Rússia x Ucrânia: diferenças e semelhanças em relação às Guerras Mundiais
A invasão da Rússia na Ucrânia alavancou em redes sociais e buscadores de pesquisas questionamentos e comparações das grandes guerras com os conflitos atuais. Em comum, o drama humano dos civis em meio a bombardeios aéreos e à busca por abrigo no subsolo, além do envolvimento de grandes potências. Entre as principais diferenças, o arsenal nuclear dos países envolvidos.
Os ataques atuais têm origem na dissolução da União Soviética e a continuidade da expansão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) mesmo após o fim da Guerra Fria.
Na visão de pesquisadores, a primeira grande diferença entre as guerras é a de que o objetivo russo —num primeiro momento— é o de frear o avanço da aliança, e não de expandir suas forças militares.
"Esse movimento da Rússia não tem pretensão expansionista territorial, como no caso da Segunda Guerra. É a defesa de um espaço estrategicamente entendido como relevante ao país, mas às custas da soberania de outro estado já formado", explica Daniela Secches, professora de Relações Internacionais da PUC Minas.
A historiadora Ana Paula Salviatti, doutoranda pelo Instituto de Economia da Unicamp, pede cautela com as comparações: "A década de 1990 assistiu aos terríveis conflitos na região da Sérvia e da Bósnia e não se levantou a possibilidade de começarmos uma outra guerra mundial", afirma.
Secches aponta que a situação da Ucrânia, que se aproximou de potências do ocidente e da própria Otan, embora não seja um membro, indica uma "arquitetura ao contrário" entre a Segunda Guerra e o atual cenário.
"Além da localização, há mais um detalhe diferente: a condição de nuclearização das potências envolvidas também é um ponto de freio para um enfrentamento total, porque a presença de um arsenal nuclear tem muito custo."
No primeiro dia de invasão à Ucrânia, soldados russos tomaram a a usina nuclear de Chernobyl, palco de um dos piores acidentes nucleares do mundo. Autoridades ucranianas acusam a Rússia de tentar provocar uma nova catástrofe, já que o local, embora desativado, ainda possui resíduos nucleares.
Salviatti afirma que qualquer país com armamento nuclear "impõe grande tensão nos conflitos em que se envolve", mas reforça que é necessário aguardar mais desdobramentos para avaliar o cenário. A historiadora atenta para o fato de que os Estados Unidos, que enviaram 7 mil militares para a Europa, foram os únicos a usar armamento nuclear contra civis até o momento.
"A Rússia tem uma outra linguagem daquela a que estamos acostumados a ser utilizada pelos EUA. Os interesses em jogo nesse momento, na Rússia, estão relacionados a impor um limite às expansões da Otan", afirma.
Drama humano é maior paralelo entre guerras, diz historiadora
Para Franciele Becher, historiadora e doutoranda na Universidade de Paris, o drama vivido pela população em cenários de guerra é o maior fator em comum entre os conflitos.
"É um pouco complicado fazer comparações, porque são contextos diferentes. Mas puxando por esse lado da dimensão humana, cotidiana e corriqueira da guerra, é muito presente a sensação de incerteza", explica ela.
Outro paralelo em comum traçado por Becher são os bombardeios aéreos, que remetem especialmente a cenas vividas pelos europeus durante a Segunda Guerra.
"Quase todas as vítimas lembram da guerra aérea, a destruição, o barulho das sirenes, os entulhos nas ruas, o soterramento, as mortes e a sensação de impotência", relata.
A historiadora também compara as imagens de bombardeios em Paris e Londres, onde a população buscava refugio no metrô, aos registros feitos em Kiev, que mostram civis alojados nos trens subterrâneos para escapar de ataques aéreos.
"Você só pode fugir indo para o subsolo, então temos essas cenas do metrô. São os paralelos possíveis que podemos fazer, sobretudo com a Segunda Guerra", diz.
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