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Mundo grego influenciou escritor Monteiro Lobato desde a adolescência

Ana Paula Souza

Da Agência USP de Notícias

23/01/2014 13h25

A partir da curiosidade de entender como a cultura clássica, especialmente a grega, podia ter tanta força na obra de Monteiro Lobato e na cultura brasileira no início do século 20, a revisora pedagógica Raquel Endalécio elaborou a dissertação de mestrado "A (re)construção do mundo clássico na obra de Monteiro Lobato: fontes e procedimentos". O trabalho, orientado pelo professor Marcos Antonio de Moraes  mostra que a ligação de Lobato com a cultura grega é muito antiga.

Apresentado ao Instituto de Estudos Brasileiros da USP em abril de 2013, o estudo também se revelou como uma discussão sobre o processo de criação do escritor.

Por meio da análise da obra publicada (adulta e infantil), das correspondências e das cadernetas de notas do autor (conservadas na Biblioteca Infantil Monteiro Lobato), nota-se que, desde a adolescência, o mundo clássico já estava presente na vida do escritor, e, desde então, não o deixou mais. No exame do material, nota-se também que há referências gregas não apenas no seu cotidiano de autor, mas também em âmbitos relacionados à sua vida pessoal, o que pode ser notado, por exemplo, na maneira pela qual Lobato concebia o amor.

Lobato e a Grécia

Monteiro Lobato é autor de diversas obras que trazem elementos do mundo grego. O "Minotauro e Os Doze Trabalhos de Hércules", por exemplo, são produções que mostram que o escritor possuía um grande vínculo com a Grécia, visto que são narrativas ricas em detalhes da Antiguidade.

Foi justamente esse ponto que despertou a curiosidade de Raquel, pois, para saber tanto sobre a Antiguidade Clássica, a ligação de Lobato com o mundo grego deveria ser muito profunda. “Encontramos a Grécia em um bilhete do menino Lobato à mãe, ou em cartas apaixonadas à noiva, em traduções de clássicos e nos sucessos de sua obra infantil.”

A investigação na vida autoral e íntima de Monteiro Lobato permitiu que a pesquisadora descobrisse mais não apenas sobre a ligação do escritor com a Grécia Antiga, mas, inclusive, sobre o processo de produção literária do escritor. O seu íntimo relacionamento com o tema se reinventava e também possuía uma grande responsabilidade em relação ao caráter envolvente da obra do autor.

“A criação, na verdade, é uma recriação de distintas experiências. Percebi que, apesar das infindas leituras de Lobato, muito se realizou em sua obra pela troca de cartas com os amigos, pela vivência na fazenda do avô, nas suas editoras, na política. Percebi que, para ele, tudo fazia parte de seu processo de criação, não apenas suas leituras.”

Outra surpresa foi perceber que a obra de Lobato é marcada por um processo de criação e recriação, em que o autor não se considerava como suficiente, e que a inspiração não vinha do nada. “É gratificante encontrar um manuscrito, uma carta ao amigo, ou mesmo um pedido de um leitor, realizado no texto. Perceber que não existe pura ‘inspiração’ no trabalho literário, mas, antes de tudo, leituras, relações pessoais, vida cotidiana e trabalho.”