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Brasileiros procuram intercâmbio na Índia para fazer voluntariado

Mulheres participam do primeiro "Shahi Snan" (grande banho) no rio Ganges - Roberto Schmidt/AFP
Mulheres participam do primeiro 'Shahi Snan' (grande banho) no rio Ganges Imagem: Roberto Schmidt/AFP

Cláudia Emi Izumi

Do UOL, em São Paulo

23/01/2013 06h00

A Índia está entre os países mais procurados para intercâmbio na Aiesec do Brasil, organização que envia estudantes para o exterior. Atualmente, são cerca de cem brasileiros que participam em seus dois programas de intercâmbio no país, o voluntariado e o profissional.

A possibilidade de conciliar trabalho voluntário e conhecer uma cultura milenar, aliado a um local exótico, fascina os intercambistas. Após a divulgação na mídia do caso do estupro da indiana, a procura não se alterou na Aiesec do Brasil.

Só saía com o pessoal da Aiesec ou com grupos de brasileiros que conheci na Índia. A volta, à noite, era sempre de táxi, nunca de ônibus. Antes de entrar no carro, perguntava a placa e o número de registro do taxista e ligava para a família que me hospedava para avisá-los

CAMILA MARÇAL, 23

“Os estudantes escolhem o país pela cultura porque é muito diferente das que eles já conhecem, como é o caso da americana, da europeia e da latino-americana”, comenta a diretora de comunicação, Ana Luisa Gomide.

“Pretendo voltar”, diz sem vacilar a intercambista Camila Marçal, que é de Ribeirão Preto (interior de São Paulo). “Tinha uma ideia de fazer voluntariado em um lugar desafiador e totalmente diferente, que não fosse a primeira escolha de outros brasileiros. Queria um país onde houvesse necessidade de maior apoio. E os indianos foram muito receptivos comigo.”

Por sua amizade com os indianos, a brasileira teve uma escolinha de ensino fundamental batizada com seu nome, com alunos de dois a seis anos que estudam em uma tenda e recebem refeições. Até hoje ela envia dinheiro arrecadado entre amigos e parentes, ou destina parte do salário, para bancar o projeto de educação, e daí vem sua vontade de retornar ao país, para ver como estão os alunos.

Camila passou dois meses em Bangalore, “na parte mais pobre da cidade”. Durante sua estadia, deu aulas de inglês e orientou mulheres indianas muçulmanas sobre problemas familiares.

As reuniões eram fechadas e ocorriam durante o horário de trabalho dos maridos. Os temas se alternavam entre dar banho e comida de forma adequada aos filhos ou como providenciar um documento de identificação, equivalente ao RG do Brasil. 

“Sem ele, elas sequer existem para a sociedade”, explica Camila, que ouvia também reclamações das mulheres sobre falta de água, saneamento básico precário, partos realizados de maneira imprópria, maridos que roubavam todo o dinheiro da casa para gastar em bebida ou drogas ou violência doméstica. “Pedíamos para irem com calma. Eram muito submissas e não queríamos provocar problemas para elas dentro de suas famílias.”

Ciência sem Fronteiras

Já no Ciência sem Fronteiras, que incentiva brasileiros em início da graduação e pós-graduação a estudar no exterior, são poucos os que escolhem as universidades indianas para fazer intercâmbio. Em janeiro, a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), órgão que coordena o programa, tinha registrado apenas dois estudantes.