Sem internet e água em laboratório, pesquisadores trabalham de casa

A falta de água, luz e internet no laboratório de pós-graduação em engenharia da UFRJ levou um grupo de pesquisadores a atuar de casa para não afetar o trabalho do programa de planejamento energético que desenvolvem na universidade.

O que acontece

À frente da pesquisa, o professor Roberto Schaeffer diz não sofrer com falta de bolsas ou de financiamentos, mas diz que sua equipe enfrenta dificuldades básicas. "O problema é que mesmo tendo recursos para a pesquisa, não posso resolver problema da precariedade da infraestrutura, como a falta de água, de energia elétrica e de internet."

Com projetos europeus, japonês e americanos, o professor faz reuniões virtuais diariamente. "Ontem não teve internet e na semana passada várias vezes também não", afirmou na última quinta-feira (21).

A falta de segurança no campus também o preocupa. "Comprei computadores muito caros para um projeto que tocamos e optei por colocar na casa dos pesquisadores, porque já houve caso de um rio inundar o laboratório e também registros de roubos de equipamento", relembrou. Os computadores custaram de R$ 20 mil a R$ 30 mil.

Com as dificuldades de infraestrutura, a escolha de trabalhar em casa tem permitido que as pesquisas avancem. O grupo do professor atua dentro do campo de pesquisa sobre energia e de mudanças climáticas.

Na última década, o orçamento nas instituições federais sofreu um enxugamento. Um estudo feito pelo Observatório do Conhecimento, formado por associações e sindicatos de professores, mostrou uma redução de R$ 117 bilhões nos últimos dez anos.

O orçamento de R$ 19 bilhões para o ano que vem preocupa a comunidade acadêmica e representa metade do que foi em 2014. A reportagem procurou o MEC e o MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), mas não obteve resposta.

O que diz o pesquisador

Além da infraestrutura, sofremos com a perda de pesquisadores bem informados que conseguem emprego fora. Nossa área está aquecida, você investe na formação das pessoas e elas vão embora, porque não têm oportunidades para elas [com bons salários, por exemplo].

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Parece que é fácil sugerir soluções, mas qualquer uma passa por dinheiro e investimento. Precisamos criar um centro de pesquisa. Temos capacidade técnica para desenvolver conhecimento em produto.
Roberto Schaeffer

Emendas parlamentares

Enquanto o orçamento pago pelo Executivo diminui, as emendas parlamentares às universidades têm aumentado. A informação é do Observatório do Conhecimento, obtidos pelo UOL com exclusividade. Em 2014, as verbas dos políticos representam nem 0,5%, mas em 2023 chegaram a 4,23% do total do orçamento do conhecimento — que inclui pesquisa.

As emendas saíram de R$ 167 milhões em 2014 para R$ 850 milhões neste ano — os valores foram corrigidos pelo IPCA. "É um quantitativo muito grande e frágil, que ressalta a desigualdade. Para que o gestor consiga uma emenda, ele precisa montar o projeto, ir para Brasília e ter uma articulação política que nem todos têm", explica Letícia Inácio, economista e pós-graduanda da UFRJ.

As universidades do Rio de Janeiro receberam mais verba de emenda. Segundo a análise, o Distrito Federal recebeu um "montante considerável". Os dados levantados pelo Observatório se basearam nas informações disponíveis no Siop (Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento), ligado ao Ministério do Planejamento.

A discussão começa quando as emendas entram nas discussões dos últimos anos para cobrir alguns gastos e custos, que eram cobertos pelo Executivo. E a diminuição do orçamento fragiliza muito as instituições que geram conhecimento.
Letícia Inácio, economista

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