"Eles quebraram o meu nariz", relata professora agredida na Câmara em SP
“Eles quebraram o meu nariz. Eles quebraram o meu nariz!”. O desabafo é da professora Luciana Xavier, 42, agredida nesta quarta-feira (14) pela GCM (Guarda Civil Metropolitana) durante uma sessão da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), na Câmara de Vereadores de São Paulo.
Luciana e outros servidores públicos municipais –a maioria, professores –protestavam contra o projeto de lei que aumenta a alíquota de contribuição previdenciária em um dia que começou tumultuado na casa legislativa. O acesso do prédio ao público foi fechado às 11h, após a tentativa de invasão de um grupo de menos de cem servidores. Às 13h, a CCJ começou a análise do relatório sob gritos e xingamentos.
A agressão à professora aconteceu enquanto o projeto era lido em sessão da CCJ no Salão Nobre, no oitavo andar do prédio. O espaço havia sido preenchido já no final da manhã, outra razão pela qual a GCM fechara o acesso principal da Câmara ao público.
O UOL teve acesso a uma mensagem de áudio encaminhada agora à noite pela própria Luciana, no WhatsApp, a amigos professores que a acompanharam no protesto. Nela, a professora, mãe de dois filhos de 19 e 13 anos, agradeceu o apoio manifestado já desde a publicação da foto em que ela aparece ferida e disse que precisará operar o nariz.
Segundo a professora e também testemunhas da agressão, ela recebeu um golpe de cassetete, no nariz, efetuado por um GCM. Atendida primeiramente no ambulatório da Câmara, foi encaminhada na sequência ao Hospital do Servidor Público, na Aclimação (zona sul).
“Fico agradecida. Eu vou passar por cirurgia amanhã, preciso retornar”, disse, de saída do hospital e a caminho de casa. “Eles quebraram o meu nariz. Eles quebraram o meu nariz”, completou, emocionada. “Mas vai dar tudo certo, amanhã tenho que retornar, estou com o telefone do médico e ele disse que não vai me largar. (...) Fiquei agradecida de todas as mensagens que recebi e agradeço pela foto. E é isso, e tinha que acontecer, e tinha que ser assim, indiferente de quem estava perto, de quem pôde me defender... é a minha história. Eu não gostaria que fosse assim, mas espero que sirva de alguma coisa”, concluiu.
A agressão
Testemunhas relataram ao UOL que a professora foi agredida por um guarda civil metropolitano que integrava um cordão de isolamento em torno da mesa dos vereadores que integram a CCJ. Nesse momento, a sessão transcorria tensa, com manifestantes lançando xingamentos e gritos de guerra aos parlamentares a fim de que o projeto caísse da pauta.
Segundo a assessoria de imprensa da Câmara, o líder do Executivo, João Jorge (PSDB), lia o relatório da comissão quando teria sido atingido por uma garrafa plástica de água supostamente lançada pelos manifestantes. Com a ação, outros vereadores teriam se afastado atrás da mesa, e Claudio Fonseca (PPS), contrário ao projeto, caído no chão. No tumulto que se seguiu, Luciana foi agredida e deixou o espaço com o rosto ensanguentado.
A GCM acertou duas professoras, uma delas, Luciana. "Agrediram professoras que protestavam por um direito da categoria, de forma covarde, contra a dignidade humana. Adianta homenagear a mulher no dia 8 e agredir como fizeram hoje?", disse Ricardo Pinto, 41, professor da rede municipal desde 2006.
Ele contou que estava ao lado de Luciana quando ela foi agredida. Do lado de fora do prédio, manifestantes usaram uma das barreiras metálicas de proteção para forçar a entrada no prédio. A PM reagiu com mais bombas. Havia crianças e idosos do lado de fora do prédio.
Líder de Doria defende uso da força contra manifestantes
Ao UOL, o líder do prefeito João Doria (PSDB) na Casa e aliado dele na pré-candidatura ao governo do Estado defendeu o uso da força pela GCM e pela PM no ato de hoje.
"Tem que usar a força, senão, apenas um lado vai chegando e agredindo as pessoas, que poderiam sofrer alguma agressão física. A segurança pública tem que fazer valer o seu trabalho; por isso ela trabalha, por isso que ela ganha", disse o vereador.
O parlamentar alegou ter havido uma "invasão no oitavo andar" e conta que levou "uma garrafada e uma sapatada". No oitavo andar da Casa os servidores acompanhavam a discussão sobre o projeto. Lá que a professora Luciana foi agredida. "Você acha que segurança não tem que intervir? Acha que a força policial não tem que entrar e segurar os manifestantes mais agressivos? É lógico que sim", afirmou Jorge. "Se a pessoa vem com agressividade, é papel da polícia e do agente de segurança proteger o patrimônio público e os agentes públicos."
Indagado se considerava a ação da GCM e da PM – que lançou bombas de efeito moral e disparou balas de borracha, do lado de fora do prédio –proporcional à agressão que ele diz ter sofrido, o líder de Doria na Câmara foi taxativo: "Não vejo nada de anormal, não".
"Houve excesso das suas partes”, diz Doria
O prefeito de São Paulo, João Doria, disse que o Executivo municipal condena a "invasão" de professores na Câmara e admitiu ter havido excessos dos dois lados: manifestantes e guardas civis metropolitanos. Para o prefeito, o ato serviu para intimidar os parlamentares. A GCM não se manifestou.
Já o líder do governo Doria na Câmara, o vereador João Jorge (PSDB) defendeu o uso de força por parte da Polícia Militar e da GCM (Guarda Civil Metropolitana) para conter "manifestantes violentos" e contrários à mudança na Previdência municipal.
Em nota, a presidência da Câmara informou que eventuais excessos por parte das forças de segurança que atuam dentro do Legislativo serão apurados. Disse ainda que atuou “desde o princípio para garantir o amplo debate democrático” sobre o projeto de lei que quer mudar as regras da previdência dos servidores municipais. “Tanto que assegurou o acesso de manifestantes ao plenário onde ocorria a reunião da CCJ e ao auditório externo até a lotação máxima dos dois espaços, para garantir a segurança de todos, inclusive dos próprios manifestantes”.
Secretaria de Educação do município disse lamentar os transtornos causados pela paralisação de servidores e afirmou que todas as aulas perdidas serão repostas.
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