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Pior escola de SP no Enem 2011 é chamada de "Aquilixo" por alunos; pais reclamam do ensino

Escola da zona leste tira pior nota no Enem 2011 na capital paulista - Shin Shikuma/UOL
Escola da zona leste tira pior nota no Enem 2011 na capital paulista Imagem: Shin Shikuma/UOL

Thiago Varella

Do UOL, em São Paulo

23/11/2012 18h27Atualizada em 23/11/2012 20h48

Quem passa em frente à Escola Estadual Aquilino Ribeiro, em Guaianases, no extremo da zona leste de São Paulo, vê um prédio bonito, pintado e bem cuidado. Não parece que ali fica a escola com o pior desempenho entre as instituições de ensino da cidade no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2011, de acordo com dados divulgados na quinta-feira (22) pelo MEC (Ministério da Educação).

Enem por Escola 2011

A E.E. Aquilino Ribeiro ficou com a pior nota entre todas as escolas da cidade de São Paulo. Vale dizer que o MEC levou em consideração apenas as instituições com mais de 50% de participação de alunos no Enem.

A média do colégio da zona leste, que teve 61,02% de participação dos alunos, foi de 438,35 pontos, contra os 737,15 pontos da melhor colocada no país, o Colégio Objetivo Integrado também da capital paulista.

“A direção dessa escola só liga para aparências. O colégio é muito bonito, com salas bem cuidadas, mas o ensino é fraco demais”, afirmou Maria Lúcia Calado da Silva, 55, moradora do bairro há 28 anos.

Em tom de gozação, muitos alunos que conversaram com a reportagem do UOL disseram chamar a escola de “Aquilixo”, apelido nada carinhoso confirmado pelo líder comunitário Geraldo de Sá.

A aluna Thais Vilharta, 17, estudante do 2º ano do ensino médio no período noturno, também não se surpreendeu com o desempenho ruim de sua escola.

“Era de se esperar. O ensino não é bom e há muita falta de respeito em sala de aula. Alunos e professores brigam muito. Há também muitas aulas vagas, já que os professores faltam muito”, reclama Thais. A jovem compara o ensino, já que pela manhã estuda nutrição em uma ETEC (escola técnica). A colocação ruim de sua escola no Enem não a assusta.

“Sinceramente, não fico muito preocupada com isso. Pretendo estudar biomedicina na faculdade e não acho que a colocação da minha escola vai influenciar isso”, disse a jovem que vai prestar o Enem no ano que vem.

Desinteresse

A mãe da garota também critica a escola. Valéria Vilharta, 32, conta que já se escondeu na classe da filha só para assistir a uma aula e avaliar o professor. Para ela, os alunos também têm sua parcela de culpa na qualidade do ensino.

“Se por um lado tem muito professor que não gosta do que faz, por outro existem muitos alunos desinteressados. Acho até que os professores têm medo de serem mais duros com os jovens”, falou. “No último dia de aula, a rua da escola fica um lixão. Os alunos saem da aula rasgando os cadernos e apostilas e jogam as folhas no meio da rua. Fica tudo branco.”

Uma moradora da Cohab Jardim São Paulo, que fica em frente à escola, afirmou que, durante a noite, é comum ver alunos bebendo e fumando narguilé em frente ao portão principal. Além disso, carros estacionam e, com as portas abertas, tocam funks em volumes insuportáveis, segundo a mulher que não quis se identificar.

Faculdade pública não faz parte dos objetivos

Mesmo quem elogia o ensino da escola, admite que os alunos não se empenham. Henrique Gonella, 18, se formou no ano passado na E.E. Aquilino Ribeiro. Foram alunos de sua turma que prestaram o Enem que teve o resultado por escola divulgado na quinta.

No entanto, Gonella não fez a prova. Não foi por falta de ambição, já que o jovem, que trabalha como barman no centro da cidade, se matriculou para o curso de Administração na Uninove. Para o rapaz, o Enem faz parte de uma realidade distante aos moradores do seu bairro.

“A gente não se foca em Enem. Faculdades públicas, por exemplo, estão distantes de nós. Eu mesmo não fui nem ao menos correr atrás de uma bolsa de estudo. Acho isso tudo uma ilusão”, desabafou. Mesmo assim, Gonella elogiou a escola e se mostrou surpreso pelo mau desempenho no Enem.

A mesma opinião tem a professora de Química Eliane Barbosa. Para ela, o ensino é bom. Ou, pelo menos, não é diferente daquilo que é apresentado por outras escolas públicas de São Paulo. A escola é bem estruturada e limpa. Mas os alunos não se empenham o suficiente.

“Eles são jovens e muito desmotivados. É difícil morar em uma região como essa. Eles não veem a faculdade como um futuro viável para a vida deles”, explicou.

Uma funcionária da direção da escola que não quis se identificar admitiu que os professores não conseguem terminar o conteúdo programado para o ano letivo. “O Enem está fora da nossa realidade. Aliás, o que ensinamos aqui não cai nessa prova”, disse.

Carência

A última colocação da E.E. Aquilino Ribeiro entre todas as escolas paulistanas é algo que envergonha uma região carente da ação do poder público, segundo o líder comunitário Sá.

“Aqui em Guaianases falta tudo. Moradia, saneamento básico e educação de qualidade são problemas sérios. A alguns quarteirões daqui, 130 famílias moram em uma área de risco. Em outro canto do bairro, famílias sofrem com enchente toda vez que chove por causa de um córrego mal canalizado. Todo esse pessoal tem criança estudando na escola aqui do bairro”, explicou.

Outro lado

Procurada pelo UOL, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo afirma que não é possível mapear quais foram os alunos que participaram do exame, se eram concluintes do ensino médio ou não.

Em relação à reclamação dos pais e alunos quanto à falta de professores, a secretaria afirma que o quadro docente da escola está completo, com faltas pontuais. Além disso, a instituição conta com três instituições eventuais. A secretaria afirma ainda que a diretora da unidade está há dez anos no cargo e que não há reclamações de pais sobre sua atuação na diretoria de ensino.

Segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas), não há possibilidade de estar na conta alunos de outros anos que tenham feito o Enem como treineiros, já que as planilhas consideram, somente, os estudantes concluintes.