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Resgate social

Lucila Cano

13/03/2015 18h13

Detentos em regime semi-aberto e ex-detentos enfrentam dificuldades enormes para conseguir um emprego. As empresas que abrem suas portas para os excluídos sociais são raras exceções. Uma delas é a Risotolândia, de Araucária (PR), que criou o projeto “Liberdade Construída” em parceria com a Secretaria de Justiça e Cidadania do Paraná em 2008.

Desde então, mais de 1.500 detentos passaram pelo projeto. Atualmente, 18 participam das atividades em curso e 29 já foram contratados pela empresa, após cumprimento de suas penas na Colônia Penal Agroindustrial do Paraná.

Seleção e integração

Na colônia penal, os internos em regime semi-aberto são selecionados após diversas avaliações. O setor administrativo realiza entrevistas e encaminha os aprovados para a divisão de segurança e disciplina interna. Posteriormente, eles ainda passam pelo departamento jurídico e pelas áreas de psicologia, psiquiatria e serviço social.

Na Risotolândia, os aprovados fazem exames médicos de admissão e participam de treinamentos operacionais e de segurança do trabalho. Antes de assumir os seus postos, eles vivenciam o processo de integração, para conhecer a empresa, suas normas, seu ramo de negócios e são apresentados à sua chefia imediata.

Internamente, a empresa prepara os colaboradores para receber os novos companheiros de trabalho com respeito e igualdade de tratamento. Todos utilizam uniformes iguais, frequentam os mesmos espaços, fazem as refeições em conjunto e participam dos treinamentos em equipe. Por sinal, os treinamentos comportamentais tratam de trabalho em equipe, relacionamento interpessoal, postura profissional e importância do convívio em sociedade.

Como a colônia penal fica em Piraquara, a cerca de 50 km da sede da Risotolândia, a empresa se encarrega do transporte diário dos internos que cumprem expediente de segunda a sexta-feira, com direito a períodos de folga. Eles recebem refeições, uniformes higienizados diariamente e o benefício financeiro mensal de 75% do valor do salário mínimo nacional vigente. O dinheiro é depositado em conta corrente da família de cada interno. Além disso, a cada três dias trabalhados, um dia da pena é abonado, como dita a lei de Execução Penal.

No caso dos ex-detentos, eles já conhecem a Risotolândia e, por isso, são contratados pelo processo normal de admissão na empresa, candidatando-se às vagas existentes e passando por entrevistas, exames, integração e treinamentos.

Aprender e produzir

O projeto Liberdade Construída tem na sua base princípios de integração social que valorizam as pessoas e a sua capacidade de aprender e produzir. Ele se pauta pela capacitação profissional, pelo respeito ao próximo e por atividades de convivência com a sociedade e o mercado de trabalho que dignificam o papel de cada indivíduo.

A empresa idealizadora desse projeto foi iniciada por imigrantes italianos e herdou o seu nome do restaurante da família que, entre outros pratos típicos, servia risotos nos idos de 1953, em Curitiba. Em 1981, já no ramo de refeições coletivas, a Risotolândia instalou-se em Araucária, na região Metropolitana de Curitiba.

Em anos de crescimento contínuo, a Risotolândia expandiu suas operações. Começou a administrar restaurantes empresariais e servir refeições para escolas e o sistema prisional. Também construiu uma central de processamento e distribuição de alimentos, hoje responsável pelo abastecimento de matéria-prima para todos os seus clientes.

A proximidade com o ambiente prisional pode ter despertado os dirigentes da Risotolândia para a parceria com os órgãos públicos do Paraná que resultou no projeto Liberdade Construída. Com ele, a empresa já conquistou diversos prêmios. O mais festejado, sem dúvida, sempre será servir de exemplo para que outras empresas promovam o resgate social de indivíduos que precisam começar tudo de novo.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.