Tempo, contas e profundidade de questões foram desafios do 2º dia do Enem, dizem professores
Mais “conteudista”, a prova de exatas do segundo dia de Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que tinha 45 questões de matemática e outras 45 de biologia, física e química, demandou dos candidatos muitos cálculos e jogo de cintura para administrar bem o tempo.
Temida pelos candidatos, a prova de matemática foi a mais difícil do dia de hoje para Gabriel Miranda, professor do Descomplica. Ele afirma, porém, que as questões não trouxeram nenhuma surpresa em relação aos temas abordados.
“Todos os assuntos estavam dentro do esperado. Não foi nada que o aluno não tivesse visto nas provas do Enem em anos anteriores”, explica.
As questões, segundo ele, estavam menos interpretativas --ou seja, era preciso saber fórmulas e conceitos para fazer a prova. “Os alunos que estudaram mais matemática com certeza se deram bem. Já quem esperava que caísse só porcentagem e proporção não tanto”, diz.
Celio Tasinafo, coordenador pedagógico da Oficina do Estudante, afirma que mesmo assim o Enem ainda se diferencia por ser uma prova contextualizada.
“É uma tendência de vários anos cobrar mais conteúdo sim, mas em matemática, por exemplo, não temos questões de cálculo pelo cálculo como acontece na Fuvest”, explica, criticando a prova de entrada da USP (Universidade de São Paulo).
O professor destaca as questões que, para ele, fazem parte da tentativa do Enem de se aproximar da realidade dos alunos: “Temos duas de pesquisas eleitorais, outra de geometria espacial relacionada a tanque para a criação de lagostas, outra de análise combinatória que fala da criação do símbolo da Copa de 2018”, conta.
Novidade na divisão dos dias
Para o professor Tasinafo, a dificuldade que os alunos enfrentaram hoje pode ser explicada pela mudança na divisão das provas do Enem: essa foi a primeira vez em que as questões de matemática e ciências da natureza foram aplicadas no mesmo dia. Antes, eram realizadas as provas de linguagens, redação e matemática no primeiro dia, enquanto no segundo eram feitas as provas de ciências da natureza e ciências humanas.
“São duas provas com muito cálculo. Isso que eu acho que eles estranharam mais. Mesmo quem treinou com as provas anteriores acabou pegando os cadernos de outros anos e fazendo como estava, com matemática e linguagens no mesmo dia”, conta.
Felipe Ribeiro, professor de biologia do Sistema COC de Ensino, também acha que a mudança pode ter acabado atrapalhando os alunos. Para ele, apesar de a prova de ciências da natureza não ter sido “trivial”, o que pode ter dificultado para os candidatos foi o tempo.
“O problema foi a prova de matemática ser no mesmo dia que biologia, física e química. E sim que são muitos cálculos”, diz o professor.
Ele destaca que a prova de ciências da natureza também foi bastante contextualizada, abordando temas desde depilação a laser, osmose reversa, circuitos elétricos e concentração de poluentes.
Uma questão interessante, segundo ele, abordou a absorção da água pelas bromélias. “É uma questão que descreve o ambiente de mata atlântica, dizendo que as plantas vivem uma em cima da outra, e pergunta como elas têm água. Isso acontece porque as bromélias absorvem a água da chuva pela folha”, explica o professor, que diz que a questão é inusitada “pelo conhecimento que foi cobrado”.
Já na avaliação do professor de biologia Rubens Oda, do curso Descomplica, a maior dificuldade que os candidatos enfrentaram na prova de hoje foi a presença de conteúdos esperados, mas cobrados com maior nível de detalhamento.
Ele cita como exemplo uma questão de genética que abordou um detalhe específico sobre o processo de espiralização do cromossomo X. Segundo o professor, isso é algo pouco conhecido dos estudantes do ensino médio. "Era esperado que caísse alguma coisa de genética, mas não no grau de profundidade e detalhamento que foi cobrado", diz.
* Com informações da Agência Brasil
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