Topo

Reforma de alojamento na UFRJ cria problemas de moradia para alunos

Fachada da ala feminina do alojamento da UFRJ - Julia Affonso/UOL
Fachada da ala feminina do alojamento da UFRJ Imagem: Julia Affonso/UOL

Julia Affonso

Do UOL, no Rio de Janeiro

07/06/2013 16h47

A primeira reforma na Residência Estudantil da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), nos últimos 40 anos, tem causado dores de cabeça aos estudantes que moram no local. Os alunos reclamam do baixo valor da bolsa moradia dada pela universidade, calculada em R$ 650.

Segundo a UFRJ, os alunos receberão, no total, R$1.200 divididos entre R$ 550 (R$ 400 de Bolsa Manutenção e R$ 150 de ajuda de custo para transporte), valor que já recebem atualmente, e mais R$ 650 para financiarem aluguéis. A universidade informou que o aluguel foi calculado com base em vagas de quarto e não em aluguel de casas.

"Os aluguéis no Rio são muito caros. Consegui alugar o quarto de empregada do apartamento onde a família de uma amiga mora, e ficarei por lá. É um cubículo, não vai caber minhas coisas. Tive que vender minha cama e troquei a cadeira do computador por livros", conta um aluno de letras que não quis se identificar. 

Ele mora no alojamento há 4 anos e meio, desde quando chegou do Rio Grande do Sul. "Aqui no Fundão, a gente tem almoço e jantar no Bandejão por R$ 2. O apartamento para onde eu vou é na Glória [zona sul], fica contramão vir aqui comer. Vou gastar mais esse dinheiro. Além de pagar por luz, água e condomínio, que aqui não tem", diz ele, que faz estágio na própria instituição e em uma escola no Complexo da Maré, comunidade que fica perto do Fundão.

A residência da UFRJ tem atualmente 250 quartos funcionam em cada alojamento, onde moram 363 alunos. Destes, 205 aceitaram receber a bolsa e deverão desocupar os quartos em até 30 dias após o recebimento da primeira parcela. 

 A reforma custará R$ 10 milhões, começará em julho deste ano e tem previsão de 20 meses para o término.

Sem fiador

"Não consegui um fiador, pois não sou da cidade. Para fazer depósito, você precisa de um valor muito alto, às vezes R$ 4 mil, e eu não tenho. Aqui, eu moro sozinho no quarto e gosto. Agora vou dividir um quarto com mais duas pessoas, em Madureira [zona norte]. Além disso, vou levar duas horas para ir e voltar da faculdade, em um trajeto que eu faço em 10 minutos", conta o aluno de geografia Alan Lemos, 24, de Angra dos Reis, no sul fluminense.

Segundo a universidade, o valor da bolsa moradia foi sugerido pela SuperEst (Superintendência Geral de Políticas Estudantis), a partir de pesquisa sobre o custo médio de vagas para moradia no Rio de Janeiro, mediante consulta prévia à Pró-Reitoria de Planejamento e Finanças e aprovação junto ao Conselho de Ensino de Graduação.

"Foram verificadas vagas no valor de R$ 600, no Flamengo e Catete [zona sul], e na Ilha do Governador [zona norte] por preços que variavam entre R$ 400 e R$ 500. Essa medida é provisória, a moradia não vai ser substituída pelo dinheiro. Todos os alunos que moram aqui poderão voltar para seus quartos, quando a reforma terminar", explica o superintendente geral de Políticas Estudantis do Gabinete do Reitor, Antonio José Barbosa de Oliveira. "Esse programa de adesão à bolsa foi voluntário, ninguém foi coagido a aceitar", afirma.

Obras começam em julho

De acordo com a UFRJ, a reforma entregará 504 quartos novos aos estudantes. A primeira etapa da obra será na parte interna da ala feminina, nos quartos, no espaço de circulação dos andares, no telhado e nas instalações elétrica e hidráulica. A segunda está concentrada no térreo, onde funcionam serviços administrativos, laboratórios de informática, refeitório, blocos de estudos, biblioteca e área de convivência dos estudantes. Já a terceira etapa contemplará reforma de fachada e esquadrias.

"Nós não queremos a bolsa, queremos moradia. As obras na UFRJ começam e não terminam. A ala sul do HU [Hospital Universitário Clementino Fraga] foi construída, nunca foi usada e depois implodida. Quem garante que isso não vai acontecer com o alojamento? Vou ficar aqui com outros colegas e vamos fiscalizar as obras. Se todo mundo sair, essa reforma vai ser abandonada", diz o aluno de ciências da computação Carlos Eduardo Nunes, 28, que mora no alojamento.

Durante a reforma da ala feminina, as alunas que não aceitaram a bolsa da UFRJ vão morar no alojamento masculino. Quando essa fase acabar, homens e mulheres dividirão a ala feminina. Em relação aos estudantes agregados, que moram em quartos da residência estudantil de maneira não oficial, o superintendente da UFRJ disse que eles poderão procurar a universidade para solicitar a bolsa moradia.

"Infelizmente, temos alunos que moram nos quartos com outras pessoas, sem a instituição saber. Muitos nem são alunos da UFRJ. Os que são, poderão apresentar documentação que configura o perfil social dos bolsistas e assim passar pela avaliação socioeconômica que seleciona estudantes que têm direito à bolsa", explica Oliveira.