Topo

Vamos ao museu

Fachada do Museu de Arte do Rio (MAR) - Divulgação
Fachada do Museu de Arte do Rio (MAR) Imagem: Divulgação
Lucila Cano

16/05/2014 06h00

Ao voltar de uma temporada na Itália, um jogador de futebol declarou que detestara morar em Florença, porque a cidade só tinha velharia. Como esse episódio ocorreu já faz um tempo, não me recordo ao certo das palavras que ele usou. O sentido, porém, era esse.

Em parte, ele estava certo, se entendermos “velharia” como sinônimo de peças de valor histórico e artístico, dignas de serem abrigadas em museus. Sim, porque na Itália, principalmente, mas também em outros países da Europa, muitas obras de arte estão nas ruas, nas pontes, nos monumentos. 

Na época, lamentei a declaração. Hoje, entendo um pouco melhor a reação do craque. Somos um país solar, com uma extensão de praias de fazer inveja a muitos e, é fato, nos sentimos mais atraídos pelos encantos da Natureza do que pelos dos museus. Nossa história é recente, se comparada com a de outros países. Talvez, por isso, tenhamos menos relíquias para mostrar e apreciar.

Além disso, a História da Arte nunca foi assídua nos boletins escolares. Na ausência desse conhecimento fundamental para desenvolvermos a imaginação e preservarmos o belo, museu virou mausoléu. 

Um novo tempo

Mas, isso está mudando, graças à sensibilidade de curadores e à inteligência de gestores de museus que apostaram em uma nova forma de levar brasileiros aos museus brasileiros.

Os museus temáticos foram os primeiros a atrair mais público. O Museu do Futebol e o Museu da Língua Portuguesa, ambos na cidade de São Paulo, são bons exemplos da força de atração de um museu.

É certo que a mídia tem papel indispensável nesse processo de conquista. É através de reportagens, entrevistas e programas especiais que o cidadão ainda não convencido do quanto vale uma ida ao museu, acorda para tudo o que está perdendo. Foi assim com a mostra dos pintores impressionistas que, entre agosto de 2012 e janeiro de 2013, levou multidões às salas de exposição, primeiro em São Paulo e, depois, no Rio de Janeiro.

Não fossem os telejornais, em especial, a exibir quase que todos os dias as imensas filas de interessados, o número de visitantes seria menor. Houve quem fosse levado pela curiosidade? Não importa. O importante é que foi, viu, gostou e deve ter sensibilizado mais gente por aí.

O MAR, Museu de Arte do Rio, inaugurado em março de 2013, nasceu com diferentes funções, como fazer parte da revitalização da zona portuária e abrigar uma área destinada à educação, além das salas de exposição, que contemplam artistas brasileiros e estrangeiros. Mas, o que primeiro atraiu o grande público foram as mostras sobre o Rio de Janeiro e, mais uma vez, a televisão ajudou a cativar muitos que, provavelmente, nunca tivessem visitado um museu.

Um novo olhar

Em São Paulo, o MIS, Museu da Imagem e do Som, vem somando recordes de visitas às suas exposições. A mostra dedicada ao diretor de cinema Stanley Kubrick, entre outubro de 2013 e janeiro de 2014, levou quase 81 mil pessoas ao museu. Outra, sobre a vida do cantor e compositor David Bowie, recebeu 80.190 visitantes do final de janeiro a meados de abril deste ano.

Nessas oportunidades, o MIS ficou mais próximo de muitos que não têm o hábito de frequentar museus. Atraiu o grande público com apelos populares e, vamos e venhamos, esse pode ser o elo que faltava: um novo olhar para os espaços culturais. 

No Brasil temos 3.300 museus. Alguns são mais conhecidos e procurados, principalmente por estrangeiros em passagem pelo país. Muitos não cobram ingressos. Estão abertos para serem descobertos. Pois um museu é um espaço de descoberta da vida, preservada em obras que contam histórias e nos transportam mundo afora. 

Neste domingo, 18 de maio, comemora-se o Dia Internacional dos Museus. Não por acaso, alguns da esfera federal podem estar fechados, devido a uma greve de servidores do setor. Fazer o quê? Informe-se antes de sair para algum museu.

 * Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.