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História do Carnaval - Igreja reconheceu a festa em 590 d.C.

Onofre Veras e Thiago Mattos/AgNews
Imagem: Onofre Veras e Thiago Mattos/AgNews

Página 3 Pedagogia & Comunicação

(Atualizado em 13/02/2015, às 14h)

A história do Carnaval é alvo de muita discussão. Não se sabe exatamente quando ele surgiu. Sua origem pode estar ligada aos cultos agrários que pediam boas colheitas, ainda no período neolítico. Uns dizem que a festa surgiu no antigo Egito, outros que foi na Europa medieval... Mas é provável que o Carnaval tenha se originado no Império romano, antes do nascimento de Cristo. Nessa época, celebravam-se as Saturnálias, festas em homenagem ao deus Saturno, que aconteciam nos meses de novembro e dezembro.

História do Carnaval

Durante a Saturnália, os membros da nobreza e os escravos se misturavam nas ruas para as comemorações, que incluíam muita comida, bebida, música e dança. Essas festas eram protegidas por Baco, o deus do vinho. Nos dias de folia, tudo se invertia. Tanto que o rei da festa, o Rei Momo, era um escravo (da classe mais baixa de Roma) e podia ordenar o que quisesse durante as festividades. As pessoas representavam papéis, por isso, com o passar do tempo, veio o costume das máscaras, trazidas do teatro clássico grego.

Com o fim do Império romano e a ascensão do cristianismo, na Idade Média, essas festividades correram o risco de acabar. A Igreja quis cancelar as Saturnálias, mas sem desagradar completamente a seus fiéis. Então, no ano 325, ficou decidido que os 40 dias antes da Páscoa deveriam ser guardados apenas para orações e jejuns - intervalo de tempo que ficou conhecido como Quaresma. As festividades foram movidas para antes do início desse período e ganharam o nome de "Carnevale", que em latim significa "adeus à carne". Por isso o carnaval é uma festa móvel.

O entrudo em Portugal e no Brasil

Em 590 d.C., a Igreja reconheceu oficialmente a festa, passando a programá-la em seu calendário. O domingo de Carnaval cairá sempre no 7º domingo que antecede ao domingo de Páscoa. A quarta-feira de Cinzas dá início à quaresma, um período de reflexão e abstenção dos prazeres mundanos.

Em Portugal, o Carnaval já era comemorado nos séculos 15 e 16, embora conhecido como entrudo, que significava a entrada da Quaresma. Nos séculos 17 e 18, quando grande número de portugueses se mudaram para o Brasil, o costume foi se estabelecendo por aqui. A forma de brincar de então era jogar nos outros água, limões de cheiro (bolinhas de cera cheias de perfume), farinha de trigo e até lama ou lixo. Durante três séculos, essa foi a manifestação característica do Carnaval no Brasil.

Logo no início do século 19, com os novos costumes trazidos pela corte portuguesa, a festa começou a mudar. O mais elegante seria copiar o desfile de carruagens enfeitadas pelas ruas, ocupadas por pessoas usando máscaras e fantasias vindas de Paris. Quando foi adotado no Brasil, o evento passou a ser chamado de Rancho. Os bailes de carnaval, que vieram depois dos desfiles, eram realizados em clubes requintados, frequentados pela corte e pela nova elite brasileira.

Aos mais pobres só restava continuar com o entrudo, que chegou a ser proibido, mas foi liberado com a ideia da criação de bailes em lugares menos elegantes. Desta forma, o povo foi pouco a pouco se interessando pelo Carnaval dos ricos e se afastando do entrudo, que terminou desaparecendo no início do século 20.

Corsos, blocos e outros foliões

Nos primeiros anos da República, surgiram os cordões, as sociedades carnavalescas, blocos, ranchos, corsos e outros grupos de foliões que saíam às ruas para dançar e cantar quadrinhas anônimas, ao ritmo de instrumentos de sopro e percussão. Marchinhas irreverentes serviam para satirizar os políticos.A pianista e maestrina Chiquinha Gonzaga, com a marcha "Ô Abre Alas" (1899), inaugurou a prática das composições feitas exclusivamente para os grupos de foliões.

No início do século 20, quando os ranchos, desfiles de máscaras e fantasias em carros enfeitados pela avenida, já estavam mais que estabelecidos no Rio de Janeiro pelas sociedades carnavalescas, os pobres brincavam em outros bailes. Um dos principais lugares em que aconteciam essas festas era a Praça Onze, no bairro do Estácio.

Quem era de fora achava o Carnaval dos pobres feio e atrasado. Foi então que os carnavalescos do Estácio resolveram se organizar, à semelhança da forma como faziam os ricos. A primeira organização a desfilar oficialmente foi a "Deixa Falar" (núcleo inicial da atual Escola de Samba Estácio de Sá), criada pelo sambista Ismael Silva, em 1928, com formação semelhante à dos blocos atuais.

A escola de samba

Em 1929, a Deixa Falar se transformou na primeira escola de samba de que se tem notícia. O nome era uma brincadeira com o local onde os sambistas se reuniam: em frente a ele, havia uma escola de normalistas. Ismael Silva disse que, se lá era uma escola de professoras, ali onde estavam seria uma escola de samba.

