Crise nos EUA prejudica intercâmbio de jovens; brasileiros 'sofrem' para achar família voluntária
As agências de intercâmbio estão com dificuldade em encontrar famílias norte-americanas para hospedar estudantes estrangeiros sem receber ajuda de custo. O motivo é a crise econômica nos Estados Unidos, que vem atingindo principalmente a classe média.
Segundo Tiffany Adams, diretora regional da ISE (International Student Exchange), uma das maiores agências de intercâmbio norte-americanas, nos últimos dois anos o problema tem se agravado. “Não estamos conseguindo aumentar o número de famílias voluntárias e as que já temos cadastradas estão receosas em ter um gasto extra hospedando novos estudantes”.
De acordo com Adams, por enquanto, a ISE está conseguindo atender a demanda, mas o tempo de busca das famílias voluntárias tem aumentado. “Às vezes levamos meses até achar alguém disposto a receber os estudantes”.
Por um fio
O estudante paraense Pedro Aleixo Nogueira, 18, por pouco não viu o sonho de morar nos Estados Unidos ir por água abaixo. Ele já havia pago o intercâmbio de um ano, orçado em U$ 7.500 (sete mil e quinhentos dólares), mas a agência ainda não tinha encontrado uma família americana disposta a recebê-lo.
Por sorte, dois dias antes do término do prazo, a agência de intercâmbio localizou uma família em Oklahoma disposta a hospedá-lo. Ivana Aleixo, mãe de Pedro, explica que se a família não fosse encontrada, eles receberiam o dinheiro de volta. “Mas não era isso o que importava”, explica a mãe, “o problema seria a frustração dele”.
Procuram-se famílias voluntárias
Carlos Robles, presidente da Belta (Associação Brasileira de Organizadores de Viagens Educacionais e Culturais), explica que a dificuldade em encontrar famílias hospedeiras tem ocorrido somente em programas do tipo com visto J1, em que os alunos são acomodados em famílias voluntárias e estudam em escolas públicas.
Nesse tipo de intercâmbio, o estudante precisa ter entre 15 e 18 anos (incompletos), e fica geralmente de 6 a 12 meses vivendo com uma família norte-americana voluntária e estudando em uma escola pública. O intercambista paga somente o seguro-saúde e despesas pessoais.
A família deve providenciar alimentação e transporte, além de oferecer um ambiente seguro e confortável no qual o jovem possa aprender a língua e a cultura norte-americanas. Dependendo da região do país, o custo de ter um intercambista em casa pode chegar a mil dólares por mês, segundo estimativas das agências.
“Os programas similares com tipo de visto F1, em que os alunos de ensino médio se hospedam com famílias que recebem ajuda de custo e podem ser colocados em escolas particulares, não apresentam esse problema”.
De acordo com Robles, as agências de intercâmbio são orientadas a esclarecer os estudantes de que não há garantia de que seja encontrada uma família voluntária, além disso as agências devem apresentar as possíveis soluções para o problema. “As alternativas seriam: mudar para o programa que permite uma ajuda de custo às famílias; escolher outro destino (outro país); prorrogar a participação para o semestre ou ano seguinte, ou, em último caso, a devolução do valor pago a agência.”
Experiência gratificante
A família de Ginny Hancock-Stefan, que vive em Atlantic Highlands, em New Jersey, está recebendo um estudante espanhol de 17 anos em casa. “O custo e as responsabilidades são altos, mas nós sempre tivemos uma forte ligação com pessoas de outros países e a experiência é muito gratificante”, garante Ginny.
“Aprendemos a abrir o nosso coração para alguém que vai fazer parte da família, aprendemos a amar alguém que é diferente, além disso acredito que a relação familiar fica mais forte”. Ano passado Ginny recebeu uma adolescente da Alemanha, mas no ano que vem não pretende receber outro intercambista. “Vamos tirar um ano ‘de folga’ e depois abriremos as portas da nossa casa novamente”, acrescenta.
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