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Estudante é mão de obra barata, reclama presidente de associação

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Imagem: Shutterstock

Lígia Formenti

Brasília

26/03/2018 11h20

"Residente é mão de obra barata. Em muitos programas, ele é chamado para trabalhar muito e aprender pouco", resume Juracy Barbosa, presidente da Associação Nacional de Médicos Residentes. Entre as principais queixas dos estudantes, segundo ele, estão a falta de qualidade dos cursos ou dos tutores, excesso de horas de atividades e tratamento desrespeitoso pelo orientador ou pelos colegas.

"Depois da graduação, passei direto para a residência, mas muitas pessoas têm de recorrer a cursos preparatórios", conta Barbosa. A procura pelos cursinhos especializados em provas de residência têm aumentado nos últimos anos. As classes são práticas e teóricas.

"As pessoas investem cerca de R$ 1 mil mensais, durante um, dois anos, para passar na prova. Muitos se frustram quando têm de enfrentar o dia a dia", afirma Barbosa.

Segundo ele, o "que mais mobiliza os médicos a abandonar o curso é a falta de qualidade. Depois do investimento em horas de estudo, em pagar cursinhos, os profissionais querem ensino de boa qualidade. Muitas vezes eles desistem, voltam a estudar para procurar lugar melhor".

Barbosa afirma que não é raro ouvir de residentes reclamações sobre o pouco comprometimento dos preceptores. "Esses professores muitas vezes não recebem nada por ensinar. Além da falta de incentivo financeiro, o residente pode representar um estorvo para o professor. Quando ele dedica um tempo para explicar o caso, tirar dúvidas, o atendimento ao paciente fica mais demorado. Em outras palavras, o trabalho dele pode ficar atrasado", diz. Em vários casos, residentes de cirurgia têm dificuldades de participar, de fato, das operações. "Eles querem usar o bisturi. E isso muitas vezes não ocorre."

Mais Médicos

Para Barbosa, parte do fenômeno de vagas ociosas se deve à expansão das residências no País. Um dos braços do programa Mais Médicos, criado pelo governo federal em 2013, foi a ampliação de escolas médicas e de residência, principalmente no interior.

A ênfase foi dada para especialidades consideradas prioritárias. "Foi feito um esforço para se ampliar as vagas de Medicina de Família e Comunidade, além de Psiquiatria", observa o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador da pesquisa Demografia Médica, Mário Scheffer. Muitos dos cursos novos despertaram pouco interesse dos médicos que desejavam se candidatar.

A residência de Medicina de Família e Comunidade, por exemplo, é responsável por quase 20% de todas as vagas não ocupadas do País.

Juracy Barbosa observa ainda que parte das vagas foi criada em locais onde não havia uma boas condições de trabalho.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.