Ideias que alimentam
No Brasil, a exemplo do que já ocorre em outros países, o desperdício vem sendo banido por boas ideias. Uma delas é o Banco de Alimentos, que dá destinação responsável e solidária a alimentos em perfeitas condições de consumo, mas que são descartados por estabelecimentos comerciais.
O primeiro Banco de Alimentos foi criado em São Paulo em 1998 pela economista Luciana Chinaglia Quintão. Atualmente atende a 42 instituições cadastradas que, juntas, beneficiam mais de 21 mil pessoas.
Antes dele, o Sesc já desenvolvia algumas ações. Em 1991, o Sesc Paraná começou a distribuir sopas a famílias carentes, com o projeto Sopa & Pão. O projeto Mesa São Paulo surgiu em 1994, na unidade do Sesc Carmo, já com o propósito de coleta de alimentos para posterior distribuição a entidades assistenciais.
Na linha do tempo, o Sesc Rio de Janeiro se organizou para atuar como banco de alimentos em 2000 e o modelo foi logo adotado pelo SESC Ceará em 2001 e pelo Sesc Pernambuco em 2002.
O programa Mesa Brasil foi oficialmente lançado em 2003. O Sesc ampliou a iniciativa para todo o país e, desde então, vem contribuindo significativamente para combater o desperdício de alimentos e, ao mesmo tempo, atuar em duas frentes: beneficiar os assistidos por entidades filantrópicas e divulgar novos hábitos alimentares e valores nutricionais para a população em geral.
O que vale é a iniciativa
Seja por meio do Sesc, seja por meio de ONGs, como é a ONG Banco de Alimentos, o que vale é a iniciativa de pessoas e instituições preocupadas em proporcionar melhores condições de vida à população, em especial aquela que, sem recursos, não tem como pagar por uma alimentação digna.
Difundir o aproveitamento integral dos alimentos é tarefa da maior importância e sempre muito bem-vinda. O Sesc mantém site para o Mesa Brasil com muitas informações e, inclusive, cartilhas educativas.
A ONG Banco de Alimentos, por sua vez, acaba de selar parceria com o Complexo Tatuapé, formado pelo Shopping Metro Tatuapé e Shopping Metrô Boulevard Tatuapé em São Paulo, um dos locais de maior afluência de pessoas na capital paulista. Por lá, cerca de 130 mil pessoas circulam diariamente.
Assim, desde o dia 5 de maio e mediante o pagamento simbólico de R$ 1,00, quem passar pelo Complexo poderá participar de encontros diários, de uma hora e meia de duração, para aprender a aproveitar melhor os alimentos.
As palestras e oficinas serão realizadas em espaço permanente, especialmente preparado para receber os participantes. Talos, cascas e folhas que costumeiramente vão para o lixo serão os ingredientes de receitas saborosas e nutritivas.
Em tempo de inflação, tais receitas poderão também aliviar as despesas com alimentação em geral, além de surpreender as pessoas. De acordo com a presidente e fundadora da ONG Banco de Alimentos, o Brasil desperdiça 26,3 milhões de toneladas de alimentos anualmente, enquanto 13 milhões de pessoas passam fome.
Por que não copiar o modelo
“No país, há um descaso enorme em relação aos recursos, que todos sabemos serem limitados. Um comportamento que se traduz em uma grande irresponsabilidade, individual e coletiva. Nesse contexto, se insere a questão dos alimentos e, consequentemente, a da fome”, afirma Luciana Quintão, acrescentando que, além de evitar o desperdício, a ONG Banco de Alimentos dissemina informações sobre o tema. “A conscientização passa necessariamente pela informação que torna esse conhecimento um importante agente de transformação social, de mudança de cultura e comportamento em relação ao alimento. É exatamente por esse motivo que estamos muito entusiasmados com a participação do Complexo Tatuapé”, acrescenta.
Eis aí um modelo a ser multiplicado em outros shopping centers e, por que não, em clubes, escolas, igrejas, associações de bairros e mesmo outras ONGs. Entre nós, a conscientização é cada vez mais necessária.
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
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