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Então é Carnaval

Lucila Cano

13/02/2015 08h00

Falar de responsabilidade social e ética em pleno Carnaval é desafiante. Em anos anteriores, procurei associar o tema às boas práticas sociais antes, durante e depois da folia: fantasias confeccionadas com materiais recicláveis; limpeza urbana e coleta de embalagens para reciclagem; doação de sangue; direção segura nas estradas; uso de camisinha; combate à exploração sexual de menores.

Não sei se falei de todos esses assuntos exatamente em datas carnavalescas. Mas lembro, agora, que todos são pertinentes à ocasião.

O uso de recicláveis para fantasias e carros alegóricos quase que se tornou obrigatório para as escolas de samba. Com o passar do tempo, esses materiais ganharam mais espaço na concepção dos figurinos e cenários do Carnaval. Isso é muito bom. A criatividade dos carnavalescos que conseguem fazer coisas incríveis merece destaque.

A coleta de embalagens, principalmente latas de alumínio, já virou meio de vida para muita gente. Este ano, vamos torcer para que não sobre latinha na avenida, nem garrafa PET, nem qualquer outra embalagem que possa ser reciclada.

O bolso dos catadores e as ruas livres de bueiros entupidos e, portanto, livres de enchentes, de antemão agradecem.

Carnaval e água

Para manter o clima de alegria, mas sem abrir mão da responsabilidade, nada como a irreverência do Carnaval. Na fantasia dos blocos, a irreverência faz do balde de plástico na cabeça o adereço da hora, ao menos na região Sudeste. Por que não? Se chover, o povo leva um tantinho de água para casa.

Nas canções, então, a água que hoje nos falta já era vedete de marchinhas antológicas. Pesquisei algumas e, entre elas, cito “Tomara que chova”, criação de Paquito e Romeu Gentil, que Emilinha Borba gravou em 1951:

“Tomara que chova/Três dias sem parar/Tomara que chova/Três dias sem parar/

A minha grande mágoa/É lá em casa/Não Ter água/Eu preciso me lavar/

De promessa eu ando cheio/Quando eu conto a minha vida/Ninguém quer acreditar/Trabalho não me cansa/O que cansa é pensar/Que lá em casa não tem água/Nem pra cozinhar”

É curioso observar que a marchinha data de 1951. Pelo que pude me informar, o que inspirou os compositores foi o péssimo abastecimento de água no Rio de Janeiro naquela época.

64 anos depois

Em alguns lugares, o Carnaval foi suspenso por causa da falta d’água. Enquanto isso, na Região Norte, mais uma vez o volume dos rios ameaça as festas locais. De 1951 para os dias atuais, muita coisa mudou. A população brasileira cresceu. Com ela, cresceu o desmatamento da Amazônia, o consumo de energia gerada por hidrelétricas, a emissão de poluentes, a geração de lixo e outras coisas mais.

Dentro de um mês, mais ou menos, em 22 de março estaremos comemorando mais um Dia Mundial da Água. A ONU instituiu a data em 1993 com base na Agenda 21, o documento final dos trabalhos da Rio 92, que destacou a importância da água na preservação do meio ambiente.

Desde 1993, então, anualmente a ONU propõe um grande tema para simbolizar a passagem do 22 de março e mobilizar as populações de todo o mundo em defesa da conservação da água.

O tema do ano passado foi “Água e Energia”. O deste ano é “Água e Sustentabilidade”. Alguém se habilita a criar uma marchinha?

Para não esquecer

Carnaval é período de festa, mas também é o de maior sofrimento para os bancos de sangue do país. Os estoques são drasticamente reduzidos enquanto a probabilidade de uso aumenta. Doar sangue não faz mal a ninguém. Se você puder, faça sua doação, antes ou depois da folia. As informações de como proceder estão na internet, em inúmeros sites.

O uso de preservativo ainda é a alternativa mais eficaz e segura para a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis e da AIDS. Infelizmente, o número de jovens infectados pelo HIV também aumentou no Brasil.

Por fim, exploração sexual de crianças e adolescentes é crime. Disque 100 para denunciar.

*Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.