Professor é afastado após dizer que "homossexualismo" é "perversão sexual"
Um professor universitário de 80 anos foi desligado de uma instituição de ensino privado, em João Pessoa (PB), após afirmar durante a aula que “homossexualismo” é “perversão sexual” e “aberração”. O desligamento do docente foi anunciado na noite de quinta-feira (29) pelo Unipê (Centro Universitário de João Pessoa), um dia após o relato do aluno Diógenes Dantas nas redes sociais. Em menos de 24 horas, a postagem tinha mais de 1.600 compartilhamentos.
De acordo com o relato do estudante, durante uma aula de medicina legal do curso de direito na qual tratava sobre perversões sexuais, o professor Alírio Batista “reduziu a dignidade de integrantes do grupo LGBTQ+ ao adjetivo aberração”.
O aluno continua a história destacando que por diversas vezes o professor usou o termo homossexualismo, quando deveria ser homossexualidade.
O termo homossexualismo é mal visto pelos movimentos de defesa de direitos humanos por remeter à época em que a homossexualidade era visto como uma doença pela sociedade.
“No final da aula pedi a devida licença para um adendo, informando respeitosamente que a aula ministrada estava atrasada em pelo menos 20 anos, uma vez que a homossexualidade (termo correto) não era considerada uma doença há muito tempo, sendo, inclusive, retirada da lista de doenças da OMS. Em resposta, o docente deixou claro que continuaria a propagar o seu posicionamento, uma vez que a matéria, segundo ele, sustentava ser uma aberração”, destacou Dantas no texto postado.
Em texto também postado em redes sociais, Batista diz que não manifestou “qualquer opinião de cunho pessoal sobre o tema, que viesse a justificar alguns adjetivos criados por terceiros, a exemplo de homofóbico”. O professor ainda termina o texto pedindo desculpas a quem possa ter se ofendido (leia mais abaixo).
Na versão do aluno, a confusão não terminou por aí. “Em tréplica, solicitei ao professor que informasse em sala que esse seria um conceito pessoal, e não da medicina legal, situação em que tive minha palavra cassada, como comprovava o áudio encaminhado para a ouvidoria, e que jamais recebi resposta”, afirmou.
Segundo o aluno, mais de dez denúncias de assédio e homofobia foram feitas à instituição contra o professor desde o mês de abril, mas nenhuma resposta foi dada.
Ainda de acordo com a postagem do estudante, sem saber o que fazer diante da atitude irredutível do professor, ele preferiu sair da sala de aula.
“Eu não sabia o que fazer, e a única atitude que enxerguei foi me retirar da sala de aula. Na próxima aula, meus colegas de turma comentaram que o professor, em sala, endossou ainda a discussão de que a origem de tal ‘doença’ seria ‘safadeza’ (sic), mas que ‘não gostaria de estender a conversa, pois essa gente era muito agressiva’”, pontuou.
Por fim, o aluno, indignado, escreveu: “Não confunda agressividade com coragem, professor. O senhor pode ter silenciado a minha voz, como a de muitos alunos que vieram antes de mim. As denúncias apresentadas à instituição podem ter sido completamente negligenciadas, mas o grito de quem luta diariamente contra a epidemia de violência que posiciona o Brasil como o país mais perigoso do mundo para grupos LGBTQ+ não vai cessar enquanto não nos for garantida a dignidade que nos pertence. Aberração, caro mestre, é esconder o seu preconceito no manto da liberdade de cátedra”.
Professor diz que não se tratava de opinião pessoal
A reportagem do UOL não conseguiu contato telefônico com o professor Alírio Batista. Em sua página pessoal no Facebook, ele fez uma postagem acerca do caso.
“Sobre a polêmica em questão e sua repercussão na internet, tenho dois alentos: o primeiro, de saber que a pessoa que se afirmou ofendida pelo episódio em sala de aula deixou claro em seu texto que jamais manifestei qualquer opinião de cunho pessoal sobre o tema, que viesse a justificar alguns adjetivos criados por terceiros, a exemplo de homofóbico. Não tenho como descrever o pesar que senti com esse desdobramento, tão automático nos dias de hoje em redes sociais”.
Em um texto longo, ele continua a explicação: “Concordando ou não com a classificação apresentada em aula (a opinião do professor é o que menos importa em medicina), mas, para o propósito desse pequeno instrumento de resposta, devo registrar que, naquele dia, ponderei aos alunos que se tratava de uma consideração sustentada por alguém anteriormente. Afinal, verdades matemáticas não existem nas ciências humanas e sociais, a despeito de se querer cobrar tal certeza em quase tudo que se propõe a ensinar e aprender em um curso de direito”.
Em seguida, o professor pede desculpas aos alunos que se sentiram de uma forma ou de outra ofendidos com sua posição em sala de aula.
“No afã de minimizar os efeitos das investidas que tenho injustamente sofrido desde ontem, registro minhas sinceras desculpas aos que assistiram minhas aulas e que, de qualquer forma, tenham-se ofendido em algum instante das minhas incontáveis horas de atividades acadêmicas. Digo de todo coração: jamais foi proposital ou decorrente de qualquer forma de preconceito. Tenho a certeza de que não estou sob o julgo de vocês, meus ex-alunos, e, por isso, antecipadamente agradeço”.
Por fim ele destacou que “quanto aos que, mesmo sem me conhecer, ainda que por breves segundos, levantam o dedo julgador e me submetem a suas próprias condenações, exteriorizadas nos comentários assacadas contra minha pessoa e fundamentados nas incertezas do episódio havido, invoco (em minha defesa) os testemunhas dos meus estimados ex-alunos, que facilmente podem ser encontrados em mais de 170 turmas que me homenagearam e me festejaram nas conclusões dos seus cursos durante essa minha pacata existência terrena. É vida que segue”.
Instituição diz que vai apurar
Em nota, o Unipê informou que o docente já não faz parte dos quadros ativos da instituição. A instituição destacou ainda que “como resultado dessa denúncia, o Unipê imediatamente iniciou uma análise interna, seguindo todos os tramites necessários para questões dessa natureza, inclusive com respeito à ampla defesa por parte do docente, reiterando os valores de justiça e igualdade de oportunidades de nossa instituição, na medida em que se trata de um professor decano, com 52 anos de cátedra e 80 anos de idade”.
Ainda na nota, o Unipê informou que no final de abril deste ano tomou conhecimento por meio da ouvidoria do caso “em que um docente supostamente teria agido de forma não condizente com os valores institucionais que o Unipê carrega consigo”.
E destacou que entre os valores da instituição está a busca pela justiça, verdade, igualdade de oportunidades e o respeito ao pluralismo e à diversidade nas suas mais variadas formas.
Professor pede desculpas nas redes sociais
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