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Chiquinha Gonzaga adotou o próprio marido; veja mais curiosidades sobre ela

Ilustração da compositora, feita por Ralfe Braga para o site ChiquinhaGonzaga.com - Ralfe Braga/ChiquinhaGonzaga.com
Ilustração da compositora, feita por Ralfe Braga para o site ChiquinhaGonzaga.com Imagem: Ralfe Braga/ChiquinhaGonzaga.com

Do UOL, em São Paulo

28/02/2015 07h39

"Ó abre alas que eu quero passar. Ó abre alas que eu quero passar". Difícil não conhecer a famosa marchinha de carnaval relembrada todos os anos em blocos de rua espalhados pelo Brasil. A composição é a mais célebre de Chiquinha Gonzaga, que há 80 anos deixava os fãs órfãos de seu talento.

Educada para ser uma dama da sociedade carioca, ela desafiou costumes de sua época. Uma mulher desquitada, com filhos, tentando espaço no universo artístico e ainda a favor da libertação dos escravos era muito para a sociedade machista e patriarcal do Brasil do século 19.

Apesar das dificuldades, a artista musicou cerca de 77 peças de teatro e sua obra reúne mais de 2 mil composições, entre valsas, polcas, tangos e maxixes. Além disso, ficou conhecida como um dos grandes símbolos do feminismo no país. Pouca coisa, não?!

Conheça a seguir alguns fatos e curiosidades sobre sua vida e obra

1) Primeiro sucesso

Com o fracasso de seus relacionamentos amorosos, Chiquinha se dedicou a outra paixão: a música. Começou a dar aulas de piano para sustentar os filhos e aos poucos foi conhecendo artistas e passou a frequentar festas e rodas de chorões. Em 1877, em um desses encontros de músicos, ela compôs seu primeiro sucesso, a polca "Atraente", criada de improviso.

O Brasil passava na época por um fervor social e cultural. De um lado, alguns setores da sociedade começavam a contestar a escravidão. De outro, choro tomava conta da música popular brasileira. Os primeiros conjuntos oficiais do estilo musical surgiram por volta de 1880.

2) Primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil                             

Por ser mulher, enfrentou uma série de rejeições. Mesmo assim a compositora conseguiu ganhar cada vez mais espaço no meio artístico. Alguns anos depois do primeiro sucesso, Chiquinha começou a escrever partituras para peças teatrais.

Em 1885, ela musicou a opereta (pequena ópera, geralmente cômica) de costumes "A Corte na Roça", apenas a primeira de quase 80 produções para o teatro musicado. No mesmo ano, se tornou a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, ao dirigir os músicos do Teatro Imperial e a banda da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

3) Engajada em causas sociais e políticas

Paralelo aos trabalhos musicais, a compositora participou ativamente do movimento pela libertação dos escravos. Ela chegou a vender partituras de porta em porta para arrecadar dinheiro para a causa.

Conta-se que com o valor que conseguiu ao vender a partitura de sua música "Caramuru", ela comprou a alforria do escravo e músico José Flauta, em 1888. A lei que aboliu oficialmente o trabalho escravo no Brasil foi assinada em maio do mesmo ano (saiba mais sobre a Lei Áurea aqui).

A luta pela queda da monarquia também era uma bandeira defendida por ela. Em novembro de 1889, o Brasil pôs fim ao período imperial com a Proclamação da República.

4) O escândalo do Tango "Gaúcho”

As criações de Chiquinha Gonzaga se tornavam cada vez conhecidas com o passar dos anos. E uma das composições chegou a ser executada nos salões do Palácio do Catete (sede do governo na época), em meados de 1914.

O escolhido para entreter os participantes de um evento organizado por Nair de Tefé, esposa do então presidente, Marechal Hermes da Fonseca, foi o tango "Gaúcho".

Criado em 1897, foi lançado na peça "Zizinha Maxixe", de Machado Careca, que anos depois fez uma letra para a música e passou a chamá-la de “Corta-Jaca". A composição abalou a alta sociedade por ter sido considerada chula e grosseira.

5) Ó Abre-Alas para um novo amor

O sucesso “Ó Abre-Alas” foi criado em 1899 enquanto Chiquinha ouvia o ensaio do cordão carnavalesco Rosa de Ouro, no Andaraí. Com 52 anos, mal sabia ela que a canção se tornaria um marco em sua carreira.

No mesmo ano, a maestrina conheceu um novo amor, 36 anos mais novo que ela. O jovem português João Batista tinha apenas 16 anos quando se conheceram. O relacionamento deu tão certo, que viveram juntos até a morte da compositora, em 1935, aos 88 anos.

6) Chiquinha adotou o próprio marido

Sim, é isso mesmo que você leu. A maestrina apresentava seu terceiro (e último) marido, João Batista, como filho. Para evitar comentários e críticas da sociedade conservadora devido à grande diferença de idade entre o casal, Chiquinha preferiu fingir que seu companheiro era um filho adotivo.

Alguns anos depois da morte da compositora, João conseguiu um registro que o oficializava como filho dela com o primeiro marido, Jacinto Ribeiro do Amaral, oficial da Marinha Mercante. 

7) Ativista pelos direitos dos autores de teatro

Além de lutar pelo fim da escravidão, a Chiquinha também influenciou a luta pela defesa dos direitos autorais. Em 1917, ela liderou a fundação da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT), entidade existente até hoje que administra e arrecada direitos autorais de autores e compositores.