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Alunos da UFJF fazem "saiaço" contra imposições e discriminação

Alunos e alunas foram de saia para a universidade - Laura Conceição/Arquivo Pessoal
Alunos e alunas foram de saia para a universidade Imagem: Laura Conceição/Arquivo Pessoal

Rayder Bragon

Do UOL, em Belo Horizonte

05/11/2014 17h40

Alunos da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) promoveram ontem (4) o evento “Terça de saia”, no qual os alunos de ambos os sexos foram convidados a usar saias durante as atividades no campus da instituição, localizada na cidade de Juiz de Fora (278 km de Belo Horizonte).

O intuito, segundo Bruno Simões Stephan, 22, presidente do Diretório Acadêmico Wladimir Herzog, da Faculdade de Comunicação Social da UFJF, foi o de questionar imposições da sociedade feitas a homens e mulheres e também ampliar o debate sobre racismo, sexismo e homofobia.

O universitário afirmou que o “saiaço” buscou também promover o debate contra formas de discriminação. “Esse tipo de evento é aberto para discutir todo tipo de opressão. Ou seja, discriminações, racismo e homofobia”, descreveu.

Stephan, que é aluno do 9º período do curso de comunicação social, disse que a experiência de vestir saias fez com que ele sentisse na pele o preconceito, do qual alguns grupos sociais são alvos, por serem diferentes do padrão idealizado e imposto pela maioria.

“Eu sou heterossexual, branco e nunca sofri nenhum tipo de preconceito. Mas ao colocar a saia, fiquei vulnerável ao olhar das pessoas com quem até então eu nunca tive nenhum problema na rua. Algumas pessoas olham com olhar de reprovação. Você começa a perceber o que muitas pessoas vivenciam cotidianamente e não conseguem sair dessa realidade preconceituosa’, declarou. Segundo ele, “você sai dessa experiência com a cabeça muito diferente”.

O ato contou com cerca de 50 pessoas, segundo o presidente do diretório. Os idealizadores pretendem promover outros eventos semelhantes. Segundo o estudante, a intenção é sempre debater as obrigatoriedades que são impostas às pessoas.  

“Um dos participantes, que tem um filho de pouco mais de um ano, disse que o menino poderá brincar com bonecas, caso assim o queira, como também pode brincar com carrinhos. A sociedade pressiona [meninos e meninas] a terem um comportamento já estabelecido, mas a gente discorda. Uma das formas de externar isso é o uso da saia [feito por homens]”, disse.

O estudante afirmou que as reações dos demais integrantes da comunidade acadêmica foram distintas. “Alguns ficaram curiosos sobre o porque de tantas pessoas usando saias na universidade e, ao saberem do motivo, não apresentaram nenhum repúdio. Já outras pessoas ficaram olhando de cara feia. Eu mesmo me deparei com um ônibus cheio de alunos do ensino fundamental, quando vinha de saias para a universidade, que me direcionaram muitas ofensas”, disse.

Conforme o estudante, a ideia do “saiaço” se baseou também no movimento “Pró-saia”, da Enecos (Executiva Nacional de Estudantes de Comunicação).

Confortável

O presidente do diretório acadêmico disse que alguns colegas adotam a saia como indumentária no cotidiano. Ele, no entanto, afirmou só usar a peça em eventos específicos.

A assessoria de imprensa da universidade informou que o evento foi formulado pelos alunos e não teve nenhuma interferência ou impedimento da reitoria.