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PA: Diretora veta trabalho sobre Pombagira em escola de "princípio cristão"

Diretora de escola cristã vetou manifestaçõe sobre candomblé (foto) - Eduardo Knapp/Folhapress
Diretora de escola cristã vetou manifestaçõe sobre candomblé (foto) Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

29/11/2016 06h00

A diretora do Centro de Educação Trindade, em Ananideua (na Grande Belém), proibiu estudantes do ensino médio de apresentar uma música em homenagem à Pombagira durante um festival e recebeu críticas de defensores da liberdade religiosa. A escola se intitula formadora de "princípios cristãos."

A Pombagira é um Exú feminino cultuado em religiões de matriz africana. São entidades mensageiras dos orixás que têm como missão traduzir orientações dos deuses e espíritos superiores. Ela representa também a mulher liberta da submissão e ordem dos homens em uma sociedade machista.

Em uma gravação feita por um celular, na última quarta-feira (23), estudantes aparecem já na sala da diretora, que pede para que eles apresentem a música que seria interpretada no Festival de Cultura da escola.

Ao ser informada de que se trata de uma música chamada "Pombagira Cigana", ela reage. "Pombagira? Credo!"

Em seguida, um dos alunos do grupo alega que ela precisa entender outras religiões, quando a diretora sobe o tom e veta a apresentação. "Não sou obrigada a entender as outras religiões! A escola tem um princípio cristão, e eu tenho de dizer para vocês que, dentro da minha escola, vai funcionar, vai se realizar, vai se apresentar o que eu achar conveniente. Negócio de pombagira eu não quero não aqui dentro", alegou em tom áspero.

Um dos alunos pede então respeito à tradição religiosa, quando a diretora bate na mesa e grita: "Eu não quero e acabou."

O UOL tentou entrar em contato com a direção da escola, mas as ligações aos dois números constantes na página da unidade não foram atendidos. 

Críticas e apoio

Em sua página no Facebook, a escola defende que tem como princípios "promover através da educação sócio-interacionista o desenvolvimento harmônico dos educandos, nos aspectos físico, intelectual, social e espiritual, formando cidadãos pensantes e úteis à comunidade, à Pátria e a Deus."

Na página, após o episódio, internautas se dividiram entre elogios e reclamações à postura da diretora. 

"Preconceito e discriminação religiosa são crimes. Aprendam que igreja e escola são duas instituições com objetivos diferentes. E que religião é essa, que ignora e despreza as manifestações de crença diferentes de suas convicções? O que temos de Sagrado nisso?", questiona um deles.

"Escola é para ensinar valores éticos, não para ensinar discriminação. Triste. Os pais dos alunos podem não ser cidadãos, mas a escola tem que ser, respeitar as leis, ser tolerante", disse outra internauta.

Uma internauta também deixou sua mensagem, mas de apoio à postura escolar. "É simples: não gosta dos ensinamentos da escola, é só mudar pra uma escola de umbanda, você não é obrigado a permanecer em um local onde não se sente bem", afirmou.

"Uma escola cristã para quem quer ter ensinamentos do cristianismo! Intolerância, nada! Apenas regras", defendeu outra.