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Para cursinhos, fake news podem ser tema da redação do Enem 2018; veja estratégias

Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Leonardo Martins e Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

01/11/2018 04h00

Domingo (4) é o primeiro dia de provas do Enem (Exame Nacional do Ensino) 2018. Os mais de 5,5 milhões de participantes confirmados para o exame deverão elaborar uma redação e responder 45 questões de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e 45 questões de Ciências Humanas, em cinco horas e meia. A prova começa às 13h30, no horário de Brasília --trinta minutos após o fechamento dos portões, às 13h. O UOL fará a correção online extraoficial após o encerramento da prova, nos dois dias.

Em um ano repleto de temas polêmicas, além de eventos relevantes como eleições presidenciais e Copa do Mundo, cresce a apreensão em torno do tema da redação. O UOL perguntou a três professores de cursinhos que palpites eles têm sobre qual poderá ser o mote da dissertação deste ano, e todos mencionaram o impacto das fake news na vida dos brasileiros, seja no processo eleitoral ou em outras áreas, a exemplo das notícias falsas que circularam sobre as vacinas.

“O tema da redação é sempre algo que é uma surpresa, mas daria para arriscar alguns palpites. Talvez a questão das fake news, que está muito na mídia”, disse Marcelo Dias Carvalho, coordenador geral do Etapa.

Thiago Braga, coordenador de Redação e autor do Sistema de Ensino Ph, também mencionou as notícias falsas como possível tema, não o restringindo apenas ao processo eleitoral. “As fake news, pela relevância no mundo atual, no nosso processo eleitoral, também na questão da vacinação, no impacto que teve nesse âmbito. Então, a gente aposta nesse tema porque é uma discussão relevante”, diz Braga.

A coordenadora de Redação do Colégio Poliedro de São José dos Campos, Maria Catarina Rabelo Bozio, destaca o impacto das fake news especificamente nas campanhas de vacinação. Ela diz que o fato de o Ministério da Saúde ter demandado grande esforço para desmentir as informações falsas e alertar para os perigos dos movimentos de anti-vacinação pode ser um indicativo.

“A vacinação tem ficado muito em ênfase, já faz um tempo, agora mais com os movimentos anti-vacinação. O Ministério da Saúde tem feito várias postagens nas redes alertando sobre o perigo, sobre a volta de algumas das doenças que estavam praticamente erradicadas. Vi postagens sobre sarampo, coqueluche, rubéola”, diz.

Outras possibilidades: envelhecimento e evasão escolar

Carvalho e Bozio também citaram o envelhecimento da população brasileira como um possível tema. O Brasil atingiu a marca de 208,4 milhões de habitantes em 2018, segundo estimativa do IBGE, Deste número, 13% tem mais de 60 anos. A expectativa é que a população nessa faixa etária mais que dobre de tamanho até 2060 e atinja 32% do total dos brasileiros.

“No grupo das temáticas sociais, a temática do idoso, do envelhecimento da população brasileira, da inversão da pirâmide etária pode aparecer. Ela dialoga um pouco mais com geografia e outras disciplinas [das ciências humanas]”, diz Maria Catarina Rabelo Bozio.

Bozio e Braga ainda mencionaram a possibilidade de a redação abordar a evasão escolar. O coordenador de Redação do Sistema de Ensino Ph afirmou que a temática pode aparecer porque o Brasil tem verificado um aumento no número de estudantes que deixam de estudar. Hoje, mais de 2,5 milhões de crianças e adolescentes estão fora da escola.

“Isso deixou de ser um problema só de classes menos abastadas. Nós sempre pensamos no modelo de uma pessoa da periferia que tem que trabalhar e, por isso, abandona a escola. Mas está chegando na classe média”, afirma Tiago Braga.

Para Maria Catarina Rabelo Bozio, o tema da evasão escolar pode vir atrelado ao uso de novas tecnologias para tornar o estudo mais atrativo e reinventar o atual modelo de ensino. “O envolvimento da tecnologia na educação também entra nessa abordagem de deixar a escola mais atrativa, de diminuir a evasão, tentando usar esse recurso da tecnologia”, diz.

