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Aluna diz que foi chamada de "pobre" e "fedorenta" por professora da UFRJ; docente nega discriminação social

Felipe Martins

Do UOL, no Rio de Janeiro

14/11/2012 19h46Atualizada em 14/11/2012 20h01

A doutoranda do curso de Química da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Andreia Silva de Souto, acusa a orientadora Suzana Borschiver de preconceito social. Segundo a aluna, oriunda de uma comunidade carente do Rio, a professora lhe chamou de "pobre" e "fedorenta" em uma discussão na universidade.

Borschiver não apenas nega as acusações como acusa Andreia de tê-la ofendido com gestos obscenos e agressões verbais. O caso aconteceu em outubro do ano passado, quando Andreia registrou um boletim de ocorrência e veio à tona esta semana após divulgação na imprensa.

Na versão da estudante, a confusão começou quando ela procurou Suzana pedindo a mudança de orientação após um ano de intercâmbio em Portugal na Universidade do Porto.

Ao relatar o caso ao advogado Alexandre Barenco, Andreia disse que foi xingada pela professora. “Você é pobre e fede. Pobre não pode estudar aqui", teriam sido as palavras de Suzana, segundo a aluna. 

De acordo com o advogado, os problemas de relacionamento entre Andreia e a orientadora começaram quando a estudante estava ainda na Europa cursando o doutorado sanduíche, nome dado quando o curso é feito parte no Brasil e parte no exterior. 

“A Andreia mandava os trabalhos para a orientadora e ela só respondia com um “ok” ou “recebido”. A situação piorou quando a bolsa que ela recebia da Universidade do Porto foi cortada em razão da crise econômica da Europa. Ela começou a ser responsabilizada, culpada pelo corte ainda quando estava na Europa”, disse o advogado.

Ao voltar ao Brasil, o advogado de Andreia conta que a estudante procurou a orientadora para comunicar o desejo de mudar de orientação e ouviu os xingamentos da professora da UFRJ.

O advogado relata que Andreia procurou a direção  do curso de doutorado e obteve como resposta que “as coisas são assim mesmo, que ela tem que tentar esquecer, que essas coisas são comuns”. Insatisfeita com a resposta, Andreia registrou queixa em uma delegacia da cidade.

Professora nega as acusações 

A professora da UFRJ, Suzana Borschiver, negou as acusações da estudante. Segundo ela, Andreia a procurou na UFRJ pedindo o trancamento da matrícula no doutorado e não a mudança de orientação. A professora disse que foi “firme” questionando, segundo ela, o fato de a estudante não ter enviado qualquer material de pesquisa referente ao período em Portugal. Contudo, afirma que, em nenhum momento, ofendeu a estudante.

“Eu nego veemente o que ela falou. Isso nunca aconteceu nem em pensamento. Eu fui incentivadora dela fazer esse programa [de intercâmbio]. Ela foi a esse programa porque eu indiquei. Eu fiz todo um esforço, todo um trabalho pra que ela fosse para Portugal levando o nome da UFRJ e ganhando uma bolsa de 1.500 euros por mês”, disse a professora.

“Eu disse que ela não estava cumprindo obrigações, perguntei sobre o material. Você vai trancar por quê? Você tem que fazer o trabalho. Ela mudou o comportamento, começou a fazer gestos obscenos e a me xingar”, completou.

Segundo a professora, a estudante teve a bolsa suspensa pela Universidade do Porto porque se ausentou por um mês das aulas sem apresentar qualquer justificativa. “Ainda assim eu apaziguei a situação, acreditando que ela pudesse cumprir o programa, e ela acabou ficando um ano em Portugal”, disse a orientadora.

Para justificar a ausência, segundo a professora, a aluna teria dito que estava passando por depressão “mas quando foi pedido a ela um laudo médico ela apresentou um exame ginecológico”, disse a professora. Ainda de acordo com Suzana Borschiver, no final do período em Portugal a aluna pediu para permanecer mais um ano na Universidade do Porto. “Claro, eu não autorizei”, contou.

A professora conta que chegou sim a ela reclamações por parte de Andreia  quando ainda estava  em Portugal mas que eram seguidos com e-mails pedindo desculpas. “Eu tenho todos esses e-mails arquivados”, afirmou.

“Eu tive maior boa vontade, a maior boa fé. Eu busquei essa vaga para ela, incentivei a aluna a ir. Eu estou muito triste, decepcionada com toda a situação que ela me causou, de mentiras, calúnias. Uma situação horrível que eu estou passando”, disse.

O advogado da professora, José Carlos Sarmento, informou que entrou com ação na Justiça do Rio por danos morais e denúncia criminal no Ministério Público Federal por calúnia contra a estudante.

Estudante exige histórico escolar da UFRJ

Andreia entrou com ação judicial pedindo o histórico escolar da UFRJ com as notas das disciplinas estudadas até o momento no doutorado. Segundo o advogado Alexandre Barenco a estudante não quer mais estudar na UFRJ.  A estudante entrou na Justiça Federal com ação de responsabilidade civil para que a UFRJ seja obrigada a pagar uma indenização por danos morais e obrigada a liberar a documentação.

Após uma primeira vitória da estudante na 16ª Vara Federal do Rio no último mês de outubro, a universidade recorreu e o caso está seguindo na Justiça sem que Andreia tenha a documentação para deixar a UFRJ. “O que é absurdo nessa história é que alguém no final do ano passado renovou a matrícula dela sem que ela soubesse. A Andreia quer apenas é receber a documentação e deixar a UFRJ. Ela disse pra mim: Eu só quero recuperar meu direito de ir e vir”, disse o advogado da estudante.