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Instituto com maior média tem aluno ajudando colega e veto de celular

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Imagem: Divulgação

Rayder Bragon

Do UOL, em Belo Horizonte

07/08/2015 06h00

“Aulas de nivelamento”, alunos ajudando colegas com deficiência nas disciplinas, professores bem preparados e engajados, além de rigor na disciplina estudantil, foram alguns dos fatores apontados para que o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais – campus São João Evangelista (a 290 km de Belo Horizonte) –, uma instituição de ensino público, obtivesse a maior média nas provas objetivas, superando escolas consideradas de elite.

A unidade de ensino está situada numa região pobre de Minas Gerais e, mesmo assim, a média obtida no Enem 2014 (Exame Nacional do Ensino Médio) ficou em 578,89, mais que os 538,15 pontos de média geral obtidos pelas escolas com alunos com os níveis socioeconômicos mais altos. Lá, os alunos são submetidos ao ensino técnico-profissionalizante integrado com o ensino médio. Assim, os estudantes têm aulas em tempo integral.

De acordo com Cláudia Marisa Pimenta, diretora de ensino do instituto, aos alunos que apresentam deficiência nas disciplinas são ofertadas as chamadas “aulas de nivelamento”, ministradas no turno da noite pelos próprios professores da entidade e por alunos que mais se destacam e inscritos como bolsistas remunerados. A ajuda que eles dão aos que apresentam deficiência pode ser considerada como um fator de homogeneização das turmas.

“As aulas de nivelamento vêm contribuindo muito para que ele [aluno] possa prosseguir normalmente com as aulas no mesmo estágio dos demais.

Em outra frente, os alunos também têm reforço no conteúdo quando se aproxima o Enem. “Nós temos o chamado pré-Enem. Os professores começam a dar aulas à noite, a partir de setembro, buscando o melhor desempenho deles na prova do Enem”, afirmou.

Outro detalhe é a proibição de uso de aparelhos celulares dentro de sala de aula. Caso o estudante persista no uso, ele pode ser suspenso. “O que tira completamente o foco do estudante dentro da sala de aula é o celular. O professor tem o direito de tomar o aparelho do aluno. Em casos extremos, a gente recolhe o celular e ele fica à espera para ser recolhido pelos pais na sala da diretoria’, descreveu.

A dirigente informou ainda que o corpo de docentes é qualificado e se engaja nas atividades de ensino. “Os nossos professores são de dedicação exclusiva, ou seja, eles só podem ser professores aqui no campus. Isso é muito positivo porque o professor não pode ter outro emprego”, afirmou.

Segundo ela, a maioria dos docentes tem doutorado e mestrado, mas isso não é uma exigência para que ele ingresse no instituto, que faz concurso para preencher as vagas.

“Para ingressar, não é exigido que ele tenha, mas o governo federal abriu plano de carreira que valoriza, em termos salariais, o professor que tem mestrado ou doutorado. Então, quem não tem está correndo atrás”, explicou. O docente tem de cumprir três anos de serviço no local para poder pleitear uma transferência. De acordo com a dirigente, a rotatividade não é alta.

Para o professor Flávio Puff, que leciona história, o instituto dá condições ao professor de exercer de maneira satisfatória a profissão e exemplificou.

“O professor aqui quase nunca tem problema com questões disciplinares, temos apoio da direção do instituto. O ambiente de respeito é muito grande. Por outro lado, nós temos, por exemplo, ônibus para levar os meninos para conhecer [o município de] Ouro Preto [cidade histórica de Minas Gerais]. Falando do meu caso, que sou professor de história, isso é muito importante. E a escola tem uma sensibilidade muito grande com a condição socioeconômica dos meninos”, avaliou.

Ele ainda disse que os colegas se ajustam ao perfil do instituto quando da sua chegada ao campus.

“Não adianta você ter mestrado ou doutorado se não souber entender a realidade dos alunos. A gente se engaja no cotidiano deles e vamos em busca de fomentar a cultura de uma boa acolhida do aluno e, em seguida, de incentivá-lo a se desenvolver intelectualmente”, disse Puff.

“Nós estamos em um bolsão de pobreza aqui na região. O trabalho nosso aqui é muito focado no social. Os professores têm uma relação muito próxima com os alunos, para quem a escola é um agente de transformação, e uma noção clara da carência deles. A gente procura, em cima disso, desenvolver os trabalhos”, afirmou.

Na mesma linha de raciocínio, a universitária Isabela Bárbara de Souza, 19, que faz licenciatura em matemática, disse que o instituto proporciona a quem quer se dedicar aos estudos um ambiente adequado. A estudante fez o ensino médio combinado com o técnico na instituição.

“Os professores são muito bem preparados, dedicados e muito acessíveis. A escola tem uma boa estrutura, equipamentos, laboratórios bem equipados”, disse.

A intenção de Isabela é, segundo ela, concluir a graduação e prestar concurso para lecionar no próprio local onde estuda.

“Ela foi um divisor de águas na minha vida. É visível o quanto as outras escolas aqui não chegam nem perto da excelência do instituto. A gente convive também com outras pessoas de fora, que aumenta a nossa experiência”, afirmou.

Exame de seleção

O segundo semestre letivo não começou em razão de greve dos funcionários técnico-administrativos do instituto. No entanto, o aluno que deseja ingressar na instituição de ensino tem de se submeter a um exame de seleção. Por ser uma entidade de ensino federal, a unidade de ensino leva em conta as cotas implantadas pelo governo para o preenchimento das vagas, que são prioritárias para alunos de baixa renda e para os de cotas raciais. Em média, no último certame, foram cinco alunos disputando as vagas ofertadas nas disciplinas técnicas de agropecuária, suporte e manutenção em informática e nutrição e dietética. Além dos cursos de graduação em agronomia, engenharia florestal, matemática, sistemas de informação e silvicultura.

Ao todo, são 1.200 alunos matriculados. Outros 1.200 estudantes estão inscritos nos cursos do Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), do governo federal.

O instituto dispõe de alojamento para aproximadamente 220 alunos (masculino e feminino. Os demais se abrigam em repúblicas, pensões e hotéis na cidade. Segundo a diretora Cláudia Pimenta, a maioria dos estudantes que buscam a unidade de ensino é de cidades de Minas Gerais.