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Interno da ex-Febem consegue "liberdade" para estudar em escola técnica na Baixada Santista

Suellen Smosinski

Do UOL, em São Paulo

26/07/2012 06h00

O adolescente Lucas (nome fictício), 17, mora desde os três em abrigos, por abandono familiar. Ele cumpre medida socioeducativa há seis meses na Fundação Casa (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente) e a partir dessa semana poderá sair todas as noites para estudar – Lucas foi aprovado no curso de administração da Etec (Escola Técnica Estadual) de Itanhaém, na Baixada Santista.

“Espero adquirir mais conhecimento, poder mudar de vida e conseguir um trabalho. Quando terminar esse curso, vou fazer uma faculdade, arrumar um emprego na área, tentar fazer a vida”, afirmou o estudante, que escolheu o curso de administração por gostar bastante de matemática.

A diretora da Fundação Casa de Mongaguá, Cintia Olivieri Lario, descreve Lucas como um “jovem esforçado”. “Tem destaque em todas as atividades que faz. Aqui temos aulas de violão e a maioria dos meninos tem receio de não aprender, já o Lucas não, tudo é um desafio para ele. Ele sempre participa das atividades e hoje fica até como apoio para o professor”, contou Cintia.

A diretora explicou que a unidade tem uma equipe de referência que trabalha junto com os internos. A inscrição para a prova da Etec foi feita quando ele ainda estava na unidade de Itanhaém, mas logo depois o jovem foi transferido para Mongaguá, onde estudava para o exame com a ajuda de um funcionário em especial.

“O ‘seu Paulo’, funcionário da unidade, me ajudava com os estudos na parte de matemática, de história. O que ele sabe, ele passou para mim. Eu pedi para imprimir uma prova do ano passado, ele me ensinou, eu fiz essa prova e tirei uma pontuação boa”, disse o estudante.

Agora, o jovem vai iniciar uma jornada dupla de estudos: no período da manhã ele cursa o segundo ano do ensino médio, dentro da Fundação Casa; à noite, acontecem as aulas na Etec.

A jornada dupla, no entanto, não assusta o estudante: “Sou esforçado na sala de aula. Faço o que eu sei, o que eu não sei eu tiro a dúvida. Repeti a 4ª série, era meio arteiro, depois disso não repeti mais”, disse.

Primeiro dia de aula

“Foi legal pra caramba. Cheguei lá tinha um pessoal da escola, não conhecia ninguém ainda. A escola está nova, porque foi reformada”, contou Lucas sobre o primeiro dia de aula.

A diretora da unidade afirmou que Lucas é o primeiro interno a fazer um curso fora da unidade. Ele vai para as aulas em um carro da instituição, acompanhado por um agente de apoio socioeducativo.

Cintia também informou que o estudante deve ganhar a liberdade em breve e, por isso, já é estudada a possibilidade de transferência do curso para o Vale do Ribeira, onde fica o abrigo para o qual ele deve voltar.

“Minha saída depende do juiz, mas vou fazer o máximo para sair mais rápido. Vou terminar o curso mesmo fora daqui, senão tudo que eu fiz seria em vão”, disse Lucas.