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Bibliotecários tiram roupa e posam nus para financiar biblioteca LGBT

Edgard Matsuki

Colaboração para o UOL, em Brasília

06/01/2016 16h09

Precisando arrecadar fundos para construir a Biblioteca da Diversidade, um espaço destinado a fomentar o diálogo entre minorias religiosas e sexuais, 12 bibliotecários e estudantes tiraram a roupa e posaram nus para um calendário. Os modelos, de sete Estados diferentes, posaram voluntariamente.

A ideia do calendário é do brasiliense Cristian Santos, ex-vendedor de cocadas que conquistou cinco diplomas e virou servidor público. De acordo com ele, o calendário serviu para chamar atenção para o projeto e também quebrar estereótipos. “Tinha que fazer algo que sensibilizasse as pessoas para a causa e pudesse realizar doações. Escolhi homens para quebrar o estereótipo que existe no próprio meio de que apenas mulheres trabalham na área”, diz.

Até o momento, quase todos os 300 exemplares (com o preço de R$ 50) foram vendidos. Porém, Cristian (que realiza as vendas e entregas) diz que a repercussão tem ido além da venda direta. “O calendário serviu para as pessoas conhecerem a nossa ideia. Já recebemos doações de livros e até algumas empresas já conversaram com a gente. No exterior, já saíram matérias sobre a iniciativa na França, México, Espanha, Chile e Colômbia”, afirma.

Autores LGBT também já se ofereceram para pesquisar e levantar um acervo sobre o gênero no Brasil. “Eles ofereceram obras e também acharam interessante a ideia de se pesquisar sobre assunto no Brasil. Além disso, teve gente que também se ofereceu para posar para um eventual calendário 2017”, conta. 

Espaço para discutir a intolerância

Caso o calendário dê certo, a Biblioteca da Diversidade será um espaço para discutir intolerância sexual e religiosa. Além de atender o público LGBT, o espaço também visa contemplar religiões que sofrem preconceito como, por exemplo, as de matriz africana. “A cada 28 horas um homossexual é assassinado no Brasil. No ano passado, vários terreiros de candomblé sofreram invasões. Por isso, queria criar um espaço onde essas minorias poderiam ler e não sofrer preconceitos”, diz Cristian.

“Inicialmente, gostaríamos de arrecadar R$ 2 milhões para a compra de um espaço na Asa Sul (área central de Brasília). Sei que é ambicioso, mas não custa sonhar”, diz o bibliotecário. Até o momento, Cristian reúne um acervo de livros em sua casa. Todos os custos do local são arcados do bolso do bibliotecário (que trabalha na Câmara dos Deputados): “No momento, tudo funciona na minha casa. Mas queria um espaço com café e toda infraestrutura”.

A ideia que está sendo colocada em prática vem de alguns anos, quando o bibliotecário ainda era estudante: “Quando estava na UnB, presenciei uma coisa que me chocou: uma menina lésbica pegou um romance LGBT. Ela não viu, mas eu vi a bibliotecária fazer caras e bocas. E tudo o que eu quero é um espaço para que isso não aconteça”.