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Cremesp culpa MEC por reprovação de formandos de medicina em exame

Bruno Bocchini

Da Agência Brasil, em São Paulo

07/12/2012 19h21

O MEC (Ministério da Educação) tem “grande responsabilidade” sobre o fraco desempenho dos formandos em medicina no exame do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), disse o presidente da entidade, o médico Renato Azevedo Júnior. De acordo com ele, o ministério tem conhecimento, por meio do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), da baixa qualidade de diversas faculdades de medicina, mas não está agindo para puni-las

“Entre as faculdades que participam do Enade têm pelo menos 16 que por três anos consecutivos tiraram conceitos 1 e 2. Um conceito ruim, porque o Enade vai de 1 a 5. E o que ocorreu com essas faculdades? Quais foram as providências tomadas? Nenhuma. Elas continuam funcionando com o mesmo número de alunos”, disse Azevedo.

“O MEC tem o dever, inclusive, de fechar essas escolas. Ou obrigá-las a readequar no sentido da qualidade da formação do médico. Nós queremos demonstrar, e vamos levar isso ao MEC, que é urgente que se faça alguma coisa para melhorar o ensino médico no Brasil”, acrescentou.

Ontem (7), o Cremesp divulgou o resultado da prova aplicada, em novembro, em todos os formandos dos cursos de medicina no estado de São Paulo. Mais da metade dos alunos recém-formados foram reprovados, não alcançaram a nota mínima exigida, de 60%.

Dos 2.411 participantes, 54,5% acertaram menos de 60% da prova, ou seja, menos de 71 das 120 questões. O exame contou com a presença de 2.525 estudantes das 28 escolas médicas paulistas que funcionam há mais de seis anos. Foi a primeira vez que todos os formandos foram obrigados a fazer a prova – sem a necessidade de aprovação – para poder retirar o registro médico.

“[O resultado] não surpreendeu no sentido de que é um resultado semelhante ao que a gente já vinha tendo nos outras sete edições. Por outro lado, é uma coisa muito preocupante. O aluno que não consegue acertar 60% de uma prova desse tipo, de aferição do conhecimento mínimo, tem problemas na formação e vai ter dificuldades para exercer uma medicina de boa qualidade”, disse Azevedo.

Para o diretor do Associação Médica Brasileira, José Luiz Bonamigo, o fraco desempenho dos estudantes pode ser explicado pela estrutura deficiente das faculdades, a péssima avaliação interna dos alunos e à falta de punição às escolas ruins . “A gente, hoje, tem faculdades não só privadas, mas públicas, que abrem sem ter um hospital, sem ter uma rede de postos de saúde credenciada para os alunos poderem atender aos pacientes”, declarou.

“A deficiência do ensino médico é uma realidade há alguns anos no Brasil. Os alunos não têm um campo de estágio adequado e a avaliação é muito ruim durante o curso. É raríssimo você ter durante o curso algum aluno reprovado, isso tanto nas mais novas como nas tradicionais”, acrescentou.

Além de colocar os pacientes em risco, Bonamigo destaca que os médicos malformados sobrecarregam o sistema público de saúde e desperdiçam recursos. “Esses médicos malformados geralmente têm dificuldade em fazer um diagnóstico correto com as ferramentas mais importantes que a gente tem, que são a história clínica e o exame físico do paciente. Solicitam muitos exames e sobrecarregam o sistema de saúde. E, mesmo com o resultado, não sabem dar o andamento correto. Um risco social de saúde e um risco de gestão do sistema. Médicos caros e poucos eficientes”, disse.

O Ministério da Educação informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que desconhece as bases das provas que serviram para a avaliação dos estudantes no Cresmep. “Não cabe portanto, neste momento, nenhuma consideração a respeito”.

O MEC ressaltou que, em relação às deficiências das faculdades de medicina do estado de São Paulo, assim como no resto do país, mantém uma constante avaliação dentro do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior. “O ciclo de avaliação do ensino superior é de três anos. As escolas de medicina que estão abaixo da média 3, no CPC [Conceito Preliminar de Curso] ou no IGC [Índice Geral de Cursos], deverão ser reavaliadas no ano que vem. Se mantiverem a mesma avaliação serão sancionadas [punidas]. Além do processo de supervisão, poderão ter suspenso seu processo de seleção”, disse em nota.