A partir daí, eles passaram a escolher todo ano um tema que definiria as fantasias e a música, como acontece hoje em dia. Assim, o Carnaval dos pobres foi ganhando a simpatia do resto da sociedade, de intelectuais e artistas, que nessa época começavam a se interessar pela cultura popular e passaram a frequentar essas reuniões de sambistas.

Mais tarde, até o próprio presidente da República, então Getúlio Vargas, preocupado em demonstrar interesse pelos pobres, resolveu reconhecer o evento e dar-lhe condições para se estruturar melhor. Desde então, a festa foi evoluindo até se tornar o Carnaval típico do Rio de Janeiro, hoje internacionalmente reconhecido.

O Carnaval carioca

O Carnaval brasileiro tornou-se conhecido em todo o mundo por causa dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro e graças aos meios de comunicação de massa, como o cinema e a televisão. É, de fato, um espetáculo grandioso, talvez o maior show da terra. Atualmente, o desfile obedece a regras, pois há uma competição entre as escolas. Entre os quesitos julgados por especialistas estão a comissão de frente; mestre-sala e porta-bandeira; bateria; samba de enredo; harmonia; alegorias e adereços.

As principais atrações são os carros alegóricos, a bateria e o casal de mestre-sala e porta-bandeira. Os passistas dão um espetáculo ao ritmo do samba-enredo. A preparação para a festa começa muitos meses antes e envolve centenas de pessoas. Desde o início da temporada de verão, os cariocas realizam bailes pré-Carnavalescos e ensaios nas quadras das escolas de samba. Os três fins de semana que antecedem o Carnaval são marcados pelos desfiles das bandas de bairros.

Entre as principais escolas de samba do Rio de Janeiro, encontram-se a Portela, a Estação Primeira de Mangueira, Vila Isabel, Império Serrano, Beija-flor, Salgueiro, Estácio de Sá, e Mocidade Independente de Padre Miguel.

Em São Paulo, há cerca de dez anos, a passarela do samba reúne escolas cada vez mais luxuosas, reproduzindo a folia carioca no principal centro econômico do país. As principais escolas paulistanas são a Vai Vai, Camisa Verde e Branco, Nenê de Vila Matilde e Rosas de Ouro.

O Carnaval baiano e o trio elétrico

Em Salvador, na Bahia, o Carnaval tem outro estilo. Os foliões saem pelas ruas dançando atrás dos trios elétricos - caminhões em cima dos quais tocam conjuntos musicais. Os inventores do trio elétrico do Carnaval baiano, foram Dodô (Adolfo Nascimento) e Osmar (Macedo). No Carnaval de 1950, a dupla saiu tocando em cima de um Ford 49. Em um ano fizeram aperfeiçoamentos e incluíram mais um membro, Temístocles Aragão, formando assim o trio elétrico em 1951. No ano seguinte uma empresa de refrigerantes percebeu o enorme sucesso do trio e colocou um caminhão decorado à disposição dos músicos, inaugurando o formato consagrado até hoje.

Outra manifestação típica do Carnaval baiano são os grupos de afoxé, formados quase que exclusivamente por negros. Esses blocos têm origem na época da escravidão, quando os negros se reuniam vestindo trajes de nobres africanos para cantar e dançar as músicas de sua terra. O primeiro grupo, a Embaixada Africana, surgiu em 1885. Desde então, a tradição se repete todo Carnaval, com negros vestidos de príncipes cantando em nagô, um idioma africano. Além dos afoxés, ou ranchos negros (como o Filhos de Gandhi e o Badauê), o Carnaval bahiano conta com os blocos afro (Olodum, Ileaiê, Malê de Balê, Olorum Babami) e os que se fantasiam de índios como os Apaches do Tororó.

O Maracatu e o frevo no Nordeste

Os mais tradicionais carnavais de rua do país acontecem em Natal, Maceió, Olinda e no Recife. O maracatu ocorre principalmente em Pernambuco e no Ceará. Os participantes vestem pesadas fantasias, cada uma representando um personagem: rei, rainha, príncipes, damas, embaixadores, cavaleiros, índios, baianas etc. Todos dançam ao som de um batuque, seguindo as "calungas", bonecas gigantes que abrem o desfile e são levadas cada uma por uma mulher.

Outra tradição pernambucana é o frevo, que tem mais força nas principais cidades do estado: Recife e Olinda. Durante o Carnaval, as pessoas dançam nas ruas ao som desse ritmo rápido, executando passos acrobáticos. A comemoração é muito animada e justifica o nome da dança, que surgiu de "ferver'.

Há grupos organizados de frevo, ou clubes. Os mais famosos são o Pás Douradas e o Vassourinhas. Merece destaque, também, o bloco carnavalesco Galo da Madrugada, um dos maiores do país. Em Olinda, o destaque fica por conta dos bonecos gigantes carregados pelos foliões que lotam as ruas da histórica cidade. O casal de bonecos mais famoso é formado pelo Homem da Meia-Noite e pela Mulher do Meio-Dia.

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