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Em Uruguaiana, alunos de federal têm 36 cadeiras sem professor

Alunos de medicina veterinária da Unipampa fecharam a rodovia federal BR-472 no dia 5 de fevereiro - Divulgação
Alunos de medicina veterinária da Unipampa fecharam a rodovia federal BR-472 no dia 5 de fevereiro Imagem: Divulgação

Cristiane Capuchinho

Do UOL, em São Paulo

14/02/2013 12h12

Alunos de sete cursos de graduação da Unipampa (Universidade Federal do Pampa) campus Uruguaiana (631 km de Porto Alegre) estão sem professores em 36 disciplinas deste semestre, todas elas aguardam concurso para professor, segundo o horário de aulas pregado no quadro de avisos dos cursos e disponível na internet.

O cenário é parte de um panorama mais amplo, a universidade precisa de, ao menos, 182 docentes para completar seus quadros --75 vagas ainda aguardam autorização do MEC (Ministério da Educação). Os estudantes reclamam que, mesmo após a autorização de contratação de 112 professores --cinco já nomeados--, o número não é suficiente.

O aluno está interessado em estudar, vem para cá e encontra esse tipo de problema

DOUGLAS MARTIN, aluno de veterinária que está sem aulas em duas cadeiras

O campus conta 1.297 alunos para 111 docentes --serão abertos concursos para outros 13 postos.

O problema, criticam os alunos, está na distribuição do corpo docente. Ainda segundo os dados da reitoria, no curso de medicina veterinária há 269 alunos para 16 professores efetivos. Porém, o projeto pedagógico do curso, publicado no site da instituição em 2012, estima um quadro docente com, no mínimo, 33 professores para o curso.

"Eles estão abrindo cursos novos com 15 professores e a medicina veterinária continua aqui [precisando de professor]. Como isso?", indigna-se Lucas Quevedo, aluno do 5º semestre que, neste momento, está sem aulas em três cadeiras. Segundo a reitoria, hoje o curso conta com 16 docentes e outros 3 em processo de contratação ou transferência. Ainda não se sabe como ficarão os 14 postos restantes.

Os estudantes temem pela qualidade de sua formação e pela avaliação do diploma. Sem turma formada, o bacharelado em medicina veterinária ainda não foi reconhecido pelo MEC.

Demandas comuns

O problema se replica em outros cursos. O campus de Uruguaiana reúne as graduações em ciências da natureza, educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia, medicina veterinária e tecnologia em aquicultura.

Para não perder o foco

Não é só a falta de professores que afeta os estudantes da Unipampa. Criada em 2008, a infraestrutura da universidade ainda está em construção.

De acordo com a reitoria, "28 obras foram licitadas em 2012 para realização em 2013". A universidade tem ainda, conforme a reitoria, 31 obras em andamento nos seus dez campi.

No entanto, os estudantes preferem não comentar os problemas de infraestrutura. "Não queremos perder o foco", alega o aluno de medicina veterinária Lucas Quevedo.

"Todos têm falta de docentes", explica a presidente do centro acadêmico do campus Dandara Fidélis Escoto. Em alguns cursos, os professores têm se sobrecarregado com mais aulas de graduação para conseguir cumprir o número de disciplinas necessárias. Em outros casos, aponta Dandara, técnicos-administrativos têm dividido a orientação de estágios de alunos com professores.

A sobrecarga sobre os docentes interfere também na qualidade dos cursos. "Às vezes o professor não é especialista na área em que está dando aula e isso prejudica o curso", considera Douglas Martin, aluno do 6° semestre de medicina veterinária e membro do DAMV (Diretório Acadêmico de Medicina Veterinária). 

A presidente do centro acadêmico reclama ainda da falta de funcionários na instituição. "A biblioteca trabalha com jornada reduzida", afirma. Segundo ela, a biblioteca fecha durante duas horas para o almoço e funciona apenas três noites por semana, apesar do campus ter dois cursos noturnos.

Quousque tandem*

Por causa da greve de professores que durou quase quatro meses em 2012, neste momento os universitários estão repondo as aulas do segundo semestre do ano passado, que só deve acabar em junho. O processo de publicação de edital, concurso e contratação de professores é longo. Apesar de, ao menos, 13 concursos de professores estarem autorizados para o campus Uruguaiana, novos professores contratados só devem ocupar os espaços vagos no segundo semestre de 2013, quando chegam também os alunos ingressantes.

Indignados com a situação, estudantes de medicina veterinária fecharam a rodovia federal BR-472 no dia 5 de fevereiro. Os alunos, agora pretendem pegar estrada para serem recebidos pela reitora Ulrika Arns nas próximas semanas. Para isso, terão de percorrer os 385 quilômetros entre Uruguaiana e Bagé, onde está a sede da universidade.

* Em latim, "até quando"