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Criança leva raticida para escola, e 15 vão parar no pronto-socorro em SP

A aluna de nove anos acreditava se tratar de confeito para bolos ou ração para peixes e distribuiu a substância para os colegas durante o recreio - Secretaria Municipal de Educação de Avaré
A aluna de nove anos acreditava se tratar de confeito para bolos ou ração para peixes e distribuiu a substância para os colegas durante o recreio Imagem: Secretaria Municipal de Educação de Avaré

Wagner Carvalho

Do UOL, em Bauru

26/05/2015 02h03

Quinze crianças foram parar no pronto-socorro, com suspeita de intoxicação, depois de entrarem em contato com um raticida - conhecido popularmente como chumbinho -, distribuído por uma colega na escola na manhã desta segunda-feira (25) em Avaré, distante 269 km de São Paulo.

O caso aconteceu na Escola Municipal Professora Norma Lilia Pereira, no bairro Chácara Tinoco. A aluna de nove anos, do 4º ano do ensino fundamental, acreditava se tratar de confeito para bolos ou ração para peixes e distribuiu a substância para os colegas durante o recreio.

As 15 crianças, entre nove e dez anos, passaram por processo de lavagem estomacal e ficaram em observação por cerca de seis horas. A dona de casa Ana Paula Barbosa, mãe de um menino de nove anos levado às pressas para atendimento médico, afirma que o filho relatou ter ingerido algumas “bolinhas” do veneno. O chumbinho tem aspecto físico geralmente sob a forma de um granulado cinza escuro ou grafite (cor de chumbo).

"Meu filho comeu cinco, mas teve uma criança que comeu mais, 15 ou 20 bolinhas. Quando a diretora foi avisada por uma das meninas que os coleguinhas estavam comendo comida de peixe, o frasco já estava praticamente vazio", contou.

Foi uma amiga da família quem reconheceu o filho da dona de casa, já no pronto-socorro, e a avisou. “A diretora da escola me ligou só depois que eu já estava no pronto-socorro, e ela não contou o que havia acontecido, apenas que meu filho havia passado mal”, conta. De acordo com ela, a escola tem um bom conceito na cidade e as crianças estudam lá em tempo integral.

Os pais das crianças que supostamente ingeriram o raticida foram avisados por telefone pela diretora da escola, Nali Khairallah, mas a maioria já havia tomado conhecimento do fato por terceiros. A mãe da menina que levou a substância tóxica à instituição de ensino, cuja identidade não foi divulgada, relatou à diretora que o frasco estava guardado na gaveta de um guarda-roupas e que nunca imaginou que a filha o levaria para a escola.

O Conselho Tutelar foi acionado pela diretora. A conselheira Marta Luzia Andrade Noronha Prado explica que nos próximos dias a mulher será chamada e receberá orientações de como armazenar em casa produtos que podem ser perigosos para a saúde das crianças, como os de limpeza, por exemplo. ”Como encontrou o veneno numa gaveta, a menina poderia ter encontrado um revólver e levado para a sala para mostrar para os coleguinhas, e a tragédia poderia ganhar proporções bem maiores”, exemplifica.

O delegado Levon Júnior, titular da Delegacia de Avaré e que registrou a ocorrência, acredita que tudo não tenha passado de uma brincadeira. Segundo ele, foi apurado que as crianças não chegaram a ingerir o raticida, já que a substância age rapidamente no organismo, causando graves consequências e podendo levar à morte.

“Alguns chegaram a levar na boca, mas logo cuspiram e outros nem isso fizeram. Foi apenas uma brincadeira de criança”, afirmou o delegado que registrou o boletim de ocorrência como não criminal.

Em nota enviada à reportagem do UOL, a Prefeitura de Avaré informou que quatro profissionais (inspetores e monitores) acompanhavam o recreio e frisou que o veneno foi levado por uma aluna. Os pais foram prontamente avisados do ocorrido. No final da tarde todas as crianças já haviam sido liberadas do pronto-socorro com recomendação de ingerir líquido e manter alimentação normal.

Ainda de acordo com a prefeitura, a diretoria da escola vai convocar uma reunião para dar esclarecimentos aos pais e lembrou que a comercialização de chumbinho é proibida no Brasil. “A Vigilância Sanitária Municipal é a responsável pela fiscalização da venda deste tipo de mercadoria. Quem comercializa o veneno, proibido por lei de ser vendido, pode ter seu comércio multado ou até interditado”, finaliza o Executivo em nota.

Sobre o veneno

O chumbinho é um produto clandestino, irregularmente utilizado como raticida e não possui registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Em geral trata-se de venenos agrícolas (agrotóxicos), de uso exclusivo na lavoura como inseticida, desviados do campo para os grandes centros e utilizados irregularmente como raticidas.

De acordo com a Anvisa, os agrotóxicos mais encontrados nos granulados tipo chumbinho pertencem ao grupo químico dos carbamatos e organofosforados, como verificado a partir de análises efetuadas em diversas cidades do país. O produto é adquirido geralmente por quadrilhas de contraventores por meio do roubo de cargas, contrabando de países vizinhos ao Brasil ou desvio das lavouras. A substância tóxica é fracionada ou diluída e revendida no comércio informal.