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Analfabetismo recua e atinge 11,4 mi; taxa é maior entre indígenas e pretos

Taxa de analfabetismo recuou de 9,6% em 2010 para 7% em 2022 no Brasil Imagem: Hiraman/iStock
Stella Borges e Laila Nery

Do UOL, em São Paulo e colaboração para o UOL, em São Paulo

17/05/2024 10h00Atualizada em 17/05/2024 13h04

O índice de analfabetismo recuou, mas há ainda 11,4 milhões de pessoas com 15 anos ou mais no Brasil que não sabem ler ou escrever um bilhete simples. Idosos, indígenas e pretos e moradores do Nordeste são os mais afetados, diz o IBGE.

O que aconteceu

A taxa de analfabetismo no país caiu de 9,6% em 2010 para 7% em 2022. Isso significa que, nesse período, cerca de 2,5 milhões de pessoas de 15 anos ou mais deixaram de ser analfabetas — eram 13,9 milhões 12 anos antes. As informações integram o Censo 2022 e foram divulgadas pelo IBGE nesta sexta-feira (17).

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É o menor índice registrado desde 1940, quando mais da metade da população (56%) não era alfabetizada. Após quatro décadas, em 1980, houve aumento de 30,5 pontos percentuais na taxa de alfabetização, passando para 74,5%. Finalmente, depois de mais 42 anos, o país atingiu um percentual de 93% em 2022 — um aumento de 18,5 pontos percentuais em relação a 1980.

Em 2022, havia 163 milhões de pessoas de 15 anos ou mais no Brasil, das quais 151,5 milhões sabiam ler e escrever. O IBGE informou que, neste momento, optou por divulgar as informações referentes a esse recorte etário por ser o mais utilizado, internacionalmente, para a aferição da taxa de alfabetização.

Sidlene dos Santos Farias, 42, enfrentou tripla jornada para se alfabetizar Imagem: Arquivo pessoal

A merendeira Sidlene dos Santos Farias, 42, faz parte da população que se alfabetizou desde o último Censo. Mesmo com três filhos pequenos, ela se matriculou no EJA (Educação de Jovens e Adultos) e concluiu o ensino fundamental em 2017.

Leninha, como é conhecida, teve que enfrentar tripla jornada para estudar. Trabalhava como empregada doméstica de dia e como merendeira à noite. Nos finais de semana, ainda construía sua casa, com a ajuda de um amigo pedreiro, em Mutuípe (BA), cidade de 20 mil habitantes.

Tive o apoio dos meninos, eles faziam o básico e sempre foram muito bons. Mas cozinhar e lavar roupa, cuidar de uma casa depois de uma dupla jornada de trabalho, me cansava tanto que eu não aguentava.

A dura rotina a levou a interromper os estudos ao fim do fundamental, que ainda coincidiu com a morte do seu marido. Leninha comemora, porém, os estudos dos filhos.

Minha filha foi a que mais estudou, está terminando a faculdade. Meu filho mais velho, que está com 25 anos, fez o ensino médio, e o mais novo foi só até a sétima série, eu ainda estudei mais do que ele. Mas não julgo, estudar dá muito trabalho. Moramos numa cidade de vale com muitas ladeiras, voltar andando depois de um dia cansativo não é fácil.

Taxa de analfabetismo entre pretos e pardos é mais que o dobro da registrada entre brancos. O problema afeta 10,1% dos pretos, 8,8% dos pardos e 4,3% dos brancos. Para cor ou raça indígena (16,1%), quase quatro vezes maior que a de brancos.

A vantagem da população branca é registrada em todos os grupos etários, mas a distância em relação às demais caiu em comparação a 2010. Naquele ano a diferença era de 8,5 pontos percentuais para pretos, 7,1 para pardos e 17,4 para indígenas. Em 2022, ela caiu, respectivamente, para 5,8, 4,5 e 11,8 pontos percentuais.

O analfabetismo também atinge mais a camada mais velha da população. Em 2022, o grupo de 15 a 19 anos atingiu a menor taxa de analfabetismo (1,5%) e o grupo de 65 anos ou mais permaneceu com a maior taxa: 20,3%. De acordo com o IBGE, isso indica que as gerações mais novas estão tendo maior acesso à educação.

Mesmo tendo registrado a maior taxa, o grupo de 65 anos teve a maior queda ao longo dos últimos três censos em pontos percentuais. Passou de 38% em 2000 para 29,4% em 2010 e 20,3% em 2022, uma redução de 17,7 pontos percentuais no período.

Só há mais mulheres analfabetas entre idosos. Em 2022, o percentual de mulheres que sabiam ler e escrever era 93,5%, enquanto o de homens era 92,5%. Entre pessoas de 65 anos ou mais, no entanto, eles têm vantagem ligeiramente superior (79,9% contra 79,6%).

Taxa de alfabetização das pessoas indígenas foi 85% em 2022. Houve alta em todas as grandes regiões e faixas etárias, mas ainda abaixo da média nacional. Em 2010, o indicador registrado foi de 76,6%. Essa categoria inclui aqueles que se consideram indígenas pelo critério de pertencimento.

Em março, o IBGE divulgou que o analfabetismo atingia 9,3 milhões de pessoas no país, segundo dados da Pnad Contínua 2023 (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios). A diferença para os dados divulgados hoje é explicada pela metodologia aplicada — a Pnad é uma pesquisa amostral, na qual sao visitados somente domicílios selecionados, já no Censo todos os domicílios são visitados.

Taxa de alfabetização do Nordeste permanece a mais baixa

A taxa de alfabetização do Censo para as pessoas de 15 anos ou mais também reflete desigualdades regionais. Apesar do aumento de 80,9% em 2010 para 85,8% em 2022, a taxa de alfabetização da região Nordeste permaneceu a mais baixa. Sul e Sudeste têm taxas de alfabetização acima de 96%. Centro-Oeste tem 94,9% e Norte 91,8% de suas populações capazes de ler e escrever.

Por unidade da federação, as maiores taxas de alfabetização foram registradas em Santa Catarina (97,3%) e no Distrito Federal (97,2%). Já as menores, em Alagoas (82,3%) e no Piauí (com 82,8%).

Municípios entre 10.001 e 20 mil habitantes têm a maior taxa média de analfabetismo: 13,6%. O dado é mais de quatro vezes a taxa dos municípios acima de 500 mil habitantes (3,2%).

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