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Lideranças estudantis tentam política tradicional, mas negam 'oportunismo'

Carina Vitral, presidente da União Nacional dos Estudantes - Luis Ushirobira/Valor
Carina Vitral, presidente da União Nacional dos Estudantes Imagem: Luis Ushirobira/Valor

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

20/07/2016 06h00

Ao menos cem jovens em todo o País vão tentar trocar a liderança em entidades estudantis por cargos como prefeito e vereador nas eleições de outubro. O cálculo é da UNE (União Nacional dos Estudantes), da qual a própria presidente, Carina Vitral, 28, é pré-candidata à prefeitura de Santos (litoral sul de São Paulo).

As lideranças tentam ocupar parte do vácuo deixado pelos movimentos que arregimentaram milhares de pessoas às ruas, em junho de 2013, contra aumentos nas tarifas de transporte público. As “jornadas de junho”, como ficaram conhecidas, foram uma espécie de prova de fogo vinda das ruas, por exemplo, para as gestões do então recém eleito Fernando Haddad (PT), em São Paulo, e do recém-reeleito Eduardo Paes (PMDB), no Rio.

É natural que a nossa geração de jovens tenha rejeição pela política tradicional, pois, todo dia, a imprensa coloca na nossa cabeça que política é só roubalheira

Carina Vitral, 28, é pré-candidata à prefeitura de Santos e presidente da UNE

De caráter horizontal e refratárias à política tradicional, porém, as jornadas não fizeram lideranças capazes  de fazer frente a movimentos de centro-direita como os que empunharam as bandeiras anti-PT nas manifestações que se sucederam à reeleição de Dilma Rousseff, em outubro de 2014.

Agora, é como se elas tentassem recuperar a perda de terreno – como explica a própria presidente da UNE, em entrevista ao UOL, na condição de pré-candidata – a candidatura só deve ser confirmada pelo PCdoB nas convenções partidárias.

Recuperando terreno na política

“A gente precisa desmistificar esse debate sobre criar lideranças – é muito importante criá-las não pensando no sonho individual de projeção, mas sim, conectadas com as causas do povo, da juventude. Se não topamos ser representados, seremos representados por Cunhas e Bolsonaros”, disse Carina.

Para a presidente da UNE, estudante de economia na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), buscar a troca da política estudantil pela política tradicional “não soa oportunista” se o eleitor jovem pensar que “toda ação é política, mas, não necessariamente, diz respeito a roubalheira”.

“É natural que a nossa geração de jovens tenha rejeição pela política tradicional, pois, todo dia, a imprensa coloca na nossa cabeça é que política é só roubalheira. Mas desde uma manifestação à ocupação de uma escola ou a participação em um coletivo são formas de fazer política também”, defendeu.

“Junho de 2013 encampou uma demanda da sociedade em geral e por isso foi tão forte – e foi um movimento pelas mãos dos jovens. Ao mesmo tempo, frustrou pelo quanto que não forjou lideranças que pudessem renovar a política: elegemos o Congresso mais conservador”, definiu a presidente da UNE. “Se tivéssemos mais lideranças na política, no pós-junho de 2013, talvez tivéssemos tido mais controle de dizer [durante a campanha pró-impeachment] que, aqui, a direita não se criaria”, conjecturou.

O cálculo estimado de cerca de cem lideranças que pleitearão mandatos na política tradicional, de acordo com a UNE, considera não apenas dirigentes da entidade como os de organismos como uniões estudantis estaduais, DCEs (Diretórios Centrais de Estudantes) e CAs (Centros Acadêmicos).

Filiado ao PT é pré-candidato no Rio

Filiado ao PT e vice-presidente da UNE na gestão anterior à de Carina, Mitã Chalfun é outra liderança que vai disputar a eleição municipal este ano, mas no Rio de Janeiro. Pré-candidato a uma vaga de vereador, o estudante de educação física na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) também rechaçou ação oportunista ao se valer da política como suposto trampolim para a política partidária.

“Todas as conquistas de que eu pude participar foram por meio do movimento estudantil, mas a política tradicional tem o seu papel de importância – e se o movimento dos estudantes conquista isso, é também uma vitória social, mas conquistada porque teve uma política partidária que soube ouvir a demanda do estudante”, defendeu.

Na avaliação de Chalfun, ainda que transformações sociais se deem “pela organização comunitária de entidades como UNE, CUT (Central [Única dos Trabalhadores) e MST (Movimento dos Sem Teto)”, é a “política tradicional que efetivamente muda a vida das pessoas.”

“Acho que podem, sim, associar uma pré-candidatura como a minha a um oportunismo, mas isso em função da credibilidade baixa do nosso sistema político, que está falido. Necessitamos de uma reforma política estruturante, mas, hoje, a sociedade não se sente representada pelos políticos que estão aí postos, e nem eu me sinto”, resumiu.

Lideranças eleitas no Chile

Sobre os protestos comandados por jovens em 2013, a presidente nacional da UNE lembrou que, no Chile – onde milhares de estudantes foram às ruas protestar por ensino público em 2011 –, em torno de dez deputados jovens foram eleitos no pleito de 2013, dentre os quais, a líder estudantil Camila Vallejo.

É a maior aprovação de um dirigente comunista desde o fim da ditadura de Pinochet. Então com 25 anos, a integrante do Partido Comunista do Chile obteve 43,5% dos votos no distrito de La Florida e sagrou-se a deputada federal mais votada no País.

“Por que não ter o desafio de representar o jovem também aqui?”, indagou a presidente da UNE.