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Aluno que fez disparos na USP São Carlos diz que colegas 'mereceram'

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

30/08/2013 14h13Atualizada em 30/08/2013 18h29

“Eles mereceram o que aconteceu”. Assim o ex-estudante Alexandre José Coutinho da Rocha Lima, 23, descreve o incidente onde ele disparou, uma série de vezes, contra alunos dentro da moradia estudantil do campus de São Carlos da USP (Universidade de São Paulo). Ele afirmou ainda que não premeditou a ação e que “enlouqueceu” no momento.

A Polícia Civil pediu a prisão temporária do jovem, que continua foragido. A USP informou, em nota oficial, que vai reforçar a segurança na universidade. A PM declarou, ontem, que também irá aumentar o efetivo patrulhando a região da USP e que irá trabalhar em conjunto com a direção do campus para garantir a segurança dos estudantes.

“Eu tive um surto, não era eu. Sofri tudo calado, todo o bullying, todas as humilhações, e tive uma discussão com uma pessoa que foi a gota d´água. Fiquei sabendo que havia um boletim de ocorrência contra mim e não consegui pensar em nada. Mas, se eles queriam ameaça, acho que agora existe uma ameaça de verdade. Eles mereceram o que aconteceu”, disse.

Apesar disso, ele afirmou que sabe que sua vida está acabada. “Eu só queria paz. Agora sei que não posso estudar, porque terei ficha criminal. E ninguém dará emprego a quem tem ficha criminal. Não sei o que vou fazer da minha vida”, disse.

Lima afirmou ainda que não sabe se irá se entregar a polícia. “Eu não acredito na polícia. Eu denunciei tudo, eu quis ficar em paz, mas não tive nenhum tipo de suporte. Só fui humilhado”, disse.

O estudante afirmou ainda que já fez uma denúncia na corregedoria da Polícia Civil de São Paulo denunciando uma possível conduta incorreta por parte da polícia. “Eu não mudei minha versão da história, mas a polícia disse que eu voltei atrás. Fiz uma série de denúncias que não foram apuradas.  Não acho que a ação da polícia foi certa”, disse.

Ele também acusou a universidade de ser omissa diante dos casos de violência e de tomar partido dos alunos acusados por ele. "A violência dentro da USP é uma coisa bastante descarada, vulgar. Não é o primeiro caso, não será o último. As pessoas são perseguidas lá dentro. E o pior é que a universidade sabe de tudo e aceita pessoas como as que acabaram com a minha vida”, disse.

Violência sexual

Segundo Lima, ele mora em São Carlos há quatro anos. De família paulistana, ele se mudou para a cidade para estudar. Três anos depois, passou no vestibular de ciências exatas da USP, mas no primeiro semestre desistiu do curso, depois de alegar ter sido vítima de uma agressão sexual por parte de veteranos. O caso, modificado para injúria pela polícia, está sendo julgado na cidade.

Lima relatou ainda que, depois do incidente, sua vida foi “arruinada”. “Meu nome está em todos os lugares. Eu passo em um concurso, e não tenho como assumir, porque meu nome esta lá e eu sei que vou sofrer de novo. Já pensei até em mudar de nome. Pedi para mudar de nome, inverter meus sobrenomes, colocar um outro nome, mas não fui autorizado a isso”, disse.

Segundo ele, houve até um pedido para que ele fosse incluso no programa de proteção à testemunha e pudesse, assim, ganhar nova identidade. “Mas o Ministério Público me disse que não ia autorizar”, disse.

Ele contou ainda que toma remédios para depressão tem “uns dois anos” e que, no dia em que atirou no alojamento da USP, tinha ido à universidade para retomar os estudos. “Eu já pensei em suicídio, já pensei em me matar e não tinha nenhuma vontade de estudar. Mas, naquele dia, quis retomar minha vida. Entrei na universidade e queria retomar minha vida. Mas encontrei aquelas pessoas e tudo foi por água abaixo”, disse.

Disparos

Lima disse que foi à universidade durante a tarde de quarta-feira para acessar a Internet. Ao chegar, se deparou com um dos estudantes que, segundo ele, participou das agressões sexuais no alojamento. “Eu disse coisas que ele não gostou, ele disse coisas que eu não gostei. Mas não estava armado. O que ele fez, quando registrou o boletim de ocorrência, de falar que eu estava armado, foi uma falsa comunicação de crime. Há câmeras no local e eu espero que a polícia, dessa vez, faça a coisa certa e prove que ele é mentiroso”, disse.

Segundo Lima, ao saber do registro do boletim de ocorrência ele “perdeu completamente a razão” e chegou a ligar à polícia dizendo que, se a ocorrência não fosse retirada, iria “dar motivos de verdade” para que o caso fosse investigado.

Sem dizer como conseguiu a arma, ele contou que o primeiro tiro foi acidental, mas que não hesitaria em atirar contra os estudantes se eles tentassem tirar a arma deles. “Eu não queria matar ninguém, não queria nada. Mas, se eles viessem pra cima, acho que iria me defender”, afirmou ele, que disse, ainda, que foi o primeiro tiro disparado na vida dele.

Ele contou ainda que fugiu de bicicleta para Araraquara. “Eu fui de noite, naquele frio, dirigindo por 40 quilômetros. Não pensei em nada, só queria ir embora. Agora sei que minha vida está acabada”, disse.