Além desses três temas, os professores aconselharam os alunos a ficarem de olho nestas outras temáticas:

  • Respeito à mulher;
  • Bulliyng nas escolas;
  • Mobilidade urbana;
  • Sistema carcerário brasileiro;
  • Pessoas em situação de rua;
  • Gravidez na adolescência;
  • Patrimônio cultural;
  • Crescimento das DSTs entre os jovens;
  • Tabagismo entre os jovens;
  • Obesidade;
  • Saúde mental;
  • Desmatamento.

Nessa reta final, pare de produzir e revise as redações

Questionada sobre quais dicas dar aos alunos para tranquilizá-los sobre a redação, a coordenadora de Redação do Poliedro orienta que os estudantes confiem no treinamento feito ao longo do ano, com os simulados e as revisões já feitas. Aos que ainda não se sentem preparados, ela aconselha não produzir mais textos, mas reler os que eles já fizeram ao longo do ano e, se avaliar que alguma das redações poderia ter tido um resultado melhor, refazê-la.

“Nas minhas aulas, eu oriento que se o estudante sabe que fica nervoso pare de ler sobre os temas, de fazer pesquisas. Porque ele fica procurando um monte de coisas, vai dormir de madrugada lendo, ai na hora da prova pode dar branco”, diz ela.

Já Thiago Braga, do Sistema de Ensino Ph, aconselha a montar parágrafos com a estrutura que seria usada para desenvolver uma redação, sem, contudo, construir de fato o texto. Como já está em cima do dia da prova, a dica é elencar quais informações (argumentos, referências e propostas concretas para solucionar o problema exposto) o participante colocaria em cada parte do texto sobre o tema

Não deixe a redação para o final da prova

Os três especialistas avisam que não é aconselhável deixar a construção da redação para o final das cinco horas e meia do Enem. Carvalho e Bozio acreditam que a melhor estratégia é ler os textos base da redação assim que for permitido abrir a prova e fazer o planejamento do que abordar no texto, mas não fazer a redação logo de cara. Maria Catarina Rabelo Bozio alerta: esse planejamento não deve passar de 20 minutos.

“Em vez de já começar a redação, ele anota algumas ideias que teve e vai fazer uma outra parte da prova. A gente recomenda isso porque dá tempo de, inconscientemente, ir trabalhando o tema e depois colocar as ideias de maneira mais sedimentada no papel”, diz Marcelo Dias Carvalho. “Os temas atuais abordados pelo Enem aliados aos textos base da redação acabam ajudando mesmo que indiretamente”, concorda Bozio.

Segundo os dois, o ideal é que, ao chegar na metade do tempo da prova, o estudante volte para a construir a redação. “Se deixar por último gera ansiedade. Depois de no máximo duas horas de prova, ele pode parar tudo e se dedicar à redação. Quando acabar o texto, pode continuar com o restante da prova, ainda com muito chão pela frente”, aconselha Carvalho.

Thiago Braga sugere estratégia diferente. Para ele, o aluno deve ler os textos base sobre o tema proposto e elaborar, em lista, um roteiro da estrutura da redação, separando por introdução, argumentos e conclusão. Feito isso, o candidato deve elencar as ideias que pretende usar em cada passo do texto, partir para o rascunho da redação e, posteriormente, passá-la a limpo. "Fazendo isso, ele [o aluno] transforma o pensamento dele em raciocínio, numa linha que se definiu. Desse roteiro, eles já podem começar a escrever o texto”, explica.

Em relação ao tempo, Braga sugere que os alunos separem vinte minutos para montar esse roteiro, e cinquenta minutos para produzir o rascunho e passá-lo a caneta. “O aluno deve fazer uma última revisão de norma culta no conteúdo da redação. Ou seja, de concordância verbal, regência, colocação pronominal, acentuação”, lembra.