Estudante da periferia de São Paulo vira pesquisadora trainee em Harvard
A universitária Isabelly Moraes Veríssimo dos Santos, de 19 anos, nascida e criada na periferia de Cubatão, no litoral de São Paulo, diz estar vivendo seu "maior sonho": ela é a mais nova integrante da equipe de pesquisadores trainees na Universidade de Harvard, uma das melhores do mundo.
Desde janeiro, a estudante vive na Flórida, nos Estados Unidos, onde faz faculdade de neurociência na Nova Southeastern University (NSU). Ao concluir o Ensino Médio, no final de 2019, ela foi aprovada em sete universidades internacionais - seis nos Estados Unidos e uma na Austrália.
Devido à pandemia, os seis primeiros meses de estudo de Isabelly na universidade norte-americana foram à distância. A jovem embarcou para os Estados Unidos apenas em dezembro do ano passado.
A decisão de tentar entrar no programa de trainee surgiu graças às férias de verão dos Estados Unidos, quando os universitários norte-americanos têm quatro meses de "descanso" das aulas para poder focar em programas de extensão.
"De maio a agosto as faculdades param para que os universitários possam desenvolver trabalhos e cursos acadêmicos para complementar o que aprendemos na universidade. Nesse período são abertos diversos programas de trainee e aproveitei para me inscrever", explica a jovem.
Isabelly lembra que se inscreveu em sete programas, mas foi recusada em quatro deles por não ter experiência em pesquisa de laboratório. Apesar dos "nãos", ela foi aceita em outros três, incluindo o de Harvard.
"Em Harvard foi justamente o contrário. Viram que eu não tinha experiência e me aceitaram para eu pudesse adquiri-la", comemora a universitária.
O processo de seleção durou dois meses e feito pelo professor brasileiro Rafael Rezende, que trabalha há quase dez anos na universidade.
Desde então, a jovem passou a integrar o time de pesquisadores comandados por ele.
"Estou trabalhando em um laboratório que fica em um hospital com convênio com a faculdade. Estamos trabalhando em uma pesquisa que procura tratamento oral para o espectro autista", explica Isabelly.
"Às vezes as pessoas pensam que os brasileiros não são muito bons nesse ramo de pesquisas, mas quando entro em um laboratório e falo que sou brasileira o que mais ouço são elogios a profissionais que já passaram por aqui. O brasileiro é muito bom em pesquisa", acrescenta a estudante.
Vida longe de casa
Morando nos Estados Unidos há pouco mais de sete meses, Isabelly conta que nos primeiros meses não foi fácil conviver com a distância de família e amigos, mas que agora já está acostumada.
"No início fiquei mal, me sentia sozinha, mas agora estou adaptada a essa nova vida", afirma a jovem.
A universitária conta ainda que pretende continuar no país norte-americano por, pelo menos, mais uma década.
"Quero estudar, fazer mestrado e me especializar. Se vou continuar por aqui depois ou se voltarei ao Brasil ainda é muito cedo para decidir", diz.
Aprovação em sete universidades internacionais
Ao UOL, Isabelly descreveu também o processo até chegar aos Estados Unidos.
Foi em 2019, quando cursava o terceiro ano do ensino médio integrado ao técnico em informática, no campus de Cubatão do Instituto Federal de São Paulo, que ela começou a pensar na possibilidade de estudar fora.
Interessada em neurociência, a estudante percebeu que fazer uma faculdade internacional seria o mais indicado. Para chegar ao seu objetivo aqui no Brasil, ela teria primeiro que cursar medicina, para então fazer uma pós-graduação em neurologia e depois uma especialização em neurociência, quando finalmente poderia atuar na área.
Filha de uma dona de casa e de um técnico em eletrônica, Isabelly diz ter ouvido de muitas pessoas, inclusive familiares, que deveria desistir do processo, já que "esse sonho não era possível".
Insistindo no objetivo, ela se inscreveu em dez universidades, sendo aceita em sete e ganhando bolsas de estudo em todas. Em seguida, a agora universitária começou a batalhar para conseguir dinheiro para as demais despesas e comprovar ter condições financeiras de se manter em outro país enquanto estivesse estudando.
Entre as sete universidades em que foi aceita, Isabelly escolheu estudar na Nova Southeastern University (NSU) pensando na situação financeira da família, já que os custos da jovem no exterior seriam mais baixos na instituição.
Para conseguir cursar a faculdade, antes de viajar, a estudante criou uma vaquinha virtual e arrecadou cerca de R$ 85 mil, o que garantiu seu passaporte para os Estados Unidos.
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