Família "superdotada" tem garoto formado aos 14 e irmão na faculdade aos 11
Com apenas 14 anos, o norte-americano Carson Huey-You se formou no último mês de maio em Física pela Universidade Cristã do Texas. O garoto é o mais jovem a completar uma graduação no estado norte-americano e não pensa em parar por aí. “Já vou começar o curso de pós-graduação e depois quero obter o doutorado em Física”, diz, em entrevista ao UOL.
Carson sempre teve facilidade nos estudos, pulou diversos anos na escola e foi admitido na universidade aos 10 anos. E não é o único fenômeno da família. Seu irmão, Cannan, 11, sonha em ser astronauta e vai começar em setembro uma graduação dupla em astrofísica e engenharia, pela mesma instituição.
A mãe dos estudantes, Claretta Kimp, educa os filhos em casa e conta que Carson demonstrou paixão pelos estudos antes mesmo de completar 12 meses.
“Percebi logo que ele tinha um dom, porque conseguia se focar por muito tempo, e aos 2 anos já lia livros”, lembra ela. Como o garoto aprendia rapidamente, começou a se sentir limitado na escola. Claretta pesquisou outras instituições até encontrar uma que aceitasse recebê-lo.
Com 5 anos, Carson fez o exame e foi aceito na 8ª série. Ele se formou no ensino médio cinco anos depois.
“Em um dia normal eu tomo café da manhã, estudo na universidade, almoço, reviso o material, saio com amigos, faço um lanche, jogo Minecraft, assisto à TV, janto, estudo mais e durmo cedo”, enumera Carson. Seus maiores hobbies são o videogame e brincar com seu irmão e o cachorro da família.
Superdotação
Casos de inteligência altíssima como os de Carson e Cannan costumam ser nomeados de superdotação ou porte de altas habilidades, característica presente em cerca de 5% da população global, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.
“Trata-se de um potencial superior que se concretiza em produções inovadoras. Essa dotação pode ser acadêmica, intelectual, artística, de liderança, entre outros”, explica a pedagoga Dora Cortat Simonetti, autora de uma tese de doutorado sobre o assunto.
A superdotação é explicada por uma combinação de genética e ambiente favorável. “Estima-se que o peso dos genes nas conexões cerebrais oscila entre 30% a 50%”, analisa. Assim, mesmo que os pais passem para os filhos traços favoráveis, é preciso de estímulo para que a inteligência excessiva se manifeste.
A análise envolve família, ambiente educacional e exames feitos por profissionais. “É importante identificar a criança porque, assim como aqueles com problema cognitivo ou hiperatividade precisam de acomodação na escola, o mesmo acontece com os superdotados”, explica a psicóloga Maria Alice Fontes, diretora da clínica Plenamente.
O método mais comum para firmar o diagnóstico é a realização de uma série de testes envolvendo áreas como linguagem, poder de compreensão e lógica para determinar o QI (Quociente de Inteligência). Alguém com QI de valor 120 é considerado como tendo inteligência superior e, se aproximando do 135, há suspeita de superdotação. O resultado entre 145 e 159 revela alguém altamente superdotado e, acima de 160, com capacidades excepcionais.
As profissionais concordam que há ressalvas para o método, uma vez que há diferentes habilidades e inteligências. “Estes testes não podem avaliar capacidade física. Um jovem com capacidade motora excepcional pode ser chamado para participar do Cirque du Soleil e apresentar QI baixo por não ser bom em matemática”, exemplifica Maria Alice.
Perguntada sobre se acha seus filhos superdotados e se há outras pessoas na família com características semelhantes, Claretta preferiu não comentar.
Orientação
Uma figura é essencial para superdotados nessa fase de descobrimento: o tutor capacitado na área de interesse do superdotado. Ele deve estar preparado para acolher e estimular o jovem, supervisionando os estudos e auxiliando a família e a comunidade acadêmica na integração.
“Se for necessário pular etapas na escola, por exemplo, o profissional deve se certificar que a criança ou adolescente esteja preparada para o convívio harmonioso com aqueles que não são seus pares”, explica Dora.
Carson contou com um profissional de sua área para orientá-lo. “Eu conversei muito com a direção da TCU até ter certeza de que todos estavam de acordo”, conta Magnus Rittby, professor de Física e vice-reitor da instituição.
A universidade teve que adequar sua estrutura desde o primeiro dia: o laboratório foi adaptado para a altura de Carson, os professores eram notificados com antecedência sobre ele e até os livros precisavam ser avaliados. “Por exemplo, se uma matéria usasse material impróprio para menores, a equipe se reunia para pensar em alternativas”, lembra Rittby.
Havia o receio de que o garoto não seria aceito pelos colegas, mas, no geral, ele foi bem recebido durante todo o curso, conta o professor: “Era comum os estudantes pedirem para tirar selfie com ele. Próximo da graduação era até difícil andar com ele pelo campus, tamanho o assédio”.
Carson se diz extremamente grato pelo apoio: “Rittby é meu mentor, melhor amigo e figura paterna. Sem sua paciência e apoio, tudo isso não seria possível”.
A instituição também estipulou que o jovem deveria ser acompanhado por um adulto de confiança enquanto andasse pelo campus. Claretta cumpriu esse papel, aproveitando o tempo ocioso para estudar com Cannan nos corredores.
Estrutura no Brasil
Em 2008, o Ministério da Educação (MEC) estabeleceu diretrizes de ensino com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Já em 2015, a identificação e atendimento especial aos alunos superdotados foram contemplados pela lei nº 13.234, que também prevê um cadastro nacional.
Apesar das iniciativas, grande parte do apoio a essas pessoas vem de associações ou entidades filantrópicas privadas, avalia Dora. A pedagoga encabeça o Altas Habilidades, grupo criado na década de 1990 para a divulgar o assunto e realizar estudos científicos.
“O MEC e as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação atuavam com muita timidez neste campo. Então a sociedade civil, sobretudo a acadêmica, sentiu a necessidade de promover uma reflexão e atuação sobre como atender essas pessoas”, opina.
Maria Alice ecoa: “A estrutura no Brasil está em fase de construção, caminhando lentamente. Os Estados Unidos, por exemplo, têm associações de pais de filhos superdotados. Há muito conhecimento disponível, então a família sabe para quem recorrer quando precisam de ajuda”.
O caminho, acredita, envolve capacitação: “A legislação já prevê atendimento especializado, mas precisamos urgentemente educar mais profissionais. Não temos professores preparados para lidar com os superdotados”.
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