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Militarismo na América Latina - A ditadura militar na Argentina

José Renato Salatiel

Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

(Atualização em 8/3/2014, às 11h57)

Durante os anos 1960 e 1970, golpes militares iniciaram ciclos de ditaduras na América Latina, que provocaram transformações políticas, sociais e econômicas em países como Brasil e Argentina.

Era o auge da Guerra Fria, um período de tensões políticas e ideológicas que opuseram dois blocos: os Estados Unidos e a ex-União Soviética. Na América do Sul, a Revolução Cubana, de 1959, inspirou guerrilhas, partidos comunistas e movimentos populares. Eles propunham romper uma tradição de desigualdades sociais e domínio imperialista na região, alinhando-se, dessa forma, ao bloco comunista.

Para evitar o avanço do comunismo no Cone Sul, o governo dos Estados Unidos forneceu suporte técnico e financeiro a militares para destituir governos, eleitos democraticamente, que não se conformavam à agenda política de Washington.

Nos anos 1980, o fracasso econômico, a restrição de liberdades individuais, crimes de violação dos Direitos Humanos e assassinatos políticos levaram ao colapso dos regimes militares, em processos graduais de redemocratização.

Ditadura argentina

As ditaduras militares substituíram governos populistas em vigor desde os anos 1940. Eram tempos de instabilidade política, que impediam tanto a sedimentação da democracia quanto o desenvolvimento social e econômico de países latino-americanos.

Na Argentina, ocorreram seis golpes de Estado no período entre 1930 e 1976. Nos dois últimos, de 1966 e 1976, os militares estabeleceram regimes autoritários mais duradouros (25 anos, no total).

Ditadura militar sangrenta

  • O ex-ditador argentino Jorge Rafael Videla ouve a sentença que o condenou a 50 anos de prisão pelo rapto de bebês no regime militar

Em 1966, o general Juan Carlos Onganía comandou o que denominou de "Revolução Argentina". Diferentemente dos levantes anteriores, que instauraram governos provisórios, foi adotado o modelo de Estado autoritário. Três ditadores se sucederam no poder, até que a pressão popular levou à convocação de eleições presidenciais, com a vitória de Juan Domingo Perón, em 1973.

Três anos depois, em 14 de março de 1976, um novo golpe empossou o general Jorge Rafael Videla. Nos 17 anos seguintes, até 1983, quatro juntas militares comandaram o país. Foi a ditadura mais violenta da América Latina, com estimativa de 30 mil civis mortos na chamada “guerra suja”.

Redemocratização

Na primeira metade da década de 1980 começou a redemocratização, que culminou com as eleições dos presidentes Raúl Alfonsín, em 1983, e Tancredo Neves (PMDB), em 1985, encerrando, respectivamente, as ditaduras argentina e brasileira.

Na Argentina, a invasão das Ilhas Malvinas, em 1982, apressou o fim da ditadura. A derrota humilhante para os ingleses levou à queda da última junta militar, já enfraquecida pela insatisfação do povo com os rumos da economia e a repressão.

Saiba mais:

"As Ilusões Armadas" (Companhia das Letras): livros de Elio Gaspari que analisam a ditadura brasileira de seu início, em 1964, até o fim da Guerrilha do Araguaia, em 1974.

"A História Oficial" (1985): filme argentino vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro sobre uma professora que adota uma filha de presos políticos mortos pela ditadura.