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Após frases racistas, símbolo nazista é desenhado em cartaz na Unesp

Cartaz colocado na Unesp contra o racismo teve uma suástica grafada - Reprodução
Cartaz colocado na Unesp contra o racismo teve uma suástica grafada Imagem: Reprodução

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Ribeirão Preto (SP)

08/08/2015 13h10

Um banheiro masculino da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Bauru (SP) voltou a apresentar pichações de cunho racista. No segundo caso em 11 dias, um cartaz colocado próximo ao Departamento de Comunicação Social da FAAC (Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação) como forma de protesto contra o racismo teve uma suástica e a palavra "hipócritas", grafadas nele. A instituição divulgou nota repudiando o fato e informou que irá investigar a autoria.

De acordo com o Coletivo Negro Kimpa, entidade que representa o movimento negro da Unesp,  e com o Nupe (Núcleo Negro para a Pesquisa e Extensão) da Unesp, as pichações da suástica nazista em cartazes de repúdio ao racismo foram encontradas na terça-feira por um aluno.

O Coletivo Kimpa tomou conhecimento e levou o caso até a direção da Faac.

Segundo o Coletivo Kimpa, o ato demonstra que a questão do racismo está incrustada dentro da universidade e precisa ser debatida. "Covardemente, o crime se alastra e mostra que os racistas estão tomando posição, mas sem a coragem de aparecer. A atitude de levantar o fascismo - regime que matou milhões de pessoas - na atual conjuntura mostra que o ódio vai além do absurdo”, disse a instituição, em nota.

Também em nota, a Unesp disse que repudia o desenho da suástica e que, depois que foi documentada, "a inscrição, realizada com caneta esferográfica sobre um cartaz que condena o racismo, foi retirada".

Ainda de acordo com a nota, a " Unesp condena pichações racistas ou que defendam movimentos que atentem contra o Estado Democrático de Direito. Informa ainda que conta com um Grupo de Prevenção da Violência que atua na conscientização da comunidade e no fomento aos Direitos Humanos e com um Observatório de Educação em Direitos Humanos".

Histórico

Onze dias antes, em 24 de julho, expressões racistas como "negras fedem" e "A Unesp está cheia de macacos fedidos" foram encontradas no mesmo banheiro.

Além de ofensas direcionadas a mulheres negras, havia também pichações que ofendendo o coordenador do Nupe (Núcleo Negro de Pesquisa e Extensão da Unesp), o professor do curso de jornalismo Juarez Xavier.

As mensagens foram apagadas por alunos no sábado e, no lugar, foram deixados cartazes com frases de conscientização, a maioria proferida por negros de destaque mundial, como Nelson Mandela e Bob Marley.

A Unesp informou ainda que as fotos retiradas com a pichação de suástica serão integradas ao processo que investiga os fatos e atos racistas praticados em 24 de julho. A comissão "foi instaurada dia 27 de julho, é composta por dois docentes e um servidor técnico administrativo e tem prazo de 30 dias para concluir os seus trabalhos", esclareceu a instituição.

As punições previstas para os autores, se identificados, variam da advertência verbal ao desligamento.

Além das sanções da universidade, os autores podem responder criminalmente pelos seus atos, já que o caso foi registrado na Polícia Civil como injúria racial e dano qualificado ao patrimônio público. No total, os responsáveis podem pegar até seis anos de prisão se identificados e condenados.

A reportagem falou ainda com o coordenador da Comissão do Negro e de Assuntos Discriminatórios da subseção de Bauru da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Antonio Carlos da Silva Barros. Ele informou que haverá uma reunião institucional com a Polícia Civil, na próxima semana, para discutir o caso e que a entidade acompanha o desdobramento das investigações.