Por coronavírus, autônoma perde renda e não consegue pagar faculdade
Resumo da notícia
- Talita começou nova graduação em 2020 para investir em uma mudança de carreira
- Autônoma, ela se viu sem renda com o fechamento do comércio em decorrência do coronavírus
- Sem condições de pagar pelos estudos, diz não saber o que fazer com as contas
- Auxílio emergencial do governo vai funcionar como "tapa buraco", afirma Talita
No início deste ano, a autônoma Talita Cardoso, de 29 anos, decidiu começar uma nova graduação para investir em uma mudança de carreira. Barista há cerca de 10 anos, ela viu a oportunidade de trabalhar com o que sempre desejou, em uma bolsa parcial para o curso de bacharelado em artes visuais na FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), em São Paulo.
"Resolvi me matricular para tentar sair da vida de barista", diz. "Estava com a expectativa de, agora, conseguir um estágio para entrar na área e trabalhar com o que eu quero". Seus planos, no entanto, acabaram paralisados devido à crise do novo coronavírus.
Com o fechamento do comércio na cidade de São Paulo — e, com isso, do café onde trabalha —, ela ficou sem renda e sem condições de pagar as contas, inclusive a mensalidade da faculdade.
"Parando de trabalhar com essa crise, eu fico totalmente sem renda. Sou registrada como MEI e faço trabalho de barista freelancer", explica Talita, que trabalha no food truck independente Café Urbano.
"Eu não tenho nenhum dinheiro. O dinheiro que eu recebi no mês passado usei para pagar as contas do mês passado. E não vou receber o dinheiro deste mês, porque não trabalhei."
"Zero condições" de pagar a mensalidade
Talita mora sozinha e tem dois cachorros e um gato. Ela conta que, apesar de ter o privilégio de não pagar aluguel por morar em uma casa que é da família, nas circunstâncias atuais tem "zero condições" de arcar com os custos dos estudos. O pai, hoje, consegue ajudá-la com o básico para sobreviver.
Por ser bolsista, ela não pode pedir o trancamento do curso, senão perde o benefício. "Eu simplesmente não sei o que fazer", lamenta.
Talita afirma ter procurado a empresa terceirizada responsável pela parte financeira da faculdade para saber de possíveis alternativas. "Falei para eles que não tenho condições de pagar. Nem se me falarem para pagar R$ 100. Eu não tenho R$ 100", explica. Até o momento, no entanto, não recebeu nenhuma resposta.
Ao UOL, a FMU afirmou que entende e se solidariza com os estudantes neste momento, mas que por ter atuado rapidamente para impedir prejuízos acadêmicos aos alunos irá manter o valor das suas mensalidades. Entre as medidas adotadas, a instituição citou a implementação de uma plataforma de educação a distância, o treinamento dos professores para essa modalidade de ensino e a manutenção do emprego de docentes e servidores.
A instituição não respondeu, no entanto, se pretende adotar outras medidas para auxiliar os alunos que não consigam pagar a mensalidade integral devido à crise do coronavírus.
Dependência e atraso nos planos
Por ser autônoma, Talita tem direito a receber o auxílio emergencial de R$ 600 do governo federal. Mas, apesar de ser bem-vindo, ela avalia que vai acabar funcionando como "um tapa buraco". "Não é nem metade do que eu recebia antes, trabalhando", conta.
Apesar de ter perdido sua fonte de renda com a decretação da quarentena em São Paulo, Talita afirma ser favorável ao isolamento social como uma forma de conter a disseminação da covid-19.
Em casa, ela diz que a ansiedade, às vezes, "bate forte". "Tenho me sentido mal, porque a gente sempre almeja não ser dependente e ir atrás dos nossos sonhos", conta.
"Provavelmente isso vai atrasar meus planos. O plano que eu tinha, num futuro não muito distante, de fazer estágio, de mudar de área, já seguiu um caminho muito diferente."
Presidente do DCE do Mackenzie defende redução em mensalidades
Aluno do último ano do curso de Direito e presidente do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Vitor Mota, 23, conta que sua família foi surpreendida com um corte de 50% no salário da mãe, que trabalha em uma empresa administradora de estágios.
"Uma redução de 50% no salário de alguém da família afeta qualquer planejamento financeiro", diz ele, que defende que o Mackenzie adote alternativas para reduzir a mensalidade dos alunos que eventualmente tiverem perda de renda, em meio à crise do coronavírus.
Vitor trabalha como estagiário em uma empresa do setor de energia e relata que já dava parte do salário para os pais para ajudar com as contas da casa. "Agora, eu estagio basicamente para pagar a faculdade", declara.
Ele avalia que, se a crise do coronavírus se estender por "muito tempo", pode ter dificuldades para arcar com os custos dos estudos. "Acho que vou conseguir continuar pagando por um tempo, por mais que não sobre nada do meu salário. Mas não sei se minha mãe vai continuar contratada, se meu pai, que é zelador, vai continuar contratado", afirma.
Vitor diz que, assim como outros estudantes, procurou a administração da universidade para pedir uma redução na mensalidade, mas não teve resposta até o momento.
Acho que o Mackenzie consegue reduzir a mensalidade de alguma forma. Nem que seja o mínimo possível, com 10% ou 20% de desconto, ou tirando os juros e multas dos boletos. São medidas paliativas."
Vitor Mota, presidente do DCE na Universidade Presbiteriana Mackenzie
Ao UOL, o Mackenzie declarou estar aberto a todos os alunos que procurarem a instituição em razão de "comprovados problemas financeiros". "Com muita responsabilidade, buscaremos juntos solução para atender cada aluno e não prejudicar o seu desenvolvimento acadêmico", informa a universidade, que citou o financiamento estudantil como uma possível alternativa.
A instituição destacou ainda que, até o momento, foi registrada "significativa pontualidade nos pagamentos" por parte dos alunos.
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