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Detector e novas leis: ações de outros países para evitar ataque em escolas

Uma adolescente foi morta no ataque a tiros na Escola Estadual Sapopemba, na zona leste de São Paulo, na última segunda-feira (23). Imagem: Wanderley Preite Sobrinho/UOL

Do UOL, em São Paulo

28/10/2023 04h00

Segurança armada e monitoramento na internet são algumas das medidas tomadas por outros países para combater os ataques a escolas. Especialistas ouvidos pelo UOL explicam quais ações podem inspirar os estados brasileiros.

O que já foi feito nos EUA

Os Estados Unidos, que registram o maior número de ataques a escolas no mundo, aposta no reforço de medidas de segurança. Além de detector de metal e policiais armados, as instituições de ensino adotaram travas de segurança em portas e lousas à prova de bala.

Reconhecimento facial, treinamentos e simulações de ataques se mostraram ineficazes. "As pesquisas mostram que isso causou uma enorme crise de ansiedade tanto nos alunos quanto nos professores", afirma Cleo Garcia, mestranda da Faculdade de Educação e integrante do Gepem (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral).

O problema de tornar a polícia armada uma parte integrante do ambiente escolar é que as taxas de apreensão de crianças aumentaram. Brigas que normalmente não envolveriam nenhum policial agora acabam com crianças apreendidas, porque um policial está no local para fazer a detenção. Isso significa que as crianças (especialmente as crianças não brancas) acabam no sistema de justiça criminal, com fins lucrativos, com mais frequência do que antes.
Sherry Towers, pesquisadora canadense

Especializada no impacto do "efeito contágio" dos ataques a escolas, Sherry diz que países como o Reino Unido criaram medidas mais rígidas no controle de armas, o que reduziu os tiroteios em colégios.

Nos EUA, explica a pesquisadora, a taxa da população armada é alta, o que não ocorre no Brasil. "Por isso, há esperança de que medidas como leis relacionadas ao armazenamento seguro de armas de fogo possam ter impacto [positivo] contra tiroteios em escolas", afirma.

Para Catarina de Almeida Santos, professora da Faculdade de Educação na UnB (Universidade de Brasília), as medidas de segurança são voltadas para o momento em que o atirador já chegou à escola. "Não se pensa em ações para que ele não chegue nem queira atacar a escola", afirma.

Novas leis e alianças entre países mostram caminho positivo

Espanha, Chile e Colômbia são exemplos de sucesso nesse tema, afirma Cleo. As escolas desses países contam com programas de convivência ética e democrática com o objetivo de melhorar a cultura e o clima entre alunos e professores.

A Colômbia criou, em 2013, centros de convivência escolar. Os espaços, instituídos por uma lei nacional, oferecem atendimento às vítimas de violência. Um sistema nacional de notificação também foi criado como uma ferramenta de prevenção.

Pesquisadora na Unicamp sobre o tema, Cleo cita ainda a importância da produção de materiais que orientem, a curto, médio e longo prazo, escolas alvo de ataques. "A Finlândia e a Nova Zelândia, por exemplo, têm protocolos que deram certo, porque os traumas são extensos e perduram por anos", afirma.

A Nova Zelândia também é conhecida internacionalmente por criar o fórum Christchurch Call to Action, que reúne diferentes países, como a França. A aliança foi responsável por criar mecanismos para investigar responsáveis por vazamento de imagens dos episódios violentos.

Há também o Global Internet Forum to Counter Terrorism. Além de representantes dos países, os grupos contam com pessoas das plataformas digitais.

São fóruns com participação de vários países, que investem pesado em desenvolvimento de tecnologia para monitoramento, detecção e intervenção em ações divulgadas em quaisquer plataformas na internet que mencionem atos extremistas.
Cleo Garcia, mestranda da Faculdade de Educação

O UOL perguntou ao MEC (Ministério da Educação) se o Brasil pretende aderir a um desses fóruns, mas a pasta não respondeu diretamente o tema (leia mais abaixo).

O que foi feito no Brasil

Desde abril deste ano, o país conta com um grupo de trabalho interministerial envolvido no tema. O objetivo da equipe, segundo o MEC, é "realizar estudos" e "propor política públicas para prevenção".

Entre as ações feitas até aqui, a pasta cita a produção de uma cartilha com "recomendações para o ambiente escolar seguro", cursos e a liberação de verba para municípios e estados.

O MEC está formalizando um termo de cooperação técnica com o Instituto Auschwitz para implementação do "Projeto Cidadania e democracia desde a escola" ,já testado e avaliado em um conjunto de escolas brasileiras. O projeto tem como objetivo criar e fortalecer espaços de diálogo nas escolas públicas do Brasil, baseados no respeito e na celebração da diversidade.
Ministério da Educação

Um relatório produzido por especialistas e representantes do MEC também será divulgado em 3 de novembro sobre o tema, segundo o governo federal.

Estados como São Paulo anunciaram psicólogos para alunos e professores, além de segurança desarmada. Especialistas afirmam que o caminho é incluir a discussão dentro das escolas como uma disciplina obrigatória.

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