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Grupos estudantis criticam USP por cotas só para alunos de escola pública

03.jul.2017 - Ato realizado no Masp pede cotas sócio-raciais na USP - Kevin David / A7 Press
03.jul.2017 - Ato realizado no Masp pede cotas sócio-raciais na USP Imagem: Kevin David / A7 Press

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

03/07/2017 20h43

Estudantes da USP (Universidade de São Paulo) se reuniram na noite desta segunda-feira (3) no vão livre do MASP em ato a favor de cotas étnico-raciais no processo seletivo da universidade. O protesto foi organizado pelos grupos estudantis Por Que A USP Não Tem Cotas?, Movimento Levante Indígena na USP, Núcleo de Consciência Negra e Diretório Central Estudantil Livre da USP.

O ato começou às 19h e é uma resposta à reunião do COG (Conselho de Graduação) da USP que aconteceu na última quarta-feira (28), quando foi aprovada a pauta de adoção de cotas sociais apenas para alunos de escola pública - e não por critérios raciais ou econômicos.

Nesta terça-feira (4), o COG baterá o martelo definitivamente sobre o assunto em reunião acadêmica que decidirá diversos assuntos, dentre eles, as cotas.

A desconsideração a um critério socioeconômico para adesão de cotas levou Tatiane Lima, 26, uma das líderes do Núcleo de consciência negra da USP, a discordar da pauta proposta pela faculdade. Segundo a aluna, o planejamento que está sendo proposto pelo movimento negro engloba cotas sócio-raciais aos negros, indígenas e aos demais desfavorecidos socioeconomicamente, não somente aos alunos de ensino público.

Lima ainda afirmou que, no âmbito do ensino e da quantidade de alunos negros, nem todas as escolas públicas são iguais, por isso o projeto de cotas deve ser mais bem elaborado e tem de contemplar todas as demandas de grupos étnicos desfavorecidos pela sociedade.

"Quando ela [USP] propõe uma cota racial sem recorte de renda e sem questão racial, ela está mandando um recado muito claro: ela não quer os negros ali dentro", afirmou.

Tuliê Jorge, 30, também endossou a importância das cotas étnico-raciais e a intenção do ato de levar esse debate para fora da cidade universitária.

Para Tuliê, "não só para diminuir esse fosso histórico dos negros, nós podemos adicionar muitas experiências de vida diferentes na faculdade". Ainda segundo o aluno do curso de geografia, "um garoto negro como eu tem conhecimento popular que alguém lá de Moema talvez não tenha, isso só traz riqueza ao ambiente da universidade".

Os coletivos negros realizarão mais um ato amanhã às 13h, dentro da cidade universitária, antes da reunião do Conselho.

Cotas raciais na Medicina

Apesar da decisão da USP, uma das faculdades da universidade, a Faculdade de Medicina, resolveu adotar cotas sócio-raciais a partir do próximo vestibular.

Das 175 vagas distribuídas pela FMUSP (Faculdade de Medicina da USP), 50 serão selecionadas via Sisu (Sistema de Seleção Unificada). Dessas, serão: 10 para ampla concorrência, 15 para alunos oriundos da rede pública que se autodeclarem pretos, pardos e indígenas e 25 para estudantes de escolas públicas (sem exigência racial).

O critério também será utilizado em outros três cursos da Faculdade de Medicina: fisioterapia (três vagas serão via Sisu), terapia ocupacional (três vagas) e fonoaudiologia (cinco vagas).