Topo

Ir ao Butantã vai tomar até 6 horas do meu dia, diz aluno da USP Leste

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

09/04/2014 05h00

As aulas de Georges Basile Stavracas Neto, 19, estudante de sistema da informação da EACH-USP (Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo), enfim retornaram no dia 31 de março, depois de mais de um mês de atraso em relação a outras unidades da instituição.

Apesar da volta às aulas, o estudante está preocupado com as grandes mudanças em sua rotina. Com a transferência dos cursos da EACH para prédios provisórios, Neto acredita que passará grande parte de seu tempo livre transitando pela cidade. Seu curso deveria ter recomeçado no dia 17 de fevereiro, junto com os demais alunos da USP, mas foi adiado devido à interdição do campus Leste pela Justiça em janeiro.

“Ir ao Butantã [região de um dos campi da USP], de fato, vai tomar de 4 a 6 horas do meu dia. Vou passar até 33% do meu tempo livre transitando pela cidade. Nesse tempo eu estudava, fazia trabalhos, programava, escrevia, treinava e lia”, afirma o estudante, que atualmente mora com os pais no bairro da Penha, região leste de São Paulo.

$escape.getH()uolbr_geraModulos($escape.getQ()embed-lista$escape.getQ(),$escape.getQ()/2014/leia-mais-1395343668611.vm$escape.getQ())

Antes da interdição do campus, Neto passava praticamente o dia inteiro nas dependências da USP Leste e gastava cerca de 10 minutos para chegar ao local. As aulas do estudante foram transferidas para os prédios da Unicid (Universidade Cidade de São Paulo - zona leste), Fatec (Faculdades de Tecnologia do Estado de São Paulo - zona leste) e Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (zona oeste).

“Ia para as aulas matinais, passava a tarde estudando e fazendo trabalhos e cursava as aulas noturnas. Almoçava e jantava no próprio local. Era bem prático, barato e conseguia conciliar essa carga anormal de estudos com outros compromissos pessoais”, lembra.

Dificuldade para estudar

“Nas matérias de computação, computador é ferramenta obrigatória e não posso usá-lo dentro de transporte público sob o risco de ser assaltado ou furtado. Agora, só posso ler o material impresso, que é exceção no curso”, acrescenta.

Outro problema relatado por Neto é em relação ao acesso dos materiais disponíveis na biblioteca da EACH. Com a interdição do campus, o local também foi fechado.  O receio do aluno é agora ter que pagar por livros necessários para seu curso.

Em um depoimento ao blog “Each seus problemas”, criado para estudantes e professores divulgarem suas dificuldades, o estudante calcula que em um mês poderia gastar R$ 500 (média de R$ 25 para almoço e janta) com alimentação, R$ 424 a mais do que costuma gastar no restaurante universitário (bandejão) do campus Leste. “De onde vou tirar tanto dinheiro?”, questiona.

Para Neto, a situação da EACH é inacreditável e os problemas do campus foram ignorados durante anos. “Essa não é a condição mínima exigida pelos órgãos públicos, o que vai acarretar, cedo ou tarde, em mais uma multa para a USP. É inacreditável, senão cômico, ver instituição pública [Governo] multando instituição pública [universidade]. Podemos nos manifestar, brigar e exigir, mas as ações têm sido lentas. Isso quando ocorrem”, afirma.

Resposta da USP Leste

Em comunicado publicado em seu site para alunos, docentes e funcionários, a instituição afirma que está acompanhando as dificuldades e buscando soluções "internamente e junto aos órgãos centrais da USP(...). A alimentação para os alunos do matutino e do vespertino ocorrerá na Fatec, onde estão sendo feitas obras para possibilitar o atendimento no decorrer da próxima semana. No período noturno, no Quadrilátero da Saúde, o atendimento para a alimentação está sendo ampliado até o limite possível."

Sobre o acervo de livros disponíveis aos estudantes, a USP Leste informa que as tratativas para disponibilizar espaço provisório para biblioteca, com títulos da bibliografia básica das disciplinas de todos os cursos de graduação da EACH, estão em andamento.

Histórico

Apesar de os problemas ambientais serem antigos na EACH, o caso só veio à tona em setembro do ano passado, depois que a USP foi autuada pela Cetesb e os professores e alunos começaram uma greve que durou 50 dias.

Em outubro, a Cetesb multou a USP em R$ 96.869,35 por não ter solucionado o problema ambiental e por estabelecer prazos considerados insatisfatórios. Em seguida, foi a vez de a Justiça determinar a interdição do campus, medida que foi cumprida no início de janeiro deste ano.

Na última sexta (5), a USP reconheceu que a unidade concebida para atender os estudantes não recebeu a devida atenção da universidade diante das várias advertências encaminhadas pela Cetesb. Segundo Marco Antonio Zago, atual reitor da universidade, a USP "deixou de tomar as providências que poderiam ter evitado essa situação que hoje enfrentamos."

O terreno onde o campus Leste foi construído foi cedido pelo governo de São Paulo em 2003.