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Slides do governo Tarcísio têm erros de informação e português e cópias

Do UOL, em São Paulo

01/09/2023 04h00

Erros de português e de informação e falta de aprofundamento são alguns dos problemas dos slides usados nas escolas estaduais de São Paulo. É o que mostra uma análise feita pela Abrale (Associação Brasileira de Autores de Livros Educativos), obtida pelo UOL com exclusividade.

O diagnóstico é que os slides do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) seriam reprovados pelo PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) do governo federal.

O que aconteceu

A associação analisou os materiais usados ao longo de um mês nas turmas de 6º ano do ensino fundamental.

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"O pedaço de carne caíram [sic] na água", diz slide de uma aula de Língua Portuguesa. Há falhas ao explicar conceitos da disciplina como o uso de charge — o material apresenta uma ilustração e diz que é charge — e pontuação.

Isso nos permite recomendar que todo material sofra uma análise criteriosa. É um material descartável, porque dificilmente é recuperável.
Maria Cecilia Condeixa, presidente da Abrale e autora de materiais educativos há mais de 40 anos

A análise feita pela Abrale envolveu autores para cada disciplina. São especialistas responsáveis pela produção de livros que passam pelo crivo do MEC (Ministério da Educação).

O material é raso, superficial, enfadonho e prejudicial à formação da cidadania, por não fornecer textos, contextos e argumentos extraídos do mundo real -- e, quando lá estão, o uso é insatisfatório.
Abrale

Os slides são uma proposta do governo paulista para ter um material 100% digital produzido pela pasta. Em agosto, o secretário da Educação, Renato Feder, chegou a anunciar que a gestão Tarcísio recusaria os livros do PNLD — algo inédito para o estado. A decisão repercutiu mal. Especialistas e professores criticaram, e o assunto virou alvo da Justiça. O governo paulista recuou.

Essa análise amostral dos slides do 6º ano não é pontual, nem descontextualizada. A Seduc São Paulo já foi um exemplo para o país e hoje apresenta isso aos seus alunos.
Maria Cecilia Condeixa, da Abrale

Capital de SP tem praia, e Dom Pedro 2º assinou a Lei Áurea — e não sua filha, Princesa Isabel. O UOL já havia mostrado ontem problemas nos slides.

Após a reportagem, a Seduc (Secretaria da Educação do Estado de SP) afastou os servidores responsáveis. Procurada novamente, reciclou a mesma nota enviada ontem ao UOL.

Veja alguns dos erros

Slide do governo de São Paulo usa texto do IBGE, mas não cita crédito Imagem: Reprodução

Slides copiam textos na íntegra de outros sites e artigos, mas sem dar os devidos créditos. A situação foi observada em materiais de geografia, segundo a associação de autores de livros educativos.

Mapas com ou sem título. O material também entra em contradição ao afirmar sobre a importância de incluir títulos em mapas. Entretanto, há slides que apresentam mapas sem títulos e nem legendas.

A reportagem procurou a secretaria e citou detalhadamente cada erro encontrado. A pasta, porém, não respondeu especificamente sobre eles.

A coordenadoria pedagógica da instituição vai reforçar a equipe de revisão para que haja aprimoramentos constantes nos recursos didáticos, sempre em total harmonia com o Currículo Paulista.
Secretaria da Educação do Estado de São Paulo

Material do governo de SP apresenta erro de crase Imagem: Reprodução

Em outro slide da aula de Língua Portuguesa, há erro de crase no enunciado da atividade — o correto deveria ser "adaptando a gíria à norma-padrão".

Slide de matemática apresenta erros conceituais e de escrita Imagem: Reprodução

Material das aulas de matemática: os especialistas analisaram que "isoladamente cada uma das falhas pode ser considerada de pouca relevância", mas, ao olhar o conjunto de aulas, há uma série de erros e equívocos.

Um deles é o uso errado do sinal de igualdade na escrita da fração (veja imagem acima). Há também falhas ao explicar conceitos como ângulo e plano cartesiano.

Slide do governo Tarcísio apresenta erro de informação Imagem: Reprodução

A associação cita o slide acima para apontar diversos erros, como o idioma espanhol na disciplina de ciências. O uso de ilustrações e mapas em outra linguagem é motivo de reprovação no PNLD, diz a Abrale.

O texto também apresenta um erro de informação. O termo célula foi usado pela primeira vez pelo britânico Robert Hook em 1665, em seu livro Micrographia.

Em outra aula de ciências, o slide indica que a parasitose pode ser controlada com remédio. "Mas isso não acontece sempre. Entre os cães, por exemplo, a cinomose canina não pode ser curada com medicação. Ela é uma virose que depende da reação do organismo do animal para ser combatida. O melhor é prevenir com vacinação", explica a associação.

Vacinação é ignorada. Na mesma apresentação, os alunos conhecem outras doenças, mas em nenhum dos slides é citada a prevenção com vacina.

É inconcebível a permanência desse material em sala de aula, deformando a visão de mundo e a capacidade de continuar aprendendo de nossos estudantes, submetendo professores a corrigir textos incompreensíveis ou mesmo bizarros. Com certeza, um desvio na história da Seduc, que já viveu dias melhores.
Abrale

Você tem provas feitas pelo Estado que vão utilizar esse material. A gente deve se perguntar: o erro vai aparecer na prova? Se ele aparecer, é capaz de o aluno acertar. Se o erro não aparecer, o aluno também pode errar, porque não foi apresentado ao certo. É uma incidência de erros.
Maria Cecilia Condeixa

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