Dia do Saci: origem do nosso queridinho mistura lendas indígena e africana

Um dos personagens mais carismáticos e populares da cultura nacional, o Saci Pererê permeia a memória coletiva e carrega diversos significados. Há quem o veja como a representatividade do menino negro ou como um símbolo ecológico do ser que vive nas florestas. No Brasil, ele tem um dia só para ele: 31 de outubro, instituído por lei.

"É é um dos maiores personagens do folclore brasileiro e está bem pop. Como toda a história do folclore, surgiu pela contação oral, ou seja, foi passada de geração em geração até a versão de hoje. E que ainda se transforma, o que é muito bom, porque a geração de agora pode narrá-lo como o entende ou como gostaria que ele fosse. Acho que ele, às vezes, é mal compreendido, então vejo como uma oportunidade de resgatá-lo e manter vivo aquilo que é nosso", diz a socióloga e pedagoga Cida Chagas, autora do livro "Saci Pererê: O Menino Mágico e Travesso".

Raízes indígenas e africanas

Parte do realismo fantástico da literatura latino-americana, a história do menino que pula em uma perna só recebeu atualizações.

"Existem diferentes raízes africanas e indígenas que podem ter dado origem à história do Saci. Pode ter sido um africano escravizado, cuja perna foi cortada, e saiu vagando pela mata; pode ser uma criança indígena que perdeu a perna, são múltiplas teorias", acrescenta Verônica da Costa, educadora de curso de letramento racial.

  • O termo veio da língua tupi-guarani e sugere que a lenda relaciona-se com a etnia guarani.
  • A perna perdida estaria associada a uma luta de capoeira, elemento da cultura africana.
  • A carapuça e o cachimbo, por sua vez, teriam ligação com mitos europeus.

A versatilidade do menino de poderes mágicos se expressa de maneira plural, a depender do autor ou contador do caso.

"O Saci é apenas um personagem como tantos outros na literatura e nos contos orais. É uma história, um conto, um reconto. Tem alegorias, metáforas, abstrações. Então, é nesse lugar que o personagem deve ficar", diz Cida Chagas.

Da infância aos netos

Para a funcionária pública Áurea Rodrigues, o Saci foi apresentado por meio das palavras de sua mãe. Hoje, são os netos dela que aprendem sobre a lenda.

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"Ajudei meu neto Bernardo com o trabalho da escola sobre o folclore brasileiro, e é lógico que o Saci foi mencionado", conta. "Em épocas em que falsos mitos ganham notoriedade, valorizar os verdadeiros é uma forma de cultuar a ancestralidade e o gosto por boas histórias."

O personagem tem ainda mais um motivo de afeto para a família, já que é símbolo do time do coração, o Internacional.

Dos campos de futebol, passando por composições de Villa Lobos, Chiquinha Gonzaga e Baiana System, a livros, séries de TV, filmes, quadrinhos ou nos relatos orais, o Saci inspirou diversas criações nacionais.

Com seu redemoinho, tem espalhado brincadeira, espiritualidade, despertando consciências, identificação e reconhecimento em todas as regiões do Brasil e mundo afora.

Conheça livros sobre o Saci e o folclore brasileiro:

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O livro apresenta personagens diversos do folclore brasileiro com destaque para o enredo a respeito do Saci, personagem que há séculos está gravado na memória coletiva. O autor, formado em história, está entre os mais renomados pesquisadores da cultura brasileira com obras que abarcam lendas e tramas das quatro regiões do país. Editora Ática.

Com ilustrações de Elma, as páginas avançam conjugando duas tradições da cultura nacional, Saci e o cordel, típico da região Nordeste. A obra, ao contar situações diversas do protagonista e suas origens, busca entender como a fama do personagem se espalhou pelo tempo e espaço, permanecendo como uma das histórias de maior identidade do povo brasileiro. Paulus Editora.

O título promove um saboroso encontro entre figuras do folclore reconhecidas por sua espiritualidade e boas histórias. O mais famoso de todos, Saci Pererê, em companhia de outros personagens a exemplo de Pedro Malasartes, Romãozinho e Poronominare compartilham uma missão: a de não deixar o medo dos humanos morrer. A edição é ilustrada por Benje. Editora FTD Educação.

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Baseado em histórias inspiradoras de povos indígenas, o autor proporciona através dos textos uma obra de reverência à cultura dos originários. As páginas são ilustradas por Rosinha Campos e descrevem com sabedoria um sem-fim de enredos fantásticos, além de contextualizar informações acerca da situação atual dos indígenas em seus diversos territórios. Editora Callis.

A importância do cuidado com o tempo e a compreensão do conhecimento como ferramentas de autoestima e da construção da identidade estão no cerne da obra que ressalta histórias africanas e brasileiras. Em um mundo fantástico de espíritos, bichos e mistérios os relatos ganham sentido e permanecem vivos, além de oferecerem entretenimento ao leitor. Faro Editorial.

O conteúdo tem origem na ampla pesquisa da autora cuja intenção é apresentar diversos elementos, personagens e enredos relacionados com o folclore brasileiro e latino-americano. A obra discorre histórias e pontua informações e atualizações despertando o imaginário coletivo dos leitores de todas as regiões do Brasil e tem ilustração da Fábrica de Quadrinhos. Editora Caramelo.

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A resistência do povo guarani e a preservação de valores como a manutenção da língua, das cerimônias religiosas e a essência do modo de vida (nhande reko) estão presentes no curso dos contos dos curumins. As oito histórias revelam parte do cotidiano do coletivo que sobrevive a mais de 500 anos de espoliação desde o contato com o homem branco. Com ilustrações de Geraldo Valério. Editora FTD Educação.

Além de pregar suas peças com seus redemoinhos e assovios característicos, o Saci e seus companheiros, como a Mula sem Cabeça e o Lobisomem, são grandes guardiões das águas e das florestas na história situada às margens do rio Tietê. É o que nos conta o jovem Pedro relatando as aventuras do grupo em seus encontros. Com ilustrações de Ionit Zilberman. Editora Panda Books.

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