Pais acampam na calçada de escola em João Pessoa para conseguir vagas
Maria Ivânia Minô, 57, passou muitos anos dependendo dos outros para ler até mesmo as bulas de seus remédios. De família humilde, mal frequentou a escola durante a infância e a adolescência. Depois dos 50 anos, aceitou o desafio de se matricular em uma das turmas da EJA (Educação de Jovens e Adultos) da Escola Doutor José Novais, em João Pessoa.
O colégio se destaca pelas altas notas no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e pelos projetos de leitura, mesmo possuindo uma estrutura física inferior à maioria das escolas da rede municipal da capital paraibana.
Na mesma sala de aula, Maria Ivânia e outros adultos viram o sonho da escrita se tornar real. “Foi uma das melhores coisas que me aconteceu, hoje eu tenho orgulho em dizer que consigo ler e escrever. Até concurso de redação já ganhei”, conta, orgulhosa. Durante os quatro anos em que frequentou a escola, ela fez questão de ser uma aluna aplicada, prestando atenção aos ensinamentos do professor e fazendo as tarefas de casa.
Seus três filhos também estudaram no José Novais e hoje em dia três netas são alunas da instituição. Foi por causa deles que ela voltou para a escola. As netas gêmeas, Júlia e Jéssica, alunas do quinto ano, afirmam que se orgulham da disposição da avó em voltar para a sala de aula. “A única coisa ruim foi ter que sair. Até pedi para a professora me reprovar para eu passar mais tempo, mas não teve jeito”, diz.
Segundo o diretor Fernando Menezes, o retorno à sala de aula --ou mesmo o primeiro contato com um lápis e um caderno-- se tornou um fato comum no José Novais nos últimos anos. “A comunidade reconhece o trabalho que realizamos na escola. Acho que é o reflexo disso que explica as turmas de EJA.”
'Acampamento' por vaga
Outro sintoma do sucesso da escola é a procura por vagas para o ensino fundamental. Segundo a vice-diretora, Valéria Simoneth, quando conseguir uma vaga é um desafio que exige vontade e disposição. Em anos anteriores, pais chegaram a passar três dias acampados na calçada da escola a fim de conseguir uma vaga. “As pessoas enfrentam sol e chuva para garantir a vaga, mas infelizmente não conseguimos atender toda a demanda. Tem pai que não entende e fica com raiva.”
Para o ano letivo de 2017, a escola oferecerá 40 vagas para o 1° ano do ensino fundamental. Os pais mais ansiosos desprezam o aviso afixado no portão da escola com as datas de matrículas e tentam convencer a direção a dar a vaga para um filho ou um neto.
“Todos os dias a gente recebe alguém fazendo esse mesmo pedido, mas a regra que vale para um vale para todos. A matrícula é por ordem de chegada”, afirma Simoneth. Segundo ela, no ano passado, foi preciso chamar a Polícia Militar para resolver um conflito entre pessoas que aguardavam na fila formada na calçada do colégio.
Com a crise, pais que mantinham os filhos estudando na rede privada agora buscam lugar no José Novais. Mas o diretor disse que cerca de 80% dos estudantes advindos da rede privada têm dificuldade em acompanhar o conteúdo ministrado em sala de aula.
A escola conta atualmente com 356 alunos, 18 professores e cinco salas de aula, todas do fundamental. A estrutura inclui biblioteca, sala de informática, pátio e direção. A escola também busca trabalhar a inclusão e as diferenças entre as crianças.
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