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Economistas ensinam a guardar dinheiro para o intercâmbio; confira dez dicas

Bruno Rico

Do UOL, em São Paulo

20/09/2012 06h00

Qualquer programa de intercâmbio envolve custos altos. Os principais gastos são o curso, a estadia, a passagem e a alimentação. Um curso de dois meses de inglês na Inglaterra pode custar R$ 15 mil. Um programa de intercâmbio de "high school" (ensino médio) na Austrália, R$ 55 mil. Não há outro jeito: tem que se programar.

No caso do curso na Inglaterra, a família teria que economizar R$ 240 por mês durante quatro anos. A conta é de Anísio Castelo Branco, professor de finanças do Senac São Paulo e Presidente do Ibrafin (Instituto Brasileiro de Finanças, Perícias e Cálculos).

Ele pressupôs inflação de 0,5% ao mês. No caso do intercâmbio "high school" na Austrália, a família teria que economizar R$ 1.000 por mês durante o mesmo período.

Se o objetivo fosse um curso de dois anos de mestrado em uma das dez melhores universidades dos EUA, os gastos passariam a ser inviáveis para quase toda a população brasileira: R$ 258 mil. Nesse caso, a economia mensal teria que ser de R$ 4,7 mil durante quatro anos.

Vale a pena? Depende. Especalistas afirmam que, embora os benefícios de uma formação diferenciada sejam grandes, o sacrifício pode tornar-se penoso demais. Veja abaixo dez dicas de três economistas:

1. Decida com antecedência

A regra é simples: quanto antes o estudante decide fazer o programa, antes começa a guardar dinheiro. E quanto antes começa a guardar dinheiro, menores são as parcelas mensais.

“Tudo vai depender de quando a pessoa decidiu fazer o curso”, diz Castelo Branco. “Nesses intercâmbios, muitas vezes a pessoa tem que pagar à vista. No dia em que for aceita [para o curso], já tem que ter o dinheiro”, explica.

2. Tenha planejamento familiar

Realizar um programa de intercâmbio não envolve apenas acumular os recursos necessários, mas também adaptá-lo à realidade e às prioridades da família. “O planejamento financeiro é um pedaço do planejamento familiar”, afirma Alan Soares, coach financeiro da Trader Brasil.

Vale a pena fazer um sacrifício de R$ 240 por mês? Isso vai reduzir o padrão de vida da família durante quatro anos? O caso refere-se ao curso de inglês de dois meses na Inglaterra. O estudante vai de fato aproveitar a oportunidade? Esse recurso vai retornar no médio prazo? Essas são algumas das perguntas sugeridas. José Nicolau Pompeu, professor de pós-graduação em economia na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), ainda alerta para outro problema: “Lá fora alguns brasileiros esquecem que se trata de um investimento e perdem tempo com badalação. Nesse caso, não vale a pena”.

3. Reduza “gastos inúteis”

O termo é muito usado por economistas, mas tem significados variados. O que seria um gasto inútil? Na visão dos especialistas, é o gasto que não dá nem formação e nem retorno financeiro. “Tudo na vida são escolhas, então você pode decidir: vou economizar uma balada por mês e fazer meu intercâmbio”, defende Castelo Branco. Cabe ao jovem e à família definirem o que é útil ou não.

4. Preveja gastos com alimentação

Dependendo da estadia, os custos extras podem variar. “(Um estudante) pode gastar entre US$ 700 e US$ 1.000 mensais com alimentação nos EUA. Se for moradia em faculdade, gastaria menos, cerca de US$ 300. Isso pode dar uma diferença anual de US$ 5.000. Não é pouco”, alerta Soares. Alguns programas incluem alimentação e outros não. O estudante deve somar o valor ao total de gastos previstos.

5. Considere sua renda

Infelizmente, essa é a realidade. Mesmo cursos baratos de línguas não saem por menos de R$ 5 mil. Para programas de "high school", graduação e pós não tem jeito: a família tem que desfrutar de boa condição financeira. Do contrário, “seria muito sacrifício”, diz Pompeu.

Para ele, uma economia de R$ 400 por mês durante quatro anos (para pagar R$ 20 mil por um ano de curso "high school" nos EUA) lhe parece muito penosa.

Soares é mais otimista. Entende que, com esforço, uma família com renda mensal de R$ 8.000 conseguiria pagar o curso. "Mas tem que ser um planejamento elaborado. A família terá que abrir mão de algumas coisas, tipo jantar fora”. O programa debatido custaria cerca de R$ 20 mil. “É o carro da família. Se ele acha importante dar essa experiência para o filho, então vale. Mas se eu tivesse dois filhos, por exemplo, não faria esse sacrifício. Falaria abertamente com eles e explicaria a situação”.

6. Invista certo

A forma de investir o recurso economizado deve se adaptar ao objetivo. Para cursos de línguas e de "high school", a dica é guardar o dinheiro em poupança ou em fundo de renda fixa. Trata-se de um período curto (dois a três anos) e não valeria a pena correr riscos. Já quem tem pretensões maiores, de longo prazo, deve diversificar os investimentos. “Diria 50% em renda fixa e 50% em outras casas de ativos - imobiliário, ações, títulos indexados a moeda estrangeira etc”, afirma Soares. O raciocínio é que, se ocorrer algum imprevisto, há tempo de manejar os recursos e obter outras fontes de renda.

7. Na dúvida, invista em renda fixa

“Se a pessoa não sabe nada de finanças pessoais, procuraria (um fundo) de menor risco, de renda fixa”, diz Soares. “Mas na sequência, buscaria instrução. Tem vários livros que mostram como investir."

8. Um filho leva o outro

Para quem tem mais de um dependente, mandar o mais velho para um curso pode obrigar a família a mandar os outros. Nesse caso, o planejamento deve multiplicar qualquer decisão sobre um filho pelo numero de dependentes. “Se tem três filhos, vai ter que pagar "high school para os três”.

Além disso, a tendência é que os gastos cresçam. “Quando um estiver viajando para o curso de "high school", o outro já estará entrando na faculdade, ou vai querer um carro”, alerta Soares.

9. Pondere os benefícios do curso

“Mesmo na questão da educação, não quer dizer que você vai ter um retorno financeiro no curto prazo. Pode não valer a pena. Às vezes quem fez um curso no exterior tem remuneração igual à média do mercado, de gente que não gastou todo aquele dinheiro e não teve que fazer sacrifícios”, afirma Soares.

Os três economistas fazem questão de afirmar que investir na formação acadêmica é quase sempre um bom investimento, mas lembram que não existe mágica. O retorno financeiro pode demorar e requerer muito suor.

10. Intercambio não é tudo

“Não vale a pena comprometer mais de 10% do orçamento familiar (com intercâmbio)”, diz Pompeu. Ele lembra que, mesmo com estabilidade no emprego, uma demissão pode acontecer. Além dos gastos de subsistência, as famílias devem cultivar reservas, pensar na previdência e valorizar outros projetos, como comprar uma casa, trocar o carro e garantir a previdência.