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"Ver um aluno ler não tem preço", diz docente que inovou forma de dar aula

Divulgação
Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

22/07/2016 06h00

Eric Camargo, 34, é professor numa escola de ensino fundamental em Cajamar (SP). Ele leciona há 12 anos e percebia que tinha um jeito muito mecânico de dar aula -- se baseava apenas nos conteúdos e nada além disso. Foi quando conheceu o projeto Comunidades de Aprendizagem, e resolveu mudar essa história.

Antes de começar a lecionar, Eric ficou em dúvida na carreira. Terminou o magistério, mas acabou enveredando por outro caminho. "Quando terminei o curso técnico de magistério não queria dar aula. Fui para São Paulo e comecei a fazer fisioterapia. Me formei, trabalhei dois anos num hospital, mas a docência nunca saiu da minha vida", conta Eric. Na faculdade de fisioterapia, seu lado professor sempre aflorava. "Dava aulas de revisão para colegas."

Ele voltou para sua cidade e começou a trabalhar na rede de lá e de São Paulo. Virou professor de ciências e entrou em contato com o projeto no ano de 2013. "No começo houve muita resistência. Até eu mesmo não acreditava, achava que era mais um modelo do exterior e que era uma prática muito distante da realidade dos alunos."

Dois anos depois, a escola resolveu retomar o trabalho, que faz parte de uma parceria entre o Instituto Natura e a Secretaria de Educação de Cajamar. Foi quando Eric dava aula para as turmas do sexto ano do ensino fundamental e resolveu trabalhar com tertúlias literárias -- espécie de debate em torno de livros clássicos. "A coordenadora na época nos deu total apoio. Mas surgiram alguns empecilhos. Um deles foi que tínhamos apenas três exemplares de Dom Quixote."

O professor separou quinzenalmente duas aulas da sua grade para desenvolver os debates. O problema da falta de exemplares acabou sendo resolvido por meio de cópias de alguns capítulos dos livros para serem distribuídas entre os alunos.

"O gosto pela leitura começou a ser despertado nos alunos. Foi muito importante para que eles aceitassem mais opiniões diferentes", avalia. O projeto não era relacionado com provas, mas a melhoria na leitura dos alunos ficou evidente durante o restante do ano letivo.

Participar da Comunidade de Aprendizagem também mudou a forma como Eric lecionava. "Percebi que tinha um jeito um pouco distante de lidar com os estudantes. Me concentrava no conteúdo que tinha que passar e não muito mais que isso. Com a tertúlia, estou vendo nascer uma nova relação com esses alunos, a ponto de eu começar a repensar algumas estratégias nas demais aulas regulares. Estou levando mais em conta os interesses e a opinião deles e o diálogo como ferramenta de aprendizado. Passei a basear mais os conteúdos nas vivências da minha turma e isso fortaleceu muito o meu vínculo com eles, que se mostram mais interessados, mais valorizados e participantes".

O professor admite que as dificuldades no começo foram grandes, mas que o resultado foi gratificante. "O trabalho não é simples, demanda acompanhamento, estudo, mas você tem um retorno. A satisfação que você tem em ver um aluno que não lia e sai lendo, um aluno que não falava e começa a ter uma oralidade melhor, não tem preço."

O projeto

O foco da proposta do projeto Comunidades de Aprendizagem, que é uma iniciativa do Instituto Natura, está na aprendizagem dos alunos e no envolvimento de familiares e membros da comunidade em um ambiente de diálogo que converte a escola em um espaço onde “todos somos responsáveis, todos aprendemos, todos ensinamos”.

A metodologia proposta por eles tenta mostrar que a implementação de princípios como diálogo igualitário, solidariedade, igualdade de diferenças e práticas de êxito que valorizam a diversidade nas interações, proporcionam a melhoria dos resultados dos alunos e uma maior coesão social.