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Brasileiro indicado a "Nobel da Educação" é proibido de dar aulas

Wemerson da Silva Nogueira, que já foi indicado ao prêmio de melhor professor do mundo - Arquivo pessoal
Wemerson da Silva Nogueira, que já foi indicado ao prêmio de melhor professor do mundo Imagem: Arquivo pessoal

Daniel Leite

Colaboração para o UOL, em Juiz de Fora (MG)

16/10/2019 19h39

Resumo da notícia

  • Secretaria diz que Wemerson da Silva Nogueira utilizou diplomas falsos
  • Professor foi condecorado por ter ensinado forma de estudar a tabela periódica
  • Nogueira diz que havia regularizado sua situação junto com a secretaria

Um dos ganhadores do prêmio "Educador Nota 10" em 2016 e concorrente ao "Teacher Global Prize de 2017 está proibido pelo governo do Espírito Santo de dar aulas na rede estadual pelos próximos cinco anos. O motivo alegado pela Sedu (Secretaria de Educação) é que ele utilizou diplomas falsos de dois cursos de licenciatura - Química e Ciências Biológicas - para exercer a profissão.

A publicação no Diário Oficial do Estado, no último dia 8, declara a "incompatibilidade" de Wemerson da Silva Nogueira "para nova investidura em cargo ou função pública estadual, por 05 (cinco) anos", pela prática de "ilícito administrativo". Wemerson rebateu a acusação em e-mail enviado ao UOL. Segundo ele, a Sedu constatou não ter havido irregularidades na sua documentação (leia mais abaixo).

Em 2016, na 19ª edição do "Educador Nota 10", evento promovido pela Fundação Victor Civita que premia os melhores professores do Brasil, Wemerson foi condecorado por ter apresentado uma forma mais atraente para estudar a tabela periódica, segundo o site oficial. "O professor escolheu partir do fato ambiental - a contaminação pela lama -, e da análise química da água para abordar os elementos da tabela de forma contextualizada", diz a página na internet.

Ainda segundo o site, "os trabalhos premiados são ideias simples e corajosas que mostram a importância de aprendizagem de crianças e jovens e a tarefa de mantê-los em uma boa escola, trabalho esse indispensável para a transformação deste país numa nação melhor e mais justa".

No ano seguinte, Wemerson foi o único brasileiro finalista do Teacher Global Prize, considerado o Nobel da Educação, feito então destacado também pelo MEC na ocasião. A vencedora foi uma canadense.

Corregedor da Secretaria de Educação diz que documentos eram falsos

Em 2015, uma nova ferramenta disponibilizada pelo Ministério da Educação permitiu a realização de auditorias mais detalhadas dos contratos e documentos dos profissionais da educação, segundo a Sedu. Wemerson dava aulas como temporário na cidade Nova Venécia, de acordo com o corregedor da Secretaria de Educação, Tarcísio Bobbio.

A documentação de Wemerson, diz Bobbio, apresentou problemas. "Numa dessas auditorias foi constatado que havia uma inconsistência em vários documentos dele".

De acordo com o corregedor, em vez de diploma, Wemerson apresentou duas declarações para dizer que concluiu os cursos de licenciatura em Ciências Biológicas e de Química. "Em outro momento, ele apresentou a cópia do diploma de licenciatura em Química e também um certificado de pós-graduação em Ciências Biológicas".

Os dois cursos de graduação e a pós teriam sido feitos, pelos documentos apresentados, em um período de cinco anos, de acordo com Bobbio, que afirma ter contatado a faculdade e a instituição confirmou a falsificação dos documentos na época.

Faculdade diz ter sido vítima de fraude

A Unimes informou por e-mail ter recebido na época a denúncia de diplomas falsos estarem possivelmente sendo emitidos no Espírito Santo em nome da instituição, no ano de 2015. Mas, segundo a instituição, os documentos saíram "em favor de terceiros que jamais fizeram parte dos registros acadêmicos".

De acordo com a universidade, foi instaurado inquérito policial no mesmo ano e, em 2016, a faculdade foi questionada sobre a documentação de Wemerson.

Na resposta ao governo capixaba, segundo o e-mail enviado ao UOL, a Unimes informou "que, em consultas aos registros acadêmicos, o Sr. Wemerson da Silva Nogueira nunca constou como aluno".

