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Pais acampam na calçada de escola em João Pessoa para conseguir vagas

A Escola Municipal Doutor José Novais, em João Pessoa, se destaca nas notas e nos projetos de leitura - Assuero Lima/UOL
A Escola Municipal Doutor José Novais, em João Pessoa, se destaca nas notas e nos projetos de leitura Imagem: Assuero Lima/UOL

Valéria Sinésio

Colaboração para o UOL, em João Pessoa

05/01/2017 05h00

Maria Ivânia Minô, 57, passou muitos anos dependendo dos outros para ler até mesmo as bulas de seus remédios. De família humilde, mal frequentou a escola durante a infância e a adolescência. Depois dos 50 anos, aceitou o desafio de se matricular em uma das turmas da EJA (Educação de Jovens e Adultos) da Escola Doutor José Novais, em João Pessoa.

O colégio se destaca pelas altas notas no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e pelos projetos de leitura, mesmo possuindo uma estrutura física inferior à maioria das escolas da rede municipal da capital paraibana. 

Na mesma sala de aula, Maria Ivânia e outros adultos viram o sonho da escrita se tornar real. “Foi uma das melhores coisas que me aconteceu, hoje eu tenho orgulho em dizer que consigo ler e escrever. Até concurso de redação já ganhei”, conta, orgulhosa. Durante os quatro anos em que frequentou a escola, ela fez questão de ser uma aluna aplicada, prestando atenção aos ensinamentos do professor e fazendo as tarefas de casa. 

Seus três filhos também estudaram no José Novais e hoje em dia três netas são alunas da instituição. Foi por causa deles que ela voltou para a escola. As netas gêmeas, Júlia e Jéssica, alunas do quinto ano, afirmam que se orgulham da disposição da avó em voltar para a sala de aula. “A única coisa ruim foi ter que sair. Até pedi para a professora me reprovar para eu passar mais tempo, mas não teve jeito”, diz.

Segundo o diretor Fernando Menezes, o retorno à sala de aula --ou mesmo o primeiro contato com um lápis e um caderno-- se tornou um fato comum no José Novais nos últimos anos. “A comunidade reconhece o trabalho que realizamos na escola. Acho que é o reflexo disso que explica as turmas de EJA.”

'Acampamento' por vaga 

Outro sintoma do sucesso da escola é a procura por vagas para o ensino fundamental. Segundo a vice-diretora, Valéria Simoneth, quando conseguir uma vaga é um desafio que exige vontade e disposição. Em anos anteriores, pais chegaram a passar três dias acampados na calçada da escola a fim de conseguir uma vaga. “As pessoas enfrentam sol e chuva para garantir a vaga, mas infelizmente não conseguimos atender toda a demanda. Tem pai que não entende e fica com raiva.”

Para o ano letivo de 2017, a escola oferecerá 40 vagas para o 1° ano do ensino fundamental. Os pais mais ansiosos desprezam o aviso afixado no portão da escola com as datas de matrículas e tentam convencer a direção a dar a vaga para um filho ou um neto.

“Todos os dias a gente recebe alguém fazendo esse mesmo pedido, mas a regra que vale para um vale para todos. A matrícula é por ordem de chegada”, afirma Simoneth. Segundo ela, no ano passado, foi preciso chamar a Polícia Militar para resolver um conflito entre pessoas que aguardavam na fila formada na calçada do colégio.

Com a crise, pais que mantinham os filhos estudando na rede privada agora buscam lugar no José Novais. Mas o diretor disse que cerca de 80% dos estudantes advindos da rede privada têm dificuldade em acompanhar o conteúdo ministrado em sala de aula.

A escola conta atualmente com 356 alunos, 18 professores e cinco salas de aula, todas do fundamental. A estrutura inclui biblioteca, sala de informática, pátio e direção. A escola também busca trabalhar a inclusão e as diferenças entre as crianças.