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'Quem é essa, papai?': confira outras expressões do 'baianês'

Durante show, Ivete Sangalo tem ciúmes e dá bronca no marido - Reprodução/Youtube
Durante show, Ivete Sangalo tem ciúmes e dá bronca no marido Imagem: Reprodução/Youtube

Do UOL, em São Paulo

06/01/2016 12h38

O ano começou e as rede sociais foram invadidas por um vídeo e vários memes do episódio em que a cantora Ivete Sangalo deu uma bronca no marido que conversava com uma mulher durante um show.

“Quem é essa aí, papai? Tá cheio de assunto, hein? Vou passar a mão na cara... Quem é essa daí?”, questionou a cantora. Logo depois, até o MEC (Ministério da Educação) usou a expressão “papai” em uma postagem do Facebook.

“Aqui é muito comum marido e mulher se tratarem “papai”, “mamãe”, “painho”, “mainha”. Deve ser o jeito que eles se tratam em casa”, disse Nivaldo Lariú, autor do “Dicionário Baianês”, que já teve seis edições e 220 mil exemplares vendidos.

Engenheiro de formação e baiano de coração, Lariú já reuniu mais de 1.500 expressões que, segundo ele, só existem na Bahia. “A linguagem popular baiana tem duas grandes características: o bom humor e a criatividade”, diz o fluminense de Itaperuna.

Além do ambiente doméstico, a palavra “pai”, segundo ele, também é usada em outros contextos. “O ‘pai’ ou ‘papá’ é como se fosse ‘cara’, ‘meo’. Por exemplo: ‘Vem cá, pai!’ ou ‘Me dá um dinheiro aí, pai’”, explica.

No universo do 'baianês'

A paixão de Lariú pela Bahia começou na adolescência, quando leu “Capitães da Areia”, de Jorge Amado. “Fiquei muito impressionado com a descrição que ele fazia de Salvador e da Bahia de maneira geral”, diz. Durante a faculdade de engenharia em Niterói morou em uma pensão e foi contaminado por um colega que “só tocava Dorival Caymmi”. “Eu assisti aos primeiros shows dos Novos Baianos em Niterói. Outra coincidência é que eu lia toda semana a coluna de Vinicius de Moraes no jornal O Pasquim [o poeta morava na Bahia à época]”.

Em 1972 finalmente foi morar na Bahia para trabalhar como engenheiro e começou a conhecer o universo do 'baianês'. “Uma vez um amigo disse: ‘Vamos pegar uma baba’, que é ‘jogar uma pelada’. Achei aquilo muito engraçado”.

Anos depois, decidiu começar a anotar todas as expressões que ele achava que eram de uso comum na Bahia. “Virou paranoia criativa, eu anotava palavras em todo lugar, até talão de cheque, e os amigos passaram a me alimentar com expressões”. “Aqui, por exemplo, as pessoas não se preocupam com a regra do feminino: de ladrão é ladrona”, afirma. “Aqui, 'cacete armado' é uma vendinha; 'cacetinho' é pão”, explica.

Lariú diz que está sempre em busca de atualizações para o seu dicionário e diz que o Carnaval é o melhor momento para ficar atento às novidades. “O Carnaval é um grande gerador de expressões, todo ano sempre tem uma nova. Mas eu sempre espero um tempo para ver se elas serão ou não incorporadas à comunicação popular”.

Confira expressões do Dicionário Baianês

  • A migué: À vontade, de forma esculhambada
  • Abafa-banca: Sorvete caseiro, feito na geladeira.
  • Abestalhado: Bobo, idiota
  • Abrir o gás: Se mandar, dar o fora rapidinho
  • Arriado dos quatro pneus: Totalmente apaixonado
  • Banda-voou: Cuca fresca, pessoa largada
  • Boiado: Cansado
  • Bolacha quebrada: Moleza, negócio de oportunidade
  • Bozenga: Mulher feia, de baixo astral
  • Bolinho de estudante: Bolinho de tapioca (também chamado de "punheta")
  • Cacete armado: Birosca, pequeno negócio mal arrumado
  • Cachação: Tapa
  • Canguinha: Pão duro 
  • Chamar Raul: Vomitar
  • Desbussolado: Perdido, desorientado
  • Enrolado no xale da doida: Cheio de coisas para fazer e sem tempo
  • Lavar a jega: Se dar bem
  • Loura-a-pulso: Falsa loura, loura oxigenada
  • Meia-Bahia: Todo mundo
  • Miseravão: Cara retado, alguém decidido, que resolve tudo
  • Na paleta: A pé
  • Perder a chave: Ficar sem graça, perder a graça
  • Pongar: Pegar carona
  • Procurar frete: Tirar onda, provocar
  • Queixar: Pedir para namorar, pedir algo na cara de pau
  • Quente-frio: Garrafa térmica
  • Sair na pipoca: Sair na rabeira do bloco de Carnaval, sem pagar
  • Tomar tenência na vida: Tomar jeito na vida