Como usar a nota do Enem para saber se a escola é boa -- ou não
O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) foi criado para avaliar a qualidade do ensino médio. Desde 2006, o MEC (Ministério da Educação) tem divulgado a nota do Enem por escola, com dados da prova do ano anterior. E esse indicador tem sido bastante utilizado como critério de escolha da escola -- principalmente entre as particulares. Afinal, se a escola conseguir uma boa nota, ela oferece um bom ensino certo? Mais ou menos. E a gente vai explicar por quê.
Em 2010, a média nacional das notas do Enem por escola foi de 511,21 -- resultado "esperado" pelo MEC.
O Enem é composto por quatro provas de múltipla escola, com 45 questões, mais uma redação -- são avaliados conhecimentos de ciências humanas, ciências da natureza, linguagens e códigos, além de matemática.
Verifique quantos alunos participaram
Em primeiro lugar, é preciso lembrar que o Enem é um exame voluntário. Por isso, não se pode olhar apenas a nota e rotular a escola. Afinal, se a participação foi baixa, pode ter acontecido de apenas os alunos melhor preparados terem feito a prova ou os alunos mais fracos. Segue aqui o primeiro alerta: observar a taxa de participação do alunos (a quantidade de alunos da escola que realmente fizeram o exame).
Em 2010, a taxa média de participação no Enem foi de 56%. Para o ministro da Educação, Fernando Haddad, esse é um bom parâmetro. "A escola que está com menos de 56% está com participação inferior à média brasileira", afirmou.
Vai comparar? Compare bananas com bananas
Quando as listagens saem -- e com elas os rankings com as maiores notas --, é natural os pais, os alunos e mesmos os professores correrem para comparar as notas das suas escolas com as melhores. Mas, como saber se uma escola é boa mesmo?
"Acho intressante que possa comparar entre os que se aproximam", recomenda Malvina Tuttman, presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). Segundo ela, o melhor é comparar as escolas dentro do grupo ao qual ela pertença: o grupo das escolas públicas ou particulares ou escolas que estejam no mesmo bairro. "Comparar escola pública e privada talvez não seja a melhor opção", completa.
Colocar lado a lado uma instituição pública e outra particular seria o mesmo que tentar comparar bananas com maçãs. Infelizmente.
Enem por escola não avalia tudo
Todo mundo adora os rankings, para saber quem são os primeiros -- e, muitas vezes, para apontar também os últimos colocados. Mas não apenas o Inep e o MEC, como todos os especialistas, fazem questão de lembrar que o desempenho no Enem não é o único indicador de qualidade da educação. Há uma série de outras caracaterísticas das escolas que devem ser levadas em conta como o tipo de ensino que oferece, se os alunos são motivados. No caso do ensino médio, é importante que combinar o perfil da escola e do estudante.
"As escolas têm outras questões que precisam ser consideradas como os valores éticos, culturais, técnicos-científicos", conclui Malvina.
Ainda assim, o dado mais objetivo que os pais têm nas mãos é a nota do Enem por escola, que será disponibilizada na madrugada da próxima segunda, dia 12 de setembro, pelo UOL Educação -- no site do Inep, a previsão é de que os dados estejam disponíveis a partir das 6h.
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Como educador, sou um dos árduos defensores do ENEM como avanço na educação brasileira. Quando os grandes colégios do Ceará reagiram contra o ENEM, atrasando o estado, fui um dos raros que promoveu o novo exame. Mas as coisas se desviaram do rumo. O ministro Paulo Renato, criador do ENEM, alertou, lá no início, para dois perigos: 1) o de inventarem um ranking; 2) o de criarem "cursos preparatórios" para o ENEM. Avisou que tais erros causariam uma distorção que subverteria os propósitos do exame, e que, em vez de acabar com os profundos males que os vestibulares tradicionais causaram à educação no país, o ENEM, corrompido desse jeito, se tornaria apenas mais um concurso. Foi profético: as duas desgraças aconteceram, e com apoio do MEC. Para piorar, o atual ENEM começa a se tornar conteudista, quase um vestibular "piorado", já que exige horas extenuantes de prova num dia só. Mas ainda acredito que MEC terá discernimento e mudará esse cenário...