reféns do Saerj, determinando seus currículos a partir da prova. “Nós passamos a ter alunos treinados, adestrados para a prova. Esse argumento da secretaria é uma fraude. Basta o professor treinar o aluno com exercícios similares aos que vão cair no Saerj e conseguirão bons resultados. O aprendizado de um aluno depende de muitos fatores e não é uma prova vinda de fora que irá medi-lo”, comentou.

Dentro da política de meritocracia adotada pela secretaria, as equipes de educadores das melhores escolas avaliadas através do Saerj são premiadas. Se a escola atingir 95% da meta previamente estipulada, professores e diretores ganham até três vencimentos-base. Um equívoco na opinião do sindicato. O Sepe entende que a padronização de resultados não permite a professores e diretores de cada escola realizar seu trabalho de acordo com a realidade da comunidade onde a escola está localizada e as condições de vida dos alunos.

O Sepe defende uma política de valorização do magistério baseado em plano de carreira e data-base “Não é possível um professor do Estado receber R$ 1 mil de piso”, disse Nepomuceno. Pede ainda a melhoria das condições de infraestrutura das escolas e a reavaliação da grade curricular. “Enquanto um aluno do Colégio Pedro II (federal) tem seis tempos de história, os alunos da rede estadual têm apenas duas aulas da mesma matéria”, alegou.

Segundo a Secretaria de Educação, as provas do Saerjinho permitem às escolas implementar programas de reforço escolar e de formação continuada de professores. Os melhores alunos avaliados no Saerj ganham netbooks. Já os melhores avaliados no Saerjinho ganham passeios em pontos turísticos do Rio de Janeiro.

Secretaria diz repudiar atitude de sindicato

Procurada pela reportagem do UOL, a Secretaria Estadual de Educação afirmou repudiar a atitude do Sepe ao convocar os professores para uma paralisação nos dias de aplicação do Saerjinho.

De acordo com a Seeduc, a avaliação é um instrumento importante para que a Secretaria, as escolas e os docentes conheçam sua própria realidade e busquem alternativas para melhorar, cada vez mais, o ensino da rede estadual.

Ainda de acordo com a secretaria, se um professor se recusa a aplicar a prova, outro profissional de educação da equipe da escola é realocado para que os alunos não deixem de fazer o exame.