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Não dá para pensar que aluno quieto e sentado por 5 horas está estudando

"Se você tem 80 alunos em uma sala, só consegue trabalhar com parâmetros, mas não consegue atingir a todos", acredita Guilherme do Val Toledo Prado, pesquisador da Unicamp - Divulgação/Grupos de Formação Rosaura Soligo
"Se você tem 80 alunos em uma sala, só consegue trabalhar com parâmetros, mas não consegue atingir a todos", acredita Guilherme do Val Toledo Prado, pesquisador da Unicamp Imagem: Divulgação/Grupos de Formação Rosaura Soligo

Thiago Varella

Do UOL, em Campinas (SP)

13/02/2015 11h19

As salas de aula na maioria das escolas brasileiras seguem o mesmo padrão: carteiras individuais enfileiradas abrigando um grande números de alunos por classes.

Neste começo de ano, em São Paulo, os professores da rede estadual de ensino denunciam que as salas estão ainda mais lotadas, com, muitas vezes, mais de 50 estudantes se apertando em poucos metros quadrados.

Para Guilherme do Val Toledo Prado, doutor em educação e professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), é impossível aprender nessas condições.

Não existe no Brasil uma lei que determine o limite de alunos por sala de aula - o que existem são projetos de lei que tentam estabelecer o limite de 25 alunos nos cinco primeiros anos do ensino fundamental e 35 estudantes nos anos seguintes.

"As salas de aula devem ter, no máximo, 30 alunos. E isso pensando no estilo brasileiro de carteiras. O ideal seria ter mesas, bancadas, estímulos à cooperação entre estudantes, com 25 pessoas por classe", explicou Prado. Nos primeiros anos de estudo, este número seria ainda mais baixo de, no máximo, 20 estudantes.

Prado conta que o ensino público no Brasil e, em especial, em São Paulo, prioriza a utilização do metro quadrado por pessoa em sala de aula. No entanto, do ponto de vista pedagógico, é preciso transformar o ambiente de ensino em função das necessidades pedagógicas.

"O Estado cria a impossibilidade de transformar o espaço diversamente. É a famosa fileira de carteiras com muitos alunos. Isso inviabiliza a possibildade de ter várias formas de trabalho. É o que acontece em várias salas de aula de trabalho", contou.

O velho modo de dar aulas com alunos sentados de maneira individual, ouvindo em silêncio a explicação dos professores, deve ser apenas uma das maneiras de se ensinar. Uma sala de aula menor, na visão do professor, estimula situações coletivas, debates e o trabalho de maneiras diversificadas.

"Em sala de aula, o individual não pode ser a regra. Não dá para pensar em alunos quietos sentados por cinco horas seguidas na mesma posição e pensar que estão estudando", afirmou.

Na Europa, segundo ele, o professor é um grande orientador e trabalha como mediador. Apenas 40% da aula é usada para que o professor fale. Além disso, salas de aulas lotadas desvinculam o professor da turma e fazem com que ele não conheça bem os alunos para quem está ensinando.

"Se você tem 80 alunos em uma sala, só consegue trabalhar com parâmetros, mas não consegue atingir a todos. Eu gosto de usar o conceito de agrupamentos produtivos, isto é, o aluno que tem bagagem em determinado assunto trabalha com quem não tem, e em outras matérias isso se inverte. Para organizar isso, o professor precisa conhecer os alunos, claro", explicou.

A Apeoesp contabiliza mais de 3.032 classes fechadas em todo o Estado e denuncia que algumas turmas tem até 80 alunos matriculados.  A Secretaria Estadual da Educação diz que o problema é pontual e que a distribuição dos alunos por turma ainda está sendo ajustada.