A universidade finaliza o e-mail reforçando que "o diploma não foi emitido pela UNIMES, tampouco tem registro do referido como aluno da mesma" e diz ter sido vítima de fraude. "Ressaltamos que a UNIMES foi vítima de fraude e jamais compactuará com esse tipo de procedimento, por ser uma instituição séria, tradicional e que preza pela qualidade de ensino".

Problemas na documentação foram corrigidos, diz Wemerson

Na sua rede social, Wemerson da Silva Nogueira se apresenta como "professor, palestrante, vencedor de grandes prêmios da Educação, melhor do Brasil e do mundo".

Em e-mail enviado ao UOL, ele se defende das acusações.

Wemerson disse que, na auditoria de 2015, foi comunicado, a exemplo de outros professores, segundo ele, da necessidade de regularizar a sua documentação.

Ele garante que fez os ajustes necessários, sem especificar quais. E afirma que, dias depois, recebeu um e-mail da Sedu que o tranquilizou. "Favor comunicar o servidor que após nova auditoria, verificou-se que sua documentação está dentro das regularidades junto ao MEC", foi a resposta, de acordo com Wemerson.

Wemerson enviou ao UOL o print do suposto e-mail. Nele, há a resposta de uma mulher que seria Agente de Suporte Educacional, mas com algumas palavras diferentes. "Peço informar ao servidor Wemerson da Silva Nogueira que foi finalizada a auditoria de seu contrato, estando sua documentação de acordo com o solicitado".

De posse desse documento, o UOL perguntou à Sedu se realmente foi constada na época regularização da documentação de Wemerson. O corregedor disse não ter conhecimento do suposto e-mail da Agente de Suporte Educacional e afirmou que vai investigar.

Também no e-mail enviado à reportagem, Wemerson se mostra surpreso quando, depois de ganhar o prêmio e participar do Global Teacher Prize, com seu reconhecimento "aumentando cada dia que passava", a Sedu teria feito mais uma auditoria na documentação quando ele havia passado em primeiro lugar para professor de Química no Espírito Santo.

"E eu até então fiquei despreocupado pois há um ano atrás ele já tinha verificado o erro e mandado consertar, fiz isso e ela mesma disse que estava OK, ou seja, não tenho o que duvidar".

Por isso, diz estranhar terem encontrado mais problemas nos seus documentos. "Não sei quem foi o auditor do meu documento que há um ano não tinha encontrado irregularidade e para assumir a vaga como efetivo, encontrou".

Para ele, houve má-fé. "Hoje interpreto que agiram de má-fé comigo e foram conivente com o erro cometido".

Acusado se diz vítima de golpistas

Perguntado se utilizou ou não diploma falso, Wemerson responde que "PAPEL DIPLOMA impresso pela faculdade não tem reconhecimento, pois não consta nos dados de registro da matriz da faculdade".

Segundo ele, em 2011 houve várias ofertas de cursos a distância no Estado. "Eu, assim como vários outros professores, se matricularam. Recebemos nossos diplomas e fomos enganados. Pois não sabíamos que os polos não tinham credenciamento ao MEC e convênio com a faculdade matriz".

Ele garante ter feito ensino a distância no polo da Unimes em Pancas, no interior capixaba. E enviou um suposto contrato carimbado com o nome da instituição de ensino e assinaturas.

A assessoria de imprensa da Unimes foi perguntada a respeito da veracidade do suposto contrato e reafirmou ter sido vítima e que a documentação é falsificada.

Fundação responsável pelo prêmio ainda não decidiu se cancela a condecoração

O UOL procurou a Fundação Victor Civita questionando se há alguma verificação na documentação dos candidatos ao prêmio para saber se há irregularidade, e se a condecoração a Wemerson será mantida após a publicação sobre o que ele teria cometido de ilícito.

Sobre a primeira indagação, a FVC respondeu que o regulamento é público e as informações pessoais "são de responsabilidade unicamente do professor ou gestor que faz sua inscrição. À Fundação cabe verificar a autenticidade dos trabalhos enviados, por um criterioso processo de seleção, envolvendo todos os itens citados no Regulamento, e também pelo envio de evidências que comprovem a experiência pedagógica e o efetivo aprendizado dos alunos".

Sobre cancelar ou não o prêmio, a fundação respondeu que ainda não tem uma decisão a respeito.