A prova do Enem está melhor? Professores respondem
Principal porta de entrada em 63 universidades federais, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) vem mudando ao longo dos anos. Mas será que ele está melhorando? O exame pode exercer o papel de fazer justiça social, dando oportunidades equivalentes a estudantes de diferentes origens sociais?
Mais de 6,7 milhões de estudantes se inscreveram na edição deste ano do exame para tentar ter acesso a algumas das melhores universidades do país (a abstenção variou entre 29,8% e 32% nos dois domingos de prova).
O UOL promoveu um debate neste domingo (12) entre os professores Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo), e Vera Lúcia da Costa Antunes, professora e coordenadora do curso e colégio Objetivo.
Perguntamos a eles se esses estudantes enfrentaram uma prova mais justa e bem elaborada --especialmente em comparação com outros exames que selecionam candidatos a universidades do país.
A opinião comum foi que a prova está melhor, pois está mais de acordo com o currículo lecionado nas escolas de ensino médio. Mas o exame, por si só, não será suficiente para dar oportunidades iguais para estudantes que vieram de escolas públicas e privadas.
"O grande desafio é como garantir acesso [a universidades] para estudantes que vivem em condições [sociais] que são obstáculo”, afirmou Alavarse.
Segundo ele, o sistema de cotas adotado desde 2012 é uma grande conquista nesse sentido, mas não resolve o problema.
De acordo com esse sistema, 50% das vagas em universidades são reservados a alunos que fizeram o ensino médio em escolas públicas.
“No ensino médio no Brasil, só 12% das matrículas estão em escolas privadas e esses 12% ficam com 50% das vagas [nas universidades]”, disse.
“Nós temos um problema que na verdade não é exatamente do Enem, é um problema de justiça social”, disse Alavarse.
Mas, segundo ele, o Enem é “bastante razoável porque ele dialoga com o currículo que as escolas trabalham, diferente de outras avaliações em larga escala”. Em sua opinião outros exames vestibulares chegam até a usar procedimentos totalmente estranhos ao que é ensinado para a maioria dos estudantes.
Vera Lúcia disse concordar com a ideia de que o Enem reflete bem o currículo do ensino médio (e até conceitos do ensino fundamental). Segundo ela, a prova deste ano do Enem foi melhor que a de anos anteriores.
“A prova deste ano deixou professore satisfeitos. Ela tem o conteúdo que foi dado no ensino médio”, disse.
Segundo ela, ao invés de discutir se a prova e justa ou injusta, a sociedade precisa arrumar o ensino médio e as escolas públicas.
Enem em dois domingos
Pela primeira vez as provas do Enem foram realizadas em dois fins de semana diferentes. Vera Lúcia afirmou que o novo formato ficou melhor. “Dois dias seguidos eram muito cansativos”, avaliou.
Diferente de edições anteriores, no Enem deste ano provas foram agrupadas em humanas e linguagens em um domingo e exatas e biológicas no outro. “O raciocínio fica mais fácil com matérias afins”. Segundo ela não faltou tempo para a maioria dos candidatos terminar as provas --fato que teria sido mais frequente em anos anteriores.
Para Alavarse, o Enem deste ano pode até ter sido menos cansativo, mas isso não invalida o fato de que quem se preparou melhor vai conseguir colocações mais elevadas, independente do cansaço.
Correção democrática
O sistema de correção das provas do Enem é considerado democrático, segundo Alavarse. Isso porque o exame utiliza como forma de correção a TRI (Teoria de Resposta ao Item), um processo que atribui diferentes pesos a cada questão e tenta evitar que candidatos que "chutaram" respostas se saiam bem.
A TRI funciona de acordo com o percentual de erros e acertos dos candidatos em cada questão da prova. Aquela questão que for acertada por muitos candidatos é considerada fácil e, portanto, vale menos pontos.
Além disso, a TRI seria capaz de perceber quando a resposta do candidato não é compatível com seus erros e acertos nas demais questões. Por isso, quando um candidato "chuta" uma questão no Enem, sua nota pode diminuir.
“O cálculo da nota do aluno não é simplesmente a quantidade de acertos. É claro que a quantidade de acertos pesa, mas na verdade é a quantidade do tipo de item que o aluno acertou”, destaca.
“A Teoria da Resposta ao Item procura equilibrar entre aquilo que teria sido um acerto por um chute e um erro por um descuido. Então, se o aluno errou muitas questões fáceis e acerta uma difícil, é provável que essa difícil tenha sido fruto de um acerto ao acaso”, explica o professor.
Ele destaca que, por isso, a TRI beneficia o aluno que chegou ao Enem mais preparado, e não aquele que teve sorte chutando as respostas das questões.
CONFIRA O GABARITO EXTRAOFICIAL DESTE DOMINGO (12):
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