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Quase "imexível"

17.set.2014 - O bairro Cruz das Almas, em Maceió, já teve rede coletora quase toda instalada, mas que ainda não funciona porque a estação elevatória de tratamento não foi concluída. Sem esgoto, a água servida é jogada na rua e vai direto para as galerias fluviais, sendo jogado depois no mar - Beto Macário/UOL
17.set.2014 - O bairro Cruz das Almas, em Maceió, já teve rede coletora quase toda instalada, mas que ainda não funciona porque a estação elevatória de tratamento não foi concluída. Sem esgoto, a água servida é jogada na rua e vai direto para as galerias fluviais, sendo jogado depois no mar Imagem: Beto Macário/UOL
Lucila Cano

01/05/2015 08h00

O leitor mais jovem pode desconhecer uma passagem curiosa da política brasileira. Ela se refere ao sindicalista Antônio Rogério Magri, que ocupou o cargo de ministro do Trabalho no governo de Fernando Collor de Mello entre 1990 e 1992.

Envolvido por acusações de malfeitos (como se diz atualmente), Magri deixou o sindicalismo e a política e não mais se falou dele, a não ser pela lembrança de um neologismo de sua autoria. “Imexível” foi o que ele declarou em alto e bom som para defender o plano econômico do governo Collor.

Lembrei do termo assim que li as informações do Instituto Trata Brasil a respeito do novo Ranking do Saneamento Básico no país.

Esta não é a primeira vez que falo do Instituto que, em parceria com a consultoria GO Associados, desde 2009 faz um retrato da situação do saneamento nas 100 maiores cidades brasileiras. Situação essa que, ano após ano, muda muito pouco. É quase “imexível”.

Um pouco pior

O novo ranking tomou por base informações do SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento de 2013, diante da proposta de o país atingir a universalização dos serviços de água tratada, coleta e tratamento de esgotos em 20 anos. Tal prazo foi estipulado pelo Plano Nacional de Saneamento Básico em 2014.

A comparação entre o que temos e o que pretendemos mostrou que das 20 cidades melhor avaliadas, oito já atingiram a universalização e as outras 12 devem cumprir a meta nos próximos anos. Por exemplo, as populações de Belo Horizonte, em Minas, Franca e Limeira, no interior de São Paulo, são atendidas em 100% das necessidades de coleta de esgotos.

Mas, para capitais como Manaus, Teresina, Macapá, Belém e Porto Velho, incluídas nas 20 últimas posições do ranking, a universalização de serviços até 2033 parece impossível. Ananindeua, no Pará, tem cerca de 500 mil habitantes. É a última colocada do ranking. Ocupa o centésimo lugar, o que significa que apenas 26,91% da sua população recebem água tratada e, pior, 0% tem coleta de esgoto.

Em abrangência nacional, o levantamento do Trata Brasil informa que “Em relação à coleta dos esgotos, 48,6% da população recebiam esse serviço, totalizando quase 100 milhões de brasileiros fora da conta. A situação se agravou em relação aos esgotos tratados que, segundo os dados oficiais são apenas 39% dos esgotos”. O resto, então, que não é tratado, pode ser representado por “mais de 5 mil piscinas olímpicas de esgotos que foram jogadas por dia na natureza em 2013”.

O percentual anterior de esgotos tratados no país (com base em números de 2012) era de 38,70%, um pouco pior.

A realidade das capitais

Em tratamento de esgotos, a região Centro-Oeste é a de melhor desempenho. Suas quatro capitais deixaram de tratar 30% do esgoto gerado. A região Sudeste vem em seguida, com cerca de 39% de esgotos não tratados pelas quatro capitais.

As nove capitais do Nordeste deixaram de tratar 46% dos esgotos gerados em 2013, enquanto as três capitais da região Sul despejaram 60% de esgotos não tratados na natureza.

No outro extremo, na região Norte, cerca de 82% dos esgotos não foram tratados e, portanto, foram indevidamente lançados no meio ambiente.

Em trecho do informativo à Imprensa, Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil, comenta: “Com raras exceções, mesmo as capitais do país vêm avançando pouco em coleta e tratamento dos esgotos, o que é muito preocupante, pois são serviços essenciais para a saúde das pessoas nesses grandes aglomerados humanos. Muitas capitais continuam em posições ruins no Ranking há anos, especialmente Manaus, Belém, Macapá, Teresina, São Luís, Porto Velho, Aracaju, entre outras que quase não avançaram nos dois serviços. Isso mostra que os anos passam e nada acontece. É uma enorme falta de sensibilidade de governantes que se sucedem, dando prioridade apenas às obras mais visíveis eleitoralmente do que às obras mais importantes para o bem-estar da população”